Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 172 :: Outubro/2012 |
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MEMÓRIA DA ASTROLOGIA BRASILEIRAGEA, centro irradiador
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Ana Maria González |
Em muitos aspectos, a Escola GEA de São Paulo teve um papel precursor:ao montar um currículo estruturado em níveis semestrais, ao mudar o conceito de remuneração do professor e ao definir a Astrologia Psicológica como sua linha de atuação dominante.
“Ironically, the most endangered single part of the history of astrology is the history of 20th century astrology. It is right on the verge of being forgotten already.”
"Ironicamente, a parte da história da astrologia que está em maior perigo é a história do século XX. Está no limite de ser já esquecida.” Robert Hand, 2005.
Levando em conta a afirmação acima de Robert Hand, percebemos ser necessário registrar a história a astrologia do século XX. O registro do que foi feito no passado próximo abrirá espaço para nossa reflexão e compreensão do que tem sido nossa astrologia. Ensinar astrologia e formar o profissional são funções básicas das escolas. Daí serem elas uma fonte de informação importante para nossa observação. Na cidade e no estado de São Paulo, tivemos mais de vinte escolas, entre as que já fecharam e as que ainda estão ativas. Este artigo tem a intenção de informar sobre a escola GEA, que, por cerca de vinte anos, cumpriu o papel que esperamos delas.
A Escola GEA esteve ativa entre os anos de 1980 e 2002. Em 4 de fevereiro de 2012 houve uma reunião para o resgate e a documentação de suas atividades, com a presença de pessoas que se mobilizaram trazendo como contribuição suas memórias. Não tivemos dificuldade para juntar dados e experiências pessoais dos ex-alunos, ex-professores e amigos que nos dessem um quadro do que foi a GEA nesses vinte anos - e também da astrologia daquela época.
Um depoimento afirmou que havia “grande movimento [da astrologia] em São Paulo”. Outro dizia que “A astrologia era mais fervilhante e dinâmica, e foi se dispersando. Os centros irradiadores que existiam se perderam. Hoje, ela está sem linhagem e consistência.”
Claro que podemos imaginar uma ponta de saudosismo nessas afirmações. Mas era um tempo diferente. E importam todos os depoimentos e experiências pessoais, mais do que seu caráter de verdade. Para a construção desta visão histórica todos os dados são relevantes e a soma deles, junto a sua análise e interpretação, tem o mérito de nos dar o contexto que nos interessa. A Gea cumpriu o papel que as escolas devem exercer, de juntar pessoas fazendo-as se sentir participantes e mobilizadas em torno de um objetivo.
Os anos 80 foram tempos de plateias cheias
em eventos astrológicos. A Escola GEA
desempenhou na época um papel singular, ao adotar uma linha que se distinguia
tanto da
A escola GEA (Grupos de Estudo de Astrologia) foi fundada no dia 12 de setembro de 1980 e funcionou até 2002 em São Paulo. Sua fundadora, Elizabeth Friedrich, teve como sócia por cerca de sete anos Nilce Friedrich Fromm, a quem se seguiu Paulo Fernando do Prado Carone nos dez últimos anos de funcionamento da escola.
Ela teve como objetivo o ensino da astrologia e ciências afins, tais como: tarô, mitologia, filosofia aplicada à astrologia, grafologia, cromoterapia, numerologia, quirologia, florais de Bach, etc. Embora tenha ocorrido essa diversidade de atuação, a astrologia sempre foi a linha mestra da escola.
Dentro dos vários caminhos possíveis para o conhecimento astrológico, a GEA escolheu fazer a união de astrologia e psicologia. Desta forma, surgiu a síntese “Astrologia Psicológica” seguida nos cursos teóricos e vivências, ministrados na sede da escola e em outras cidades. Em SP, a Gea esteve presente nas cidades de Ribeirão Preto, Sorocaba, Jundiaí, Vinhedo, Valinhos. No Estado do Paraná, em Londrina, e na capital do Rio de Janeiro.
A média de alunos por turma era de quinze e, por ano chegou a ter 1500 alunos, contando com os participantes nos cursos e oficinas. Tais alunos vinham de vários níveis sociais. Culturalmente, 70% dos frequentadores eram de nível superior. A forma de remuneração efetuada aos professores pela GEA substituiu o antigo pagamento ao professor (por aula ou por mês) pelo que é seguido até hoje nas escolas (percentagem do valor pago por aluno).
A Escola GEA foi a primeira escola a implantar cursos semestrais, seccionando o conhecimento astrológico em níveis específicos, tais como: Interpretação Astrológica, Nível I e Nível II; Progressões Astrológicas; Astrologia Psicológica; Astrologia Cármica etc. Seu currículo foi se aperfeiçoando ao longo dos anos de acordo com os folhetos que eram distribuídos.
FInal dos anos 80: a Escola GEA oferece um detalhado programa de
Astrologia Psicológica em seu espaço da Vila Mariana.
Aos cursos citados em folhetos de 1986 são acrescentados outros nos folhetos de 1999, provando que um currículo foi se aprimorando e sendo complementado em áreas de formação do astrólogo ao longo desses treze anos. Esse curso de formação era finalizado com uma formatura.
Algumas frases presentes nos folhetos da escola são motivadoras e suas expressões ainda hoje são utilizadas: “Descubra a atualidade de uma ciência de 6.000 anos”; “A mais moderna ciência antiga”; “Seu futuro no presente”; “Roteiro para sua autotransformação”.
Muitos professores atuaram nas várias especialidades, alguns deles com mais frequência. Entre eles, podem ser citados: Elizabeth Friedrich, Paulo Fernando do Prado Carone, Telma Monte, Álvaro Félix, Maria Helena de Carvalho, Leontina de Souza Copi, Paulo Roberto Granjeiro Rodrigues, Glauco Gleiber Júlio, Clene Salles Galvão, Suely Cecília Zuppo.
Outros participaram como convidados para cursos ou palestras em eventos: Nilce Friedrich Fromm, Ana Maria de Campos D’Avila, Alicia de Paoli, Joyce Lobo Benute, Pilar Ferreras y Fernández, Anna Maria da Costa Ribeiro, Walter Vieira, Joel Gennari, Adonis Saliba, Cid Marcus Vasques, Luis Eduardo B.N. Alonso, Marina Coelho Ungaretti, José Antonio Pinotti Rodrigues, Dr. Sérgio Mortari, Carlos Fini, Lúcia Maria Villela.
A presença de muitos profissionais, a organização de eventos, e a permanência no tempo, tudo isso contribuiu para que a escola se tornasse um centro de irradiação de conhecimento e entusiasmo em torno da astrologia.
Na reunião para resgate de sua memória, a partir dos depoimentos dos alunos e professores dos participantes, foi possível recriar o clima da escola. A busca pela astrologia psicológica e, em especial, pelas vivências foram aspectos importantes da comunidade que foi se definindo aos poucos. Naquela época, a GEA montou algumas oficinas com particularidades teóricas e que representaram experiência importante para quem delas pôde usufruir: a Cosmovivência, a Vivência de Aspectos e de Planetas.
Cursos de Astrologia e Medicina Antroposófica e a oficina Astrovivência,
em folheto de divulgação da GEA de 1989.
Elizabeth Friedrich entrou com a teoria astrológica e aportes de psicologia, enquanto Maria Helena de Carvalho colaborou com sua experiência musical e com as técnicas de relaxamento. O planejamento desse trabalho mostrou que não era possível fazer a oficina em um final de semana apenas. Essa primeira versão mais longa foi apresentada como um teste para um grupo especialmente convidado e depois disso, foi diminuída para um final de semana apenas, de sexta-feira a domingo, forma que acabou sendo aplicada durante muito tempo, com aprofundamento do método.
A somatização era uma das chaves do processo. Parafraseando alguns depoimentos de participantes: a técnica mobilizava a vivência dos planetas. O símbolo era sentido de forma não racional. Assim a astrologia chegava de maneira visceral, em cada célula do corpo, de forma sensorial. A respeito dela, Beth Friedrich diz: “Essa técnica tem como elemento essencial a mobilização de uma emoção que está dentro do indivíduo. O planeta é emoção e ele pode ser avivado pela dramatização. O indivíduo vai reconhecer e experimentar. Se vai mudar, não se pode saber. Isso já é outra questão.”
Como profissional, uma participante, disse: “Na leitura do mapa hoje eu me lembro do que senti na vivência de planetas”. Outra experiência pessoal confessa algo muito parecido: “O que eu sou até hoje, veio da vivência dos planetas.” A força dessa experiência permanece, além de ter sido responsável por vínculos e trocas afetivas e de ideias, em clima de acolhimento. Sabemos que ainda hoje em dia essa técnica é utilizada por muitos profissionais. A base dessas vivências é a percepção do mapa astrológico como dramatização ou narrativa. Cada um a sua maneira, os profissionais criam métodos para atingir essa essência do mapa natal.
Podemos citar alguns trabalhos: Sônia M. Lima e Elisa Guerra Campos (escola Ser Total), em São Paulo, Maurice Jacoel (Escola Girassol São Paulo e Brasília), Robson Papaleo (Gaia - Escola de Astrologia/SP), Ana Cristina Abbade (SP), Hector Othon (SP) e Eduardo Loureiro (Brasília). Outros profissionais - ainda não identificados - poderão ser acrescentados a esta lista. A cosmovivência e a astrologia psicológica talvez tenham sido o segredo da permanência da GEA ao longo de duas décadas. Mas há outro aspecto digno de nota.
Os participantes assim falaram sobre o funcionamento da GEA: “A estruturação é o grande presente que eu recebi da GEA”. “O curso serviu para por os pés no chão.” “A GEA foi um porto seguro, me achei.” Tais depoimentos indicam uma consistência em seu relacionamento com a escola que, por sua vez, é compatível com uma aura de respeito e de disciplina também apontada por vários dos presentes. Em relação a isso, Elizabeth argumentou “Já pensou se eu não fosse assim, junto a tanta coisa diferente na escola?” Sua autoridade exerceu a direção e coordenação das atividades definindo o tom e o clima desejado. Esse caráter de firmeza dava segurança a seus alunos.
Tudo isso junto talvez fosse o corpo e a alma da GEA. Esses são sinais de seu pioneirismo e força, razão pela qual mereceu o destaque que teve em sua época. Por esse lugar de instituição oficial que ocupou no cenário astrológico, merece atualmente nosso respeito e admiração.
Um último registro pode nos dar uma imagem significativa (e até romântica) dessa escola: “Astrologia e GEA foram a minha lenda pessoal.”
As escolas são o local privilegiado do ensino e da formação do profissional da astrologia. Elas mudaram de forma ao longo do tempo. A história da GEA nos oferece aspectos importantes para nossa observação, tais como o desenvolvimento do currículo e os interesses relacionados àquela época.
A partir desse exemplo, podemos começar a pensar como se desenvolveu a educação e a formação profissional dos astrólogos ao longo das últimas décadas. Aos poucos visitaremos as duas dezenas de escolas de que temos notícias em solo paulista. Fora delas tivemos outros tipos de ensino, tais como os astrólogos professores, que foram muitos e desenvolveram um trabalho importante. Todas essas pessoas colaboraram para o ensino da astrologia e para a sua profissionalização.
Nota: nosso agradecimento a Elizabeth Friedrich e a todos os que participaram da reunião de resgate da memória da GEA, ocorrido em 4 de fevereiro de 2012 na cidade de São Paulo.
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