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PREVISÕES 2003

Cão feroz em NY e Bungula sobre Brasília

Carlos Hollanda

 

Em 25 de outubro de 2002, Carlos Hollanda foi um dos debatedores, junto com Fernando Fernandes e Vanessa Tuleski, de um evento que explorava as possibilidades para o Brasil e o mundo depois das eleições. O objetivo principal não era dizer quem ganharia o pleito, pois a vitória de Lula já era dada como certa por analistas de todos os institutos de pesquisa. A proposta era, antes de tudo, reunir enfoques diferentes, utilizando técnicas e percepções distintas, para identificar padrões que podem desembocar num total rearranjo das relações mundiais.

Neste debate, fiquei com a introdução, que continha uma análise sobre o Retorno Solar do Brasil e uma visão sobre o mapa do ingresso do Sol no signo de Áries para 2003 em diversas latitudes. Como a platéia era composta tanto de astrólogos quanto de pessoas que não estavam habituadas ao jargão, optamos por exemplificar com cuidado aquilo que apresentávamos. Houve também comentários sobre ciclos no mapa dos EUA e sobre os candidatos, com ênfase nas controvérsias acerca da data e do horário de nascimento de Luis Inácio Lula da Silva. Vanessa Tuleski, entre outras coisas, detalhou as relações dos mapas dos candidatos com as expectativas do povo brasileiro e Fernando Fernandes esboçou a saga histórica do Brasil diante de tendências mundiais, desembocando na caracterização de um país acolhedor de povos em crise.

Tínhamos programado tópicos como o Retorno Solar do Brasil, com Marte na casa 1 e o aspecto beligerante e individualista na postura nacional; pretendíamos falar também do Brasil frente à Alca e questões de soberania, assim como de George Bush, os Estados Unidos e o planeta Marte: como a guerra pode afetar a vida aqui nos trópicos?

Antes de começarmos, porém, uma pessoa da platéia pediu a palavra, lembrando o fato de que o Brasil completara 180 anos em 2002 desde a Independência. Este comentário permitiu um início mais adequado ao nosso assunto. Apesar de suas escusas referindo-se à própria pergunta como uma interferência, o espectador acabou por dar-nos a oportunidade de iniciarmos uma exposição mais clara.

Esses 180 anos mostram, ao usarmos a técnica de Arco Solar e a de Direções Simbólicas, com o passo de um grau a cada ano para todos os planetas, que todos os planetas realizam um aspecto de oposição com suas posições originais. Notem que, quando tratamos da data da Independência, estamos assumindo uma posição arbitrária que nos permite identificar um fato fundador sobre o qual podemos aplicar nossa capacidade de análise. Ainda naquele momento, o Brasil como nação não existia. A Proclamação da Independência representa a instituição de um Estado Brasileiro, mas não a formação de uma nação propriamente dita. Esta foi acontecendo gradativamente, ao longo da segunda metade do século XIX, e culminou na Proclamação da República, quando toda uma identidade brasileira (ênfase no grifo) estava se apresentando nas artes, na literatura etc. No caso do Brasil o Estado precede a Nação, o que configura uma relação entre o simbolismo de Capricórnio (o Estado e a legitimação do poder jurídico) e o de Câncer (a coesão da coletividade em torno de costumes, tradições, legados e identificação com posturas precursoras).

Mapa interno: Independência do Brasil. Mapa externo: arcos solares para 7 de setembro de 2002. Todos os planetas estão em oposição a si próprios. As setas indicam as oposições de Sol, Lua e Marte dirigidos em relação a Sol, Lua e Marte radicais.

De fato, a data da Independência como um momento crucial capaz de fornecer dados relevantes para estudos astrológicos pode ser tão importante quanto a da Proclamação da República e quanto a data do Descobrimento (acreditem, usar este mapa funciona!). É preciso, no entanto, contextualizar o discurso oriundo da combinação dos símbolos e descontar o fato de que o Brasil como unidade política e cultural só ocorre no século XIX.

Mas o que isso tem a ver com o aspecto de oposição? Em relação ao momento da Independência, absolutamente tudo. O que foi a Independência senão um processo cujas pressões políticas internas levaram a uma desidentificação com a Coroa Portuguesa? O Brasil passou a identificar-se muito mais pelo que não era, pois simplesmente não havia como dizer o que era. Era preciso, portanto, encontrar as diferenças antes de haver um sentimento genuíno de pertencimento à terra. Antes daquele fato fundador e antes do processo de formação da identidade nacional o Brasil simplesmente não existia, não era um país, mas uma extensão de terras portuguesas, terras estas não enobrecidas pela tradição européia. A Colônia só passou a ter importância relativa quando a Família Real Portuguesa aqui chegou no "Quinto dos Infernos", segundo dizia Carlota Joaquina.

O sentido daquela expressão pejorativa não era exclusividade da rainha, pois para o europeu as colônias das Américas eram locais primitivos onde não se podia fazer valer com tanta eficiência a estratificação social imperante na Metrópole. Esse costume, cultivado por alguns séculos, resultou num comportamento autocrítico e submisso. Característica comum de quem pouco consegue enxergar o próprio valor, acentuando as virtudes daquilo que vem de fora e minimizando as próprias realizações.Baixa auto-estima e identidade aviltada por uma visão ridicularizada de si mesmo, valorizando marcas e nomes que enrolam a língua e menosprezando a boa qualidade do vizinho. Coisa muito freqüente em muitos brasileiros até bem pouco tempo. Algo bastante condizente, aliás, com o arquétipo de Virgem, marcado pela data de 7 de setembro. "Até bem pouco tempo" é a expressão correta, pois desde cerca de dois anos para cá o ângulo de 180 graus se faz atuante. Ora o que é uma oposição, em Astrologia, senão um grande potencial para a autopercepção através da diferenciação daquilo que se vê no outro? Se estivéssemos falando do mapa de um indivíduo teríamos uma visão dos contrastes que o fariam perceber quem e o que ele é. Disso decorreria uma necessidade de acordo, de estabelecimento de limites para a postura do outro, pois do contrário o espaço ocupado pelo outro impediria possibilidades de crescimento do indivíduo em questão. Mas estamos falando de uma entidade coletiva. Isso se aplica? Sim, não literalmente, mas analogamente.

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