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Luz no fim do túnel Como sobreviver a um período tão penoso, de situações tão drásticas e paralisantes? Quando chegará a luz no fim do túnel? Mais uma vez, são importantíssimas a aceitação e a entrega. Segundo a terminologia junguiana, quando confrontada, a sombra é liberada, tornando-se uma energia extremamente criativa. Através da aceitação, da contenção e do trabalho sobre os nossos complexos infantis, estamos nos ligando mais uma vez a parcelas de nós mesmos que havíamos banido e reprimido. Mesmo considerando que esses complexos reaparecem inicialmente numa forma negativa, a energia que eles contêm, a princípio negada, mas agora reclamada, tornar-se-á finalmente disponível para ser integrada de volta à nossa psique de maneira mais construtiva. Liberaremos não apenas a energia aprisionada nos complexos, mas ainda ganharemos de volta, para nosso uso, toda a energia que empregávamos para represá-los. [SASPORTAS, Howard. Os Deuses da Mudança, ed. Siciliano.] Esse mergulho no desconhecido, a compreensão profunda desse confronto entre luz e sombra e o grande mistério da vida e da morte constituem o lado luminoso dos ciclos de Plutão. Nesses estados de desorientação psíquica precisamos de um "corrimão" para o percurso, que pode durar alguns anos. Piscoterapias, esportes, trabalhos com a sensibilidade e criatividade, meditação, yoga, entre outros, têm uma função positiva, pois podem renovar e redirecionar a energia psíquica, afastando velhos padrões de pensar e sentir. É preciso livrar-se de culpas e ressentimentos do passado, perdoar e acreditar que a vida irá de fato nos devolver na mesma proporção alegria, espontaneidade e novos propósitos criativos, uma vez que se está renascendo para a segunda metade da vida.
Não podemos às vezes mudar uma situação externa, mas é possível mudar a maneira como se observa e enfrenta um obstáculo. O evento em si nem sempre é tão importante, mas sim a reação interna a e a relação profunda que estabelecemos com ele. A despeito da "qualidade" da experiência que se passa é vital encontrar um sentido ou propósito para aquilo que temos de enfrentar. A transitoriedade da vida, dos relacionamentos, dos lugares, do que somos e deixamos de ser é a nossa única grande certeza da existência. Conviver com este fato e aceitá-lo, assim como o envelhecimento e a morte, são os grandes desafios que surgem aos 40 anos. Mas está a caminho uma sutil e poderosa mudança de percepção. Do mesmo modo que o desapego não é apatia, a indiferença não é alienação. Na segunda metade da vida nós crescemos internamente, tornamo-nos menos apegados e carentes de apreciação alheia, somos mais sábios em relação à natureza humana. Deixamos de ser esmagados e subjugados por preocupações inócuas dos erros do passado e inquietações sobre o futuro. Os ciclos de Urano, Netuno e Plutão trazem mudanças, profundas na psique, possibilitando uma "verticalização da consciência". A crise dos 40 é uma iniciação, um verdadeiro ritual de passagem, onde exorcizamos ilusões, vaidades tóxicas, apegos, resquícios de imaturidade, morremos para o passado e nos emancipamos no amplo sentido da palavra. Diz Jung sobre essa "virada" na vida: O entardecer da vida humana tem que ter um significado por si mesmo e não pode ser um mero apêndice desprezível da aurora da vida. O significado da manhã está, sem dúvida, no desenvolvimento do indivíduo, nosso fortalecimento no mundo exterior, a propagação da nossa espécie e o cuidado com os nosso filhos. Mas quando esse propósito foi atingido - e mesmo ultrapassado - o ganhar dinheiro, a extensão das conquistas e a expansão da vida deve continuar invariavelmente para além dos limites de toda a razão e significado? [JUNG, Carl Gustav. O Homem à descoberta da sua alma, Livraria Tavares Martins, Porto.] Veja mais sobre Tereza Kawall na página dos autores.
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