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A CRÔNICA DOS CÉUS EM JANEIRO DE 2004

Do piloto obsceno ao rombo da Parmalat

Carlos Hollanda

 

Saturno em Câncer seca o leite da Parmalat

A passagem de Saturno em Câncer vem ocorrendo simultaneamente a uma tonificação de sentimentos nacionalistas e protecionistas, o que é perfeitamente análogo à combinação do aspecto restritivo de Saturno com o princípio de fechamento em torno de semelhanças culturais e exclusão de diferentes de Câncer. Há esse potencial para o aumento do protecionismo também em países europeus, caso a situação do euro, forte em relação ao dólar, gere uma evasão de divisas. É interessante o fato de que Saturno em Câncer passa sobre o signo solar do mapa da Independência dos Estados Unidos. Junte-se a isto o fato de que Câncer rege, entre outras coisas, a produção de alimentos (juntamente com Virgem e Touro). E o país passa por uma crise no setor de produção e exportação de carne em função do "mal da vaca louca".

Convém acentuar que a passagem de Saturno em Câncer não é um indicador direto do "mal da vaca louca", embora tenha sempre vínculos com a produção de alimentos, em especial o leite e derivados (Câncer, aliás, rege os seios na mulher e a idéia de aleitamento). Disso decorre que a descoberta das monumentais fraudes e o extraordinário rombo de bilhões da companhia Parmalat, entre outros fatores, pode ser parcialmente identificado com esta passagem, já que Saturno "restringe", "seca" e "enrijece", entre outros atributos tradicionalmente apontados como suas mais claras características. E este "rombo de bilhões", na medida em que envolve investimentos de terceiros, com grandes ganhos e perdas, remete às descrições e observações habituais sobre Plutão. Contudo, a restrição, os bloqueios e o "secamento de fontes" abastecedoras é tipicamente saturnino, algo que podemos ver diretamente na situação dos produtores de leite de Minas Gerais e de várias outras partes do Brasil que foram afetados rigorosamente pelos efeitos da crise. Vale lembrar que este modo de analisar os trânsitos de planetas lentos pelos signos é algo há muito tempo praticado pelos astrólogos.

Saturno em trânsito por Câncer também vem representando, ao que tudo indica, a presença de releituras e rediscussões de conceitos referentes ao tempo e formas de pensar em sociedade. Uma época particularmente feliz, podemos estimar, para um resgate do passado e um novo olhar sobre o mesmo, o que calhou de acontecer justamente quando São Paulo comemora seus 450 anos e a mídia promove a cidade.

É interessante que essa combinação de fatores esteja ocorrendo sincronicamente às restrições diplomáticas e judiciais entre brasileiros e norte-americanos. As questões de reciprocidade jurídica, fichamento de estrangeiros e nacionalidade, bem como um incidente no aeroporto de Guarulhos provocado por um gesto obsceno de um piloto da American Airlines, tudo isso é um retrato de Júpiter em quadratura com Plutão. Some-se a isto o fechamento de fronteiras, com a cara dessa configuração ocorrendo simultaneamente à passagem de Saturno em Câncer. Júpiter, assim como Sagitário, está associado ao sistema legislativo, a contatos com culturas de localidades distantes. O momento crítico em torno desses assuntos fica por conta do aspecto de quadratura, tenso, estimulando uma atuação plutoniana, isto é, sem meias medidas, de autoridades, e alterando consideravelmente a percepção popular sobre formas diversas de divulgação.

O leitor comum mal lê. Quando muito se contenta em passar os olhos rapidamente por um texto, pulando trechos que podem ser importantes. Na maioria dos casos enxerga apenas as grandes manchetes ou aquilo que está mais à vista, abrindo caminho para más interpretações e todos os problemas causados por sectarismos e certezas absolutas. Por outro lado, os divulgadores, numa fase como esta, precisam ter certos cuidados com a forma de exposição de suas idéias, crenças e "verdades". Haja vista o problema ocorrido em dezembro de 2003 entre o Ministério da Saúde (Virgem em Astrologia Mundana pode ser associado à saúde pública) e a CNBB, a Confederação dos Bispos do Brasil (Júpiter e Sagitário vinculam-se a clérigos, a sistemas de crença - inclusive as crenças endossadas pela Ciência - e à propaganda, entre outras coisas). O Ministério criticou duramente (seria melhor dizer "virginiana e plutonianamente") a forma com que a Igreja lida com o problema da AIDS, uma vez que esta condena o uso da camisinha. A CNBB, por sua vez, revidou e houve uma troca de "gentilezas", entre os dois órgãos durante algum tempo. Ambos ainda continuam se estranhando.

O macaco na cristaleira rides again

Falando em Júpiter, estrangeiros, paranóias plutonianas, expansionismo e crenças ou certezas absolutas, que tal falarmos um pouco de nosso caubói "predileto"?

(A imagem ao lado é da edição 50 de Constelar, lembra?)

Para piorar um pouco as coisas, o Nero de plantão, Bush Jr., tem Marte em trânsito entrando em sua casa 10 neste final de janeiro de 2004, com data exata marcada para o dia 25, mas com órbita de entrada estimada para dia 22 [*]. Ali Marte lançará suas faíscas durante cerca de dois meses, até 27 de março, quando adentrará a casa 11. É uma posição angular do mapa do presidente da maior superpotência mundial. Sabendo que Bush é bastante dado a um temperamento arrogante, egótico e fanfarrão, típico dos traços de um Áries enfático (a sombra - nos termos junguianos - de Áries e Marte no Meio do Céu). Se combinarmos tudo isso com seus traços leoninos (Bush tem Leão no Ascendente), há um potencial para que ele surja novamente no cenário mundial promovendo bravatas e fazendo ameaças.

[*] Nota de Constelar: este artigo foi escrito por Carlos Hollanda em 16.01.2004.

Entretanto, há um lado positivo (?) nisso tudo, que reitera o que venho observando a respeito de órbitas de aspectos em trânsito há vários anos: a simples proximidade de Marte em trânsito com o Meio do Céu de Bush já foi suficiente para o estímulo governamental a uma nova fase de exploração espacial. E qual o objetivo que o presidente americano e os figurões da NASA têm em mente? Nada menos do que Marte. E se o Meio do Céu indica o epíteto que recebemos, ou uma imagem com a qual o coletivo, em algum nível, associa a cada indivíduo em função de suas obras e comportamentos, a de Bush será um retrato perfeito do símbolo que estará cruzando o ponto mais elevado de sua carta natal: o deus greco-romano da guerra. Talvez devamos esperar alguns atropelos a mais do trator (descontrolado?) que está nas mãos do presidente norte-americano.

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