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Gente de Astrologia é uma revista eletrônica argentina publicada continuamente desde 1995. Seu site, no ar há quase sete anos, tem um rico e variado acervo de artigos de astrólogos de língua espanhola. A partir desta edição Constelar estará iniciando um intercâmbio regular com Gente de Astrologia, que inclui a tradução dos artigos de maior interesse para leitores de língua portuguesa.

 
 

O ócio, um esquecido direito humano

Silvia Ceres

 

Como se comporta o eixo VI-XII do ponto de vista dos elementos?

Se uma criança apresenta Água na casa VI, ou seja, uma adaptação mais ou menos passiva às demandas de um mundo que faz para ela o papel de recipiente, sua XII está em signo de Terra: ela descansa quando define sua forma interna.

Inversamente, se age disciplinadamente na dimensão objetiva (Terra), necessita navegar para encontrar-se internamente com seu próprio desejo (Água).

Se a casa VI está em Fogo e funciona como pura ação no mundo, seu ócio é dispor de um espaço de reflexão (Ar).

Quando o eixo se inverte, essa criança racional da casa VI necessita colocar ação na XII para conectar-se com suas vivências.

A Lua

Descreve uma atitude fundamental frente à vida na medida em que concede segurança interior e uma imagem pessoal com a qual nos identificamos. É o lugar de refúgio e conforto íntimo. Ali nos sentimos protegidos, apoiados, nutridos. Apresenta-se como um mecanismo seletor que funciona por aceitação e rejeição. Possibilita que nos sintamos nutridos por estarmos conosco mesmos, como estivemos idealmente com a mãe: cuidados, protegidos e sem obrigações, porque éramos pequenos e os outros tomariam conta de nós.

Mal configurada no tema natal, provoca sentimentos de solidão, de constrangimento, como se não houvesse no mundo um lugar para si. Tenta neutralizar a sensação de incômodo justificando sua vida em função daquilo que produz, e não de quem essencialmente é nem de por que é.

Assim, a Lua concede ou nega a facilidade para que relaxemos, para que nos refugiemos em nós mesmos, para que busquemos nutrição. Por isso converte-se num dos fatores relacionados com o ócio.

Sua colocação por elemento define diferentes perfis de ociosidade.

FOGO: Buscará desafios auto-afirmativos, como as competições desportivas.

TERRA: Necessita, por sua atitude industriosa, que o ócio se objetive. Podem ser boas opcões algum trabalho artesanal, a jardinagem ou a culinária de quitutes.

AR: seus criativos momentos de ócio podem estar, por um lado, na vida social, ou, por outro lado, em armar um quebra-cabeças, resolver palavras cruzadas ou perder-se em uma leitura envolvente.

ÁGUA: é a Lua que menos necessita de estímulos exteriores para conectar-se com seu ócio, já que tem facilidade para perder-se, solitária, nos labirintos da imaginação. Só necessita dispor de um pequeno espaço, de meia dúzia de apetrechos para armar o personagem e de um espelho para ver suas representações.

O Nodo Sul

Mostra, em sua posição por signo, mecanismos intensamente dominados e conhecidos. Puiggros, em seu texto sobre o tema, menciona ocasionalmente a função de refúgio e descanso que o nodo negativo exerce, lugar no qual aconselha que recarreguemos as pilhas quando sentirmos que o mundo nos esgota com suas exigências.

Então, se pensamos o ócio como essa profunda necessidade humana de visitar-se a si mesmo, a casa XII, a Lua e o Nodo sul são três cenários privilegiados para conectar-nos, como diz Thierry Paquot "...com essa deliciosa preguiça de observar como o tempo desfia suas partículas de instantes, essa estetização de nossa estadia terrestre".

Casualmente, a Astrologia atual, como parte de uma tradição cultural sintetizada na afirmação "o tempo é dinheiro", trata esses três lugares como perigosos, o que nos deixa numa posição cômoda que nos impede de "evoluir", como se a vida fosse uma espécie de carreira profissional onde alguém entra como aprendiz e, se faz tudo certinho, isto é, se trabalha sem pausa para respirar, acaba como gerente. Entretanto este é o tema de outro trabalho sobre como o astrólogo funciona como porta-voz, na maioria das vezes inconsciente, de valores de um sistema com o qual sequer sabe que está comprometido...

Encerrando, para aqueles que se dedicam a desenvolver a Astrologia infantil, diariamente nos defrontamos com crianças manifestando sintomas graves de estresse ou um assustador nível de violência como único meio de impor seu desejo, qual seja, tornar-se sujeito e sair do papel de objeto dominado pelos desejos alheios. Na verdade, nós, astrólogos, não observamos nada diferente do que observa qualquer adulto. A diferença é que nos pedem opiniões, e devemos decidir se apostamos na agudização da alienação ou na abertura de uma janela para o ócio.

Saiba mais sobre Silvia Ceres.

Este texto foi publicado originalmente na revista eletrônica argentina Gente de Astrologia e traduzido por Fernando Fernandes.


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