Progressão lunar e Kabbalah:
a evolução da consciência através
do ciclo da Lua

Autor: Carlos Hollanda
Editora Elevação - 390 páginas - 1999

Introdução ao ciclo progredido

"Deixemos passar, Sancho, esta má influência das estrelas."
Dom Quixote - Miguel Cervantes

Certezas. Algumas pessoas acreditam que seria ótimo se na vida tivéssemos certezas absolutas quanto às pessoas ou ao futuro. Desesperam-se quando se deparam com o caráter mutável da vida ou das pessoas que nos rodeiam. Outras preferem deixar-se levar pelas marés da existência evitando ao máximo ter qualquer tipo de consciência das possibilidades, dizendo estar "entregando seu destino a Deus". Dentro desta segunda categoria, enquadram-se também aqueles que se refugiam num intelectualismo fútil, buscando provar que "tudo não passa de coincidência".

Uma outra classe de pessoas prefere esperar a "surpresa" ao invés de "saber" o futuro. Costumam dizer que a vida ficaria sem emoção se soubéssemos o que aconteceria. Esta afirmação não deixa de ter sua lógica. Contudo, o estudo da Astrologia não preconiza o conhecimento pormenorizado daquilo que irá acontecer. O astrólogo sabe muito bem que o que esta arte-ciência oferece é uma visão das possibilidades; tendências de comportamento e de experiências. Gosto de acrescentar que também se parece com o momento em que, no topo de uma montanha, visualisamos toda a cidade abaixo e compreendemos sua estrutura, mas sem conhecermos os pormenores logo de imediato. A utilidade disto tudo é a mesma do mapeamento cartográfico: orientação e facilitação.

Pegue um mapa do Brasil e localize o estado do Rio de Janeiro. Depois disso, encontre uma parte ampliada relativa a este estado. Muito bem, a noção que se tem agora é muito maior e mais esclarecedora. Passamos a conhecer as cidades de norte a sul deste estado, mas apenas na sua localização, não nos seus pormenores, que surgem apenas à medida em que aprofundamos a imagem. Assim é o trabalho do astrólogo. Conhecemos os arquétipos e suas combinações - numa analogia com o citado mapa do Brasil - mas, ao estudar o mapa astrológico individual - o mapa do estado ampliado -, a noção se expande, sintetiza-se e focaliza-se ao mesmo tempo na unidade/pessoa estudada. Passamos a conhecer os motivos interiores deste ser assim como alguém que olha para a cidade de cima de uma montanha, mas que, ao mesmo tempo, está "lá embaixo" vivenciando os detalhes dos acontecimentos. É como estarmos em dois lugares ao mesmo tempo. Por isso, podemos orientar o indivíduo (e a nós mesmos) para os caminhos melhores que ele não pode ver, uma vez que está em meio às "ruelas" de seus problemas e convicções.

Entre as certezas e incertezas da existência, há um padrão para os acontecimentos, embora este padrão se manifeste de formas variadas e em períodos cíclicos. Tudo o que nos acontece possui uma correspondência cósmica. Há um fluxo inexorável de vibrações indo e vindo constantemente e nele estamos inseridos. Quando um menino quebra uma vidraça acidentalmente com uma bola de futebol, ele está alterando a realidade tanto quanto as decisões de um empresário. Tudo numa reação em cadeia. Isto exemplifica o quanto estamos ligados a tudo e a todos, pois cada ato, cada pensamento, pode mudar todo o planeta, não importando quem sejamos ou o que estamos fazendo.

A Mecânica de Newton faz referência à lei de Ação e Reação, que nada mais é que a famosa "Lei do Carma", que podemos chamar também de Lei do Retorno. Tudo o que se faz ou pensa possui um ciclo de manifestação e, como todo ciclo, volta ao ponto de origem. Isto é um fato. A concepção holística da vida não admite a existência do Bem e do Mal como um código de moralidade e a falta deste código. Uma alegoria para o conceito de "Mal" seria um afastamento da fonte divina, a ignorância de ser proveniente dela. É preciso entender essa relação como equilíbrio e desequilíbrio (relações do carma), todos os dois necessários, uma vez que o "bem" - aquilo que comumente se acredita que seja "bom" - quando isolado e absoluto, equivale a estagnação, e o oposto, a destruição desnecessária. Tudo é muito relativo. Portanto, se passamos por uma situação difícil, não a experimentamos porque estamos sendo castigados por uma força superior, estamos reequilibrando aquilo que desequilibramos por nossa própria conta. A conseqüência dolorosa de uma vida de bebedeira exagerada não é uma punição dos céus, é seu fígado que deve ter sido quase destruído. Se o mundo parece não tratá-lo do jeito que gostaria, a causa pode estar no tipo de comportamento/pensamento emitido ou em atos cometidos nesta mesma vida. Mude o que puder mudar e tudo muda. Não, não é nada fácil, mas não custa tentar alcançar mais compreensão.

Representamos, tanto física quanto metafisicamente, todo o Universo. Se considerarmos o que dizia Paracelso quanto à correspondência de nosso organismo aos planetas e signos do Zodíaco, também devemos levar em conta que os ciclos biológicos e psicológicos também possuem a mesma correspondência, isto é, os ciclos planetários são idênticos aos da formação de nosso corpo e psique. Não é difícil perceber a veracidade desta afirmação quando nos damos conta, por exemplo, do ciclo de Saturno e seu famoso "Retorno". Saturno leva cerca de 28/29 anos para totalizar seu trajeto na eclíptica. Muito já foi dito, escrito e até cantado sobre esta época de nossa vida, quando passamos por um período de ajuste dentro das próprias limitações. Quando vivenciamos o Retorno de Saturno, em geral tomamos consciência do quanto fomos condicionados socialmente e do quanto livres estamos e podemos ser no contexto de nossa vida. É um período de aceitação do destino, de aprender a aceitar nosso ego como ele é e as nossas necessidades e sentimentos como reais e vitais. Ali, é possível haver uma crise, quando o indivíduo sente que sua vida ainda não está sobre bases estruturadas ou quando percebe o quanto está insatisfeito com os limites atuais auto-impostos.

Também pode haver, por outro lado, uma sensação tão soberba de livre-arbítrio, que o indivíduo precisa parar para estabelecer um novo ritmo em sua vida. As restrições do passado dão lugar a uma verdadeira atitude adulta, independente das opiniões alheias. É por isso que, na maioria dos casos, as decisões desta fase são tão difíceis. Toda a nossa psique e nosso corpo terminaram o trabalho de estruturação e estabilização, dando início a um processo de atividades cuja responsabilidade é exclusiva do indivíduo. Quanto mais nos entregamos ao medo e à estagnação, maior a pressão, pois somos absolutamente donos de nossos destinos e de nosso futuro. Não quer dizer que esta consciência não surja anteriormente, mas somente em casos raros, pelo menos nos dias de hoje, vemos alguém de idade inferior tomar as rédeas da própria vida estando consciente disso. As pessoas que não têm coragem de encarar a própria individualidade, durante esta fase continuam a se deixar levar pelos esquemas saturninos de condicionamento, não possuem uma vida criativa e preferem ser amparadas ou deixar as decisões para os governantes, os pais ou qualquer autoridade.

Poderíamos fazer um compêndio imenso de informações sobre Saturno e seu movimento cíclico, mas não é nosso objetivo nesta obra. Este ciclo foi citado apenas para demonstrar as relação entre um movimento cósmico e a vida do ser humano. Aqui, trataremos, na maior parte, do movimento da Lua e seus aspectos com os planetas dentro da técnica conhecida como Progressão Secundária, técnica esta muito pouco explorada pelos autores e editores no campo da Astrologia. Também, para aqueles que lidam com o mapa progredido a um grau por ano (a chamada progressão simbólica), este livro pode ser muito revelador. Com isso, visamos acrescentar este excelente método de interpretação aos tão conhecidos, e não menos eficientes, trânsitos e revoluções solares, direções primárias, evolutivos etc. Por outro lado, procurei dispor estas técnicas (Trânsitos e Progressões) numa análise paralela à de alguns eventos cíclicos da vida de algumas pessoas famosas, para que o leitor tenha uma idéia de como se aplicam, além de proporcionar subsídios para estudos posteriores.

Em aulas, palestras e em conversações com outros astrólogos, percebi que havia uma procura muito grande por uma literatura mais completa acerca da interpretação dos ciclos de forma mais sintética, ou seja, considerando, além dos planetas aspectados, suas posições por casa e por signo, o que implica entender a posição da Lua também por signo e casa em seu ciclo progredido. Daí a necessidade de uma interpretação conjunta de progressões e trânsitos para complementar o trabalho. Aqui, portanto, apresento um recurso a mais para definir melhor as situações cíclicas pelas quais passamos: as fases dos aspectos (crescente e minguante). Procurei, da mesma forma, observar o significado destes aspectos à luz da Kabbalah.

Como meu trabalho se baseia especialmente na síntese entre estas técnicas, além dos processos intuitivos que todos nesta área desenvolvem, achei por bem passar adiante, na medida das possibilidades e limitações da palavra escrita, o modo como procuro orientar a meus clientes e eventuais alunos realmente interessados na prática da Astrologia. Não obstante, permanece a questão do contato pessoal para o aprendizado total - que, na verdade nunca é completo, pois neste campo somos eternamente neófitos. É preciso haver a troca de energias, o exemplo vivo durante os encontros ou aulas, para que as mentes sejam tocadas pelo significado do arquétipo de cada um. Não adianta fazer da Astrologia uma "receita de bolo" para solucionar um problema. A vivência e o pensamento holístico são muito importantes. Não se podem verificar os ciclos separadamente, pois um bom conteúdo só pode ser encontrado pela síntese, pela fusão, vivendo-o, experimentando-o e participando do processo criativo da vida.

Penso neste livro como uma forma de auxiliar o processo de raciocínio/intuição do astrólogo profissional (uma referência detalhada), estudante (um guia de aconselhamento) ou curioso (revelações sobre a natureza humana), para que estes cheguem a conclusões cada vez mais capazes de trazer uma compreensão que ilumine e favoreça o crescimento individual e coletivo. Procurei não ser tão hermético a respeito dos símbolos, sobretudo os kabbalísticos, de forma que a maior quantidade possível de pessoas possa alcançar a mensagem aqui contida. É uma tarefa difícil, eu sei, até pelo fato de o simbolismo da Kabbalah ser altamente complexo e simples ao mesmo tempo, mas embora seja uma obra dedicada àqueles que já possuam uma certa familiaridade com a Astrologia, espero que não apenas uma elite tenha acesso a este trabalho. Ele é para todos os que buscam. Não é preciso ser um astrólogo profissional nem sacerdote para tentar compreender o próximo e ter uma noção da divindade, seja qual for o nome ou a religião.

O simples conhecimento das leis cíclicas e dos arquétipos auxilia a cada um o alcance do entendimento e da harmonia mútua. Como seria bom se as pessoas, antes que entrassem em conflito, tivessem consciência do que cada um está passando interna ou externamente naquele dado momento! O objetivo disto tudo é o respeito pelas limitações e dons de cada ser humano. A Astrologia, antes de ser preditiva, é uma filosofia de vida, uma maneira de estar em paz consigo mesmo e com o mundo, compreendendo as causas primordiais (divinas) dos acontecimentos e comportamentos.

Collor e as progressões da Lua

Nascimento: 12 de agosto de 1949, às 04:00 A.M., Rio de Janeiro, RJ.

Alguns eventos importantes associados à progressão da Lua:

1) Lua progredida em sextil com Marte na casa 1 e em Câncer, de 25/08/89 a 01/12/89 - época da eleição para presidente na qual ele foi vitorioso.

2) Em 15 de março de 1990, é empossado. O evento coincide com a progressão da Lua em conjunção com Vênus na casa 3 e em Virgem, de 06/02 a 14/05, sendo a data exata 27/03.

3) Em pesquisa feita em conjunto com o astrólogo Paulo Duboc, verificou-se a ocorrência do aspecto menor septil (51°25'44") entre a Lua progredida e Saturno de nascimento na casa 2 e em Virgem. A data exata do aspecto foi 27/09/92, sendo todo o mês de setembro tensionado pela dinâmica desse símbolo que, segundo astrólogos como Dane Rudhyar, revela-se como uma espécie de fatalidade. Este aspecto não é estudado na presente obra, mas seria tolice não considerá-lo, uma vez que foi exatamente no mês de setembro de 92 que Collor foi afastado do governo, mais precisamente no dia 29.

4) Agora, considerando a Lua progredida em quincunce com a Lua natal, temos o ciclo de aproximadamente um mês, começando no dia 24 de setembro (também muito próximo do dia do afastamento), bem de acordo com o simbolismo de reajustes, mortes e renascimentos, coincidindo com seu impeachment.

Antes disso, a Lua já havia feito uma quadratura com Júpiter na casa 7 e em Capricórnio e uma oposição com o Meio do Céu, de maio a agosto. Como sabemos, a sétima casa é a dos "inimigos declarados", e isso foi o que mais se presenciou na vida do ex-presidente.

5) Os aspectos da Lua progredida que decididamente demonstraram a caminhada para a queda de Collor um ano antes (juntamente com os trânsitos, que também simbolizavam fortemente a fase) foram os seguintes:

a) Quadratura com Urano, na casa 12 e em Câncer - de 16/12/90 a 16/04/91.
b) Quadratura com o Ascendente - de 12/06/91 a 10/10/91.
c) Quadratura com Marte, na casa 1 e em Câncer - de 09/08/91 a 08/12/91.
d) Conjunção com Netuno, na casa 3 e em Libra - de 14/08/91 a 19/11/91.

Collor, embora estivesse passando por um ciclo bastante favorável em vários aspectos ao ser eleito e ao receber a faixa presidencial, vinha, simultaneamente, passando pela oposição de Netuno a Marte durante todo o ano de 1990. Nesse ínterim, assinou o decreto que confiscou as cadernetas de poupança acima de 50 mil cruzeiros.

Antes mesmo de ser eleito, durante sua campanha, em 89, pode não ter sido avisado ou até pode ter acreditado ser imune às investidas de inimizades ocultas. Havia a quadratura de Saturno com Netuno e a oposição de Saturno com Marte. Para o segundo aspecto, era natural ocorrerem as oposições e competições, em vista das eleições, mas quanto ao primeiro, o problema ocorreu subrepticiamente e entre os próprios partidários e/ou "aliados" do então candidato.

Ele não deveria sofrer necessariamente uma queda tão desastrosa, mas agiu quase totalmente de acordo com os arquétipos que assim indicavam. De uma forma ou de outra, o ex-presidente funcionou como o estopim das mudanças que o Brasil estava na iminência de processar. De uma certa maneira, seu carma pessoal estava vinculado a essa movimentação coletiva. Todavia este carma poderia muito bem ser cumprido (como lei de equilíbrio) sem os excessos que caracterizaram todo o "quase" mandato. Collor teve pouca consciência de seu próprio livre-arbítrio.

Leia outros textos de Carlos Hollanda.

Atalhos de Constelar 83 - maio/2005

Marte e Vênus ao volante - Áries e Touro | Gêmeos a Libra | Escorpião a Peixes | A teoria na prática é outra | Localize seu Marte e Vênus |
As fogueiras da intolerância |
Bento XVI pode ser Torquemada? | Torquemada e Savonarola |
Prelo | Progressão Lunar e Kabbalah | Introdução ao ciclo progredido |
Rio Constelar | Cursos Maio-Junho | Astroletiva | Programação de cursos online de maio |


Anterior | Próxima | Sumário desta edição | Índices

© 1998-2005 Terra do Juremá Comunicação Ltda.