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ELEIÇÕES 2004

Eleitores frios e de pavio curto

Fernando Fernandes

 

O mapa do horário do início das eleições municipais de 2004 dá pistas sobre o estado de espírito do eleitorado. E uma característica que se repetirá no Rio, em São Paulo, em Porto Alegre e em Belo Horizonte é o imediatismo das motivações de escolha.

No dia 3 de outubro de 2004, às 8h da manhã, iniciam-se as eleições para prefeito e vereadores em todo o país. Para entender a tônica deste processo eleitoral, o mapa levantado para o momento da abertura dos trabalhos constitui um bom ponto de partida, já que expressa a dinâmica daquele momento e mostra suas tendências gerais. Salvo em cidades que adotem um esquema especial de eleições, em todo o país Escorpião estará no Ascendente da carta do início do pleito. A distribuição das casas varia de acordo com as coordenadas geográficas de cada localidade, mas na maior parte do Brasil - especialmente nas maiores capitais - Plutão estará na casa 1, reforçando o sentido escorpiano desta eleição. Por outro lado, a presença de Plutão, regente moderno de Escorpião, em Sagitário dá a Júpiter, regente deste signo, um papel também relevante no momento da escolha dos futuros representantes municipais. Como Júpiter está em Libra em conjunção com Marte, e como Marte é o regente clássico de Escorpião, eis aí outro contato entre o signo da transformação (Escorpião) e o da legalidade (Sagitário).

Marte é o planeta do fazer, enquanto Júpiter rege o crescimento, a expansão, o entusiasmo. Em Libra, ambos tendem a expressar o sentido caloroso desta conjunção no âmbito de alguma forma de compromisso social ou de acordo entre forças divergentes. Em Libra, Marte está em exílio, o que significa dizer: não pode agir espontaneamente, de acordo com sua natureza essencial, mas precisa submeter-se às condições impostas pelo signo ocupado - mais ou menos como um hóspede se sente constrangido a agir de acordo com os costumes do dono da casa.

Este Marte em exílio, em conjunção com Júpiter, planeta da legalidade, fala claramente da importância das alianças para quem pretende sair vitorioso nesta eleição. Nas principais cidades brasileiras - e aqui utilizaremos como referência o mapa calculado para São Paulo, maior colégio eleitoral do país - o mapa da eleição mostra Marte e Júpiter exatamente na casa 11, dos partidos políticos e dos projetos ideológicos. Aqui está, portanto, o primeiro ponto: leva vantagem quem estruturar boas alianças, especialmente com vistas ao segundo turno. Mais ainda: ganha não quem tenha necessariamente mais votos no primeiro turno (a não ser em alguns poucos casos isolados), mas sim quem tenha o menor índice de rejeição no segundo.

Início das eleições 2004 - 3.10.2004, 8h - São Paulo, SP - 23s32, 46w37.

Vênus, dada sua condição de regente do signo, comanda todo o stellium (concentração planetária) em Libra, onde também estão o Sol e Mercúrio, além de Marte e Júpiter. Vênus está na casa 10, no último grau de Leão, em conjunção com a estrela Regulus, considerada na antiguidade um símbolo de elevação e realeza. A casa 10 é a do governante, enquanto Leão é um signo associado à estabilização do poder. Tudo isso poderia apontar uma clara vantagem dos candidatos situacionistas, ou daqueles que já tenham uma identificação natural com o poder - e efetivamente tal vantagem existe - mas há um pequeno ponto a considerar: Vênus está em oposição a Urano, planeta do imprevisível e dos processos rápidos. Urano neste mapa rege a casa 4, significadora do povo comum e também dos grupos oposicionistas.

O que tudo isso quer dizer? Vamos por partes:

1 - O eleitorado não estará com muita paciência para prestar atenção em explicações complicadas, programas de governo pouco transparentes ou promessas vazias. Candidatos assertivos, diretos, econômicos nas palavras e de boa presença na televisão levarão clara vantagem. Por "econômicos nas palavras" não queremos dizer necessariamente candidatos caladões (Vênus está no demonstrativo signo de Leão!), mas sim aqueles que "não jogam conversa fora" (Mercúrio está em conjunção com Marte em Libra).

2 - O aspecto estético será importante na decisão do eleitor. Os ungidos pelo voto popular serão, senão bonitos, pelo menos vistosos e de aparência agradável. Candidatos agressivos e mal ajambrados terão pouca chance. Nesta eleição Enéas e seus estranhos parceiros do PRONA não terão muito espaço.

3 - Acontecimentos ou revelações de última hora podem ter muita importância na decisão. O voto será decidido quase na boca da urna, inclusive podendo contrariar tendências bem sedimentadas nas pesquisas. Toda a campanha dos meses anteriores pode ir por água abaixo se o adversário descobrir um grande tema para apresentar nos últimos dias de propaganda na TV. Nesta eleição, como em poucas vezes, o eleitorado mostrará seu lado "ingrato" e de memória curta. Basta observar que Urano, além de fazer oposição a Vênus, ainda está em quadratura com a Lua em Gêmeos. Ninguém votará no candidato pelo que ele já fez, mas pelo que se acredita que ainda possa fazer.

4 - O tema da impaciência do eleitor contrasta com outro também presente no mapa, que é o de manter como está aquilo que vem funcionando direito. Basta observar o grande trígono em signos de Ar, que une Lua na 7, Netuno na 4 e os planetas em Libra na 11. É um aspecto de conciliação, que mostra canais de acordo entre as correntes políticas e os grupos de interesse existentes entre os eleitores. Parece que há um tom geral de "vamos direto ao assunto, vamos resolver logo tudo isso". Como o grande trígono é uma configuração de conservação de energia, sua presença no mapa reforça a chance dos candidatos da situação.

5 - Seis planetas estão em signos de Ar, extremamente racionais, no mapa da eleição. O voto não será decidido com o coração, mas com lógica e bom senso. Apelos emocionais fora de propósito e "barracos" entre os candidatos tendem a ser rejeitados pelo eleitor.

6 - A conjunção Vènus-Regulus na casa 10 pode ser lida também como um alerta para candidatos que entendam o processo eleitoral como uma oportunidade de desforra contra antigos desafetos. Regulus, segundo os clássicos, é uma estrela que indica sucesso condicionado à magnanimidade e ao esquecimento das ofensas.

Em resumo: os favoritos ganham se mantiverem os pés no chão, forem assertivos, não se envolverem em querelas desnecessárias e guardarem boas idéias para apresentar na reta final da campanha. Candidatos de partidos isolados, avessos a alianças, radicais, com aspecto ou discurso agressivo e que não apresentem propostas substantivas tendem a ser rejeitados. Os bons administradores, com um claro projeto para a cidade e coragem para investir numa agenda positiva levam uma brutal vantagem sobre os candidatos que insistirem em chavões do tipo "está na hora de mudar tudo isso que está aí".

As conclusões são tão óbvias que nem precisaríamos da análise astrológica para chegar a elas. Mas este é exatamente o clima que surge do mapa: uma eleição decidida por eleitores frios, que usam a cabeça e que estão extremamente impacientes.

São Paulo: Marta ou Serra?

Atalhos de Constelar 75 - setembro/2004

Eleições 2004 | Análise geral: eleitores frios e de pavio curto |
São Paulo | Serra e Marta Suplicy na gangorra | Maluf, Erundina, Paulinho e Rossi |
Rio de Janeiro | A Cesar o que é de Cesar | Crivella, Jandira, Conde e Bittar |
Curitiba | As cartas na mesa | Rubens Bueno | Bertoldi e Ângelo Vanhoni | Beto Richa |
Mais eleições | Belo Horizonte e Porto Alegre |
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