Não há como fugir: da meia-noite do dia 1º de janeiro de 2015 à meia-noite do dia 2, sempre haverá uma quadratura T no céu, qualquer que seja o horário e a cidade em que ocorrer a posse. Portanto, o primeiro passo para entender a atmosfera geral em que serão exercidos os mandatos estaduais e presidencial do quadriênio 2015-2019 é analisar a dinâmica desta configuração celeste e o papel dos planetas envolvidos.
Basicamente, temos dois cenários: o primeiro é o dos governantes que tomam posse entre o início da madrugada e o início da tarde. De madrugada? Sim, em 2007 e 2011 isso já aconteceu em estados da Amazônia, de forma a dar aos governadores condições de chegar a tempo à cerimônia de posse presidencial, em Brasília. Nesta faixa de horário – das zero hora (horário de Brasília) às 15h08 (idem) a Lua está em Touro, definindo um mapa fortemente terráqueo. Das 15h09 em diante, temos um cenário claramente diferente, com a Lua em Gêmeos envolvida numa configuração mutável.
Vejamos a seguir as configurações que se mantêm ao longo do dia e caracterizam todas as cartas de posse, qualquer que seja o horário e o local.
Stellium em Capricórnio
Nenhuma novidade, já que a presença de um stellium em Capricórnio é muito comum em mapas calculados para qualquer 1º de janeiro. Contudo, a própria escolha dessa data para todas as posses presidenciais desde Fernando Henrique Cardoso já é bastante reveladora de como a república brasileira encara hoje a sucessão governamental: Capricórnio, mais do que qualquer outro signo, simboliza o jogo político, a estrutura burocrática, a hierarquia do poder e seus rituais. Observe-se que nem sempre foi assim: os presidentes anteriores a Fernando Henrique tomaram posse com o Sol em Aquário (de Eurico Gaspar Dutra a Jânio Quadros) ou com o Sol em Peixes (de Costa e Silva a Fernando Collor). Aquário e Peixes são exatamente os dois signos que ocupam a casa 1 do mapa da Independência do Brasil, expressando a ideia de que presidente e governadores identificavam-se mais diretamente com o país ou ao menos com uma parcela significativa de sua população, independentemente de partidos políticos. Já com a mudança da posse para 1º de janeiro, o evento sempre se dá na casa 11 do mapa da Independência, exatamente a casa das agremiações partidárias e dos políticos profissionais (Capricórnio). Esta mudança de tom, ao longo das décadas, é sutil mas real. Na era PSDB-PT, o pragmatismo capricorniano sempre dá a tônica na Administração Pública. É a era dos personagens capricornianos, aqueles que conseguem fundir política com negócios: marqueteiros e tesoureiros de campanha passam para o primeiro plano, enquanto candidaturas ideológicas são desqualificadas como “sonháticas” (neologismo utilizado com a força de um palavrão).
Sol em conjunção com Plutão e quadratura com Urano
A presença do Sol, um símbolo universal da figura do governante, junto à turbulenta quadratura Urano-Plutão mostra que o Brasil não será poupado dos grandes desafios que esta quadratura simboliza: o ajuste de forças entre capital e trabalho e entre potências hegemônicas e países periféricos, no âmbito da economia mundial; o confronto entre as velhas formas de fazer política e os anseios de autonomia e participação comunitária (como já vimos nas manifestações de 2013); a questão do uso indiscriminado da tecnologia e os impactos negativos sobre o meio ambiente; e, finalmente, o desafio da transparência e da honestidade na gestão da coisa pública.
Colocamos aqui, nas previsões para 2014, que a melhor metáfora para a quadratura de Urano em Áries a Plutão em Capricórnio era a velha história da roupa nova do rei, em que o monarca, enganado por um alfaiate espertalhão, desfila diante dos súditos para exibir o que acredita ser uma maravilhosa túnica invisível. Os cortesãos, com medo de desagradá-lo, mantêm-se absolutamente calados, até que um garotinho (certamente ariano) grita do meio do povão: “Olha lá, mãe, o rei está PELADO!”
Plutão em Capricórnio representa o desnudamento das estruturas de poder viciadas e carcomidas; Urano em Áries, o anseio ardente e imediatista de mudar tudo o que parece errado. A velha história da roupa do rei vem sendo atualizada desde 2011 numa série de diferentes situações: a Primavera Árabe, o movimento Occupy Wall Street, os protestos de rua na Europa, a revolta dos estudantes de Hong-Kong, os distúrbios étnicos do final de 2014 nos Estados Unidos. No mapa das posses de 2015, o Sol – o governante e o princípio de consciência – tem a possibilidade de lançar luz na problemática Urano-Plutão e fazer escolhas. Seria exageradamente simplista afirmar que a nova safra de governantes está, de antemão, identificada com a patética figura do rei nu. Mais correto é afirmar que Plutão em Capricórnio simboliza aqui um monstro impessoal e tão arcaico quanto a história do país: um estilo de governar marcado pelo fisiologismo, pelo clientelismo e pela corrupção endêmica. Os novos governantes sempre terão a opção de romper com as práticas tradicionais e assumir o papel de Urano em Áries – aquele que inicia uma história inédita. O Sol, como princípio de luz e consciência, tem todas as condições de decidir como resolver as contradições Urano-Plutão. Em outras palavras: a nova safra de governantes do país tem a oportunidade de escolher entre a conivência ou a denúncia, a leniência ou o bom combate.
Sol e Plutão estão, aliás, no ápice da primeira quadratura T desta carta, ambos em quadratura com Urano e com o eixo dos Nodos. Um Sol tão vinculado assim às tensões Urano-Plutão não poderá jamais omitir-se. Nas posses em que este Sol estiver de alguma maneira ligado à casa 10, veremos governadores que serão empurrados pelas circunstâncias a assumir uma clara postura de concordância ou discordância com relação a fatos ocorridos durante seu governo.
Júpiter oposto a Marte
Júpiter em Leão e Marte em Aquário formam uma oposição que dá ao mapa da posse uma certa tonalidade adolescente. Trata-se de um aspecto de bravata, de exageros, de ousadias e de falta de senso de medida. O sentido exato em que esta oposição se manifestará depende da estrutura de casas de cada posse. Mas, seja em que eixo estiver, Marte e Júpiter tensionados sempre alertam para o risco da imprevidência. Assim podemos ter despesas excessivas se esta oposição estiver no eixo das casas 2-8, ou tagarelice excessiva (com insultos verbais e troca de acusações na imprensa ou na justiça) se estiver no eixo 3-9.
A oposição Júpiter-Marte estará mais ativada nas posses que ocorrerem logo após o Ano Novo, nas primeiras horas da madrugada, quando a Lua em Touro ainda estará fechando uma forte quadratura T com os dois planetas gastadores.
Saturno em quadratura com Netuno
Trata-se de um aspecto ainda em formação, mas já com órbita suficientemente estreita para lançar um véu de melancolia sobre as festas de posse de 1º de janeiro. A combinação Saturno-Netuno carece de energia agressiva, definindo-se, antes de tudo, pela formação de estruturas de defesa. Por isso este aspecto costuma estar presente no mapa da formação de confrarias, sociedades secretas, acordos de mútua proteção, etc. Pode também significar, conforme as casas envolvidas, uma decepção do eleitorado, ou uma frustração de expectativas. O ciclo Saturn0-Netuno é vital para a América Latina, estando na raiz dos primeiros movimentos independentistas. No Brasil, corresponde à chegada da Família Real portuguesa, em 1808. Tende a simbolizar a decepção das populações latino-americanas com seus governantes, assim como a sensação de desamparo e descrença diante das desigualdades sociais e da corrupção endêmica. A simples presença desta quadratura no mapa das posses já mostra o clima de desencanto que caracterizará o início de todos os mandatos. Contudo, este clima se manifestará mais fortemente nas posses a partir das 15h09, quando a Lua entra em Gêmeos e começa a formar uma quadratura T mutável com os dois planetas geracionais.
Levantando os mapas de cada posse
O que apresentamos neste artigo é o clima geral. Os mapas específicos da posse da presidente e dos governadores estão em outros artigos:
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