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Gente de Astrologia é uma revista eletrônica argentina publicada continuamente desde 1995. Seu site, no ar há quase sete anos, tem um rico e variado acervo de artigos de astrólogos de língua espanhola. A partir desta edição Constelar estará iniciando um intercâmbio regular com Gente de Astrologia, que inclui a tradução dos artigos de maior interesse para leitores de língua portuguesa.

 
 

O ócio, um esquecido direito humano

Silvia Ceres

 

A literatura astrológica ignora por completo o tema do ócio e sua importância como pré-requisito para o enriquecimento da vida interior. Silvia Ceres, neste trabalho apresentado no XVIII Congresso Ibérico de Astrologia (Madri, 2001), aponta o grande drama da criança de hoje - a síndrome da agenda lotada - e destaca alguns antídotos: a vivência adequada da casa XII, da Lua e do Nodo Sul.

Astrologia infantil: a função do ócio

Há aproximadamente 15 anos venho dedicando parte do trabalho de consulta às cartas natais de crianças, e é interessante observar como foi mudando o discurso dos pais ao solicitar o estudo astrológico de seus filhos.

Pelo início dos anos 80, na transição da ditadura militar para o governo civil, havia uma preocupação de como educar as crianças para que fossem mais felizes. Logo já se discutiam quais eram os esportes ou as atividades extra-escolares (música, idiomas, artes plásticas) adequadas, mas sempre com vistas a um certo estado de plenitude pessoal da criança. Um pouco depois começaram os pedidos de conselho sobre a escolha de colégios, e aqui já se observava um deslocamento no discurso: há alguns anos anos perguntava-se basicamente pela estrutura curricular, mais tarde pelo nível de exigência acadêmica.

Entretanto, as causas de consulta atuais se concentram especialmente em temas ligados à saúde: colesterol, pressão arterial, perturbações do sono e da alimentação, alterações de conduta, atitudes bipolares de excitação seguida por desinteresse e depressão etc. Resumindo, poderíamos dizer que os pais consultam sobre o estresse de seus filhos, gerado pela hiperatividade e pelas exigências que pesam sobre eles; ou ainda por situações de violência que se tornam inadministráveis para os adultos.

Como bem observa Ismael Gil em seu artigo A geração da chave e da mochila (Mercurio 3 Nº 29, 3º trimestre de 2000), os filhos de Plutão em Virgem padecem, entre outras coisas, da síndrome da agenda lotada.

Paradoxo de nossos dias: enquanto se promovem campanhas contra empresas multinacionais que utilizam mão-de-obra infantil em suas fábricas do Extremo-Oriente, os filhos das classes mais favorecidas trabalham arduamente para treinar sua futura sobrevivência num mundo hipercompetitivo.

Observando da perspectiva astrológica: rotina sobrecarregada de obrigações, horários a cumprir, tarefas disciplinadas e regulamentadas por outros (até mesmo aquelas supostamente recreativas e que sempre têm um coordenador dizendo como e quando é necessário divertir-se), sintomas de enfermidades físicas resultantes da alimentação ou de hábitos sedentários, como o colesterol ou a obesidade infantil, tudo isso define uma exagerada manifestação de temáticas de casa VI.

Qual é a enorme carência das crianças desta geração? A possibilidade de desfrutarem o ócio, tema que merece pouca atenção entre os profissionais da saúde e que não recebe nenhuma menção na bibliografia astrológica.

Proponho então desenvolver o tema do ócio como assunto que merece um enquadramento teórico adequado, para a seguir rastrear seus indicadores astrológicos.

Algumas ociosas reflexões sobre a preguiça

O que queremos dizer com a palavra ócio? Em princípio, falamos de dispor de um tempo isento de obrigações (estudantis, laborais, familiares), e cuja forma de desfrute é decidida livremente pelo indivíduo. Ter o controle de um certo quantum de tempo e resolver o que fazer com ele é hoje uma das situações mais raras da vida infantil.

Em vez de jogar bola com os coleguinhas, o menino vai à escola de futebol: horário, regulamentos, treinamento, competição. Em vez de recriar sua realidade através do jogo criativo, vai à escolinha de artes plásticas onde deve enquadrar sua imaginação aos critérios que o professor estabelece. Em vez de investigar com curiosidade o ambiente em volta, freqüenta a aula de ciências que lhe diz como questionar o mundo. E se é seu aniversário ou o de um amiguinho, aparecerá uma senhorita para dizer-lhes como devem divertir-se.

Deixando de lado a chamada indústria do ócio - videogames, turismo, empresas de entretenimento, filmes etc. - está evidente que a infância pouco sabe do ócio, e sim muito do negócio (etimologicamente, a negação do ócio).

Como se desenvolveu, ao longo dos séculos no ocidente cristão, este raro entrechoque da preguiça, um dos sete pecados capitais, com a maldição bíblica do "ganharás o pão com o suor do teu rosto", isto é, com trabalho (do latim trepalium, que era o nome de um instrumento de tortura)? Como podemos notar, salta-se do caldeirão e cai-se direto no fogo (do inferno?).

O ócio, idealizado na antiga Grécia como atitude necessária para alguém elevar-se às formas superiores do conhecimento, carecerá de espaço significativo no pensamento pragmático dos romanos, mas voltará à ordem do dia no século XIII, quando ganhará corpo o conceito de a preguiça como "mãe de todos os vícios". Com o protestantismo, a ideologia do trabalho como valor supremo se solidifica ainda mais, construindo-se certa sinonímia entre ócio, vício e pobreza e, por outro lado, entre laboriosidade, virtude e riqueza.

E, salvo algumas vozes solitárias, como a de Paul Lafargue, que em 1880 escreveu O direito à preguiça, quase nada se teorizou sobre o assunto.

Resumindo: o ócio não é desperdiçar tempo, mas ter tempo para si, para o que se deseja; não é tempo livre - no sentido de ainda não usado - mas sim o tempo que conseguimos liberar das ocupações. O grau de liberdade pode medir-se por nosso deambular pessoal, em que nos encontramos e nos perdemos de nós mesmos à revelia de qualquer consideração utilitária.

Como antítese de que "o tempo é dinheiro", podemos afirmar que o tempo é um valor sem preço na medida em que pudermos dispor dele do jeito que nos der na telha.

O "ócio astrológico"
Como se comporta o eixo VI-XII do ponto de vista dos elementos?


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