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ASTROLOGIA E ANTROPOLOGIA
Aquário: amigo é coisa pra se guardar
O que é a amizade? O que a define? Para Carlos
Hollanda, a experiência da amizade reúne características
típicas de Aquário e dos três planetas que mais se
relacionam com esse signo: Urano, o regente moderno; Saturno, o regente
tradicional; e Mercúrio, que ali teria sua exaltação.
Além de traçar inesperados paralelos entre os mecanismos
de Aquário e de Virgem, Hollanda analisa a passagem de Urano por
Aquário, entre 1995 e 2003, e as possibilidades relacionadas à
entrada de Urano em Peixes, a partir de 2003.
Muitas pessoas com Aquário e Saturno evidentes no
mapa não raro são capengas na arte de demonstrar
sentimentos. É bastante curiosa essa manifestação
aquariana: gostar muito das pessoas, mas sublimar ou dissimular esse afeto.
Mais ainda quando se tem a Lua nesse signo do elemento Ar, que não
é tradicionalmente um posicionamento grande coisa para o astro
das emoções e do apego. Talvez, como indicam os astrólogos
que trabalham no estilo de Alan Oken e Alice Bailey, esse seja um bom
posicionamento do ponto de vista do espírito. A capacidade de resistir
ao apego faz com que o sujeito consiga agir desapaixonadamente se assim
for necessário.
Sabemos que uma amizade é construída e cimentada
com o tempo. Tempo, em grego Cronos, é Saturno, na astrologia.
Saturno é o regente tradicional de Aquário. Quanto maior
for o tempo de uma amizade que é cultivada com a compreensão
dos dilemas humanos do amigo, mais resistente ela será. Será
uma fortaleza inexpugnável a qualquer ataque, a qualquer alteração
de humor. Outra curiosidade do símbolo: a idéia de fraternidade.
Ora, frater, de onde se origina a palavra, quer dizer irmão.
Não é por acaso que Mercúrio está exaltado
em Aquário: ele é o planeta que rege Gêmeos, signo
simbolicamente relacionado aos irmãos. E quantas vezes chamamos
aquele amigo muito querido de irmão! Queremo-lo perto, tão
perto quanto um parente de sangue, só que melhor, pois este irmão
nós escolhemos de livre e espontânea vontade.
Falamos de irmãos da alma, pessoas a quem escolhemos
e por quem somos escolhidos para integrar uma espécie de família
cósmica sem obrigações de autoridade, embora com
obrigações morais implícitas nesse flexível
compromisso de compreensão mútua.
O amigo verdadeiro não briga, dá um tempo.
Ele aconselha e dá bronca, critica e elogia com intensidades variadas,
mas não se arvora numa condição de superioridade.
E não é que todas essas coisas fazem parte do simbolismo
de Aquário? É claro que isso só descreve seu lado
mais brilhante e bonito, mas é Aquário. E nas pessoas com
ênfase em Aquário vamos encontrar mais ou menos o mesmo comportamento,
ou pelo menos a idealização de uma sociedade cujas regras
tenham como foco a idéia de fraternidade. "Ah, mas eu conheço
aquarianos bastante egoístas que pouco se importam com as outras
pessoas." Isso é muito possível, mas basta reparar
no discurso dos aquarianos aparentemente contrários ao simbolismo
do signo e será possível enxergar aquele idealista reprimido
ou decepcionado, que não encontra forças em si mesmo para
agregar pessoas em torno de um ideal.
Mercúrio de Gêmeos e Mercúrio de Virgem
Falamos de Mercúrio como regente do signo de Gêmeos,
mas esse planeta também é regente do crítico e analítico
Virgem. A exaltação de um planeta num signo diz muito acerca
do mesmo. Aquário também traz consigo não a praticidade
do Mercúrio de Terra de Virgem, mas sua visão crítica
acerca da realidade. Dificilmente a ênfase em Aquário coincidirá
com um comportamento conformista, não importa o grau de instrução
do indivíduo. Tudo é passível de questionamento.
Se algum modelo de conduta não tiver uma explicação
razoável, o impulso básico aquariano é o de rebelar-se,
o que pode também acontecer de forma sutil, em distúrbios
do sono, colapsos nervosos e coisas do tipo. Muitas pessoas com essa ênfase
acabam criando para si mesmas problemas de saúde por agüentar
demasiadamente, por força de necessidades financeiras, regras aplicadas
sem bom senso numa empresa. E o aquariano rebelar-se-á criticando
o sistema ou disseminando (algo relativo à exaltação
de Mercúrio) um modelo alternativo. Às vezes a explicação
razoável existe e é aceita pela maioria das pessoas. No
entanto, a mercurial necessidade de experimentação e o sentido
inovador do Aquário acabam por promover novos paradigmas, especialmente
quando ele resolve usar o lado mais prático de sua exaltação
(Mercúrio, regente de Virgem) e põe em prática aquilo
que idealiza.
Algumas correntes de pensamento em astrologia, especialmente
as mais tradicionais, não consideram Mercúrio exaltado em
Aquário. No entanto, podemos encontrar astrólogos do final
do século XIX e do início do século XX, como Sepharial
e Max Heindel, além de Nicholas Devore, mais tarde, que afirmam
esta exaltação. E ela é perfeitamente lógica,
se levarmos em conta o comportamento disseminador de ideologias do tipo
aquariano, entre outros atributos mercuriais.
As inovações atribuídas a Aquário
são uma espécie de dissociação da identidade
que o passado construído pelos nossos pais e avós estabeleceram.
Aquário, como seu oposto, Leão, vive o constante dilema
da identidade reiterada. Fazer as coisas de um jeito diferente é
como afirmar a si diante do que pode ser visto como monotonia e repetitividade
das tradições.
Por coincidência, faço uma pausa na produção
deste artigo e pego uma revista que está sobre a mesa. Chama-se
Crescer e contém matérias sobre gravidez, medicina
e psicologia infantil para orientação de pais. Abro-a ao
acaso e encontro um excelente editorial de Rosely Sayão a respeito
(que sincronicidade!) da amizade, indicando os benefícios do incentivo
dos pais ao desenvolvimento nos filhos da capacidade de fazer amigos.
Seu lado educativo inclui o surgimento gradual da independência
com relação aos pais e o fortalecimento da auto-estima (algo
que remete ao oposto de Aquário: Leão). Bingo! Com o que
leio posso preparar o terreno para a abordagem final deste artigo sobre
Urano em Peixes.
O ideal aquariano ou uraniano (em alusão ao regente
moderno de Aquário) é exatamente o que encontro na página
4 do exemplar (ano 9 - N° 103) que tenho à mão. A descrição
de amizade no subtítulo diz o seguinte: "solidariedade, lealdade,
cooperação, respeito pelo jeito de ser de cada um...".
Acrescentaria ainda a igualdade, conceito tão propalado
nos ideais da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade,
Fraternidade). Os três conceitos tratam ao mesmo tempo de formas
de dissociação do indivíduo de sua dependência
com relação aos pais, patriarcas ou autoridades, e de um
relacionamento entre indivíduos diferenciados, mas unidos pela
igualdade de direitos e pelo respeito mútuo. Em tese isso seria
uma espécie de amadurecimento da idéia de igualdade expressa
no simbolismo geminiano dos irmãos, quando temos a desigualdade
entre pais e filhos e seu contraponto na união dos não privilegiados
pela autoridade. No caso da família, os irmãos; no caso
da sociedade, as confrarias, que transferem a autoridade para uma força
superior, e os amigos, que se amparam mutuamente ante adversidades (e
as adversidades, curiosamente tinham em Saturno um dos símbolos
do Pai, um referencial para análises astrológicas medievais).
Há ainda os sindicatos, que pelo menos idealmente têm a função
de unir os mais fracos para obter uma confrontação de igual
para igual com quem tem mais poder. Infelizmente a idéia de exercer
um cargo de autoridade e a necessidade cultural de se chegar ao topo de
uma hierarquia costumam levar muitos idealistas a recriarem sem perceber
a relação de poder e subordinação que tanto
lutaram para superar.
Quando o poder é centralizado em torno de uma ou
de poucas figuras, estabelece-se novamente a relação mitológica
do Pai que reprime o Filho e deste que desafia e castra o Pai. Quando
um grupo de pessoas que deseja instaurar uma nova ordem (onde todos teriam
direitos iguais) resolve cercear a liberdade de escolha, centralizar,
e arvorar-se no direito de julgar e punir aqueles com quem não
concorda, esse grupo acaba por tornar-se desigual, hipocritamente contrariando
toda a ideologia professada. E é tipicamente aquariana essa relação
hipócrita de luta pelo poder. Estamos sempre vendo repetir-se o
lado mais negativo do mito da castração do Pai pelo Filho,
quando este último resolve assumir, com todas as nuances, o lugar
do primeiro. A humanidade ainda tem que apanhar bastante de si mesma para
compreender que esse padrão repetitivo visto no mito ficaria mais
positivo se a castração ocorresse internamente, isto é,
se o Filho, dependente, castrasse a figura que o reprime e domina em sua
psique. Desse modo ele renuncia ao poder e passa a assumir a direção
de seus próprios atos, sabendo que todos os outros seres humanos
precisam realizar esse drama arquetípico dentro de si mesmos a
fim de, como as crianças do artigo da revista Crescer, respeitar
o jeito de ser de cada um. Também é característica
aquariana dois extremos de comportamento do tipo:
1- "Eu não interfiro na sua vida, nem te encho
a paciência para fazer o que eu quero, portanto, não faça
isso comigo, senão eu faço alguma coisa que vai te deixar
em choque na frente de todo mundo."
2- "Faça o que eu digo, mas não faça
o que eu faço" (este último bastante explorado por
Liz Greene em Os Astros e o Amor - ed. Pensamento).
Antropologia da Amizade
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