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Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 120 :: Junho/2008 :: -

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NOVAS PROPOSTAS

As qualidades primitivas
e o cerne movente da vida

Gregório José Pereira de Queiroz

A Astrologia trabalha com leis determinantes cujas causas não são localizáveis no plano material, mas cujas conseqüências afetam o plano material. Contudo, o plano em que atuam estas causas nada tem a ver com a psique. Não é feito de fenômenos materiais nem de estados subjetivos: o que o constitui são as qualidades dinâmicas.

Estamos no campo, no meio do mato, no sítio de amigos talvez. A natureza se manifesta por todos os lados. Um besouro grande sobe pela parede, o lusco-fusco azul-violeta do fim da tarde, o cri-cri dos grilos vem de todas as direções, o fogo crepita no fogão, a silhueta imóvel de um bovino é visível contra a fraca luminosidade, através da porta aberta. Minha filha comenta a ação do besouro grande, diz que sua subida parede acima é firme e decidida como é firme e decidida a imobilidade do boi que está lá fora, perto da soleira.

Besouro“Firmeza decidida”, característica percebida por minha filha na escalada do besouro e na imobilidade do boi, é um fator dinâmico, a existir “por dentro” da forma exterior, tão diferente no movimento ascendente do inseto e no peso imóvel do bovino. Não foi os corpos dos animais ou mesmo suas ações imediatas o que chamou a atenção dela, mas algo comum entre naturezas tão díspares, algo que não se refere à forma física dessas manifestações da natureza, mas sim à qualidade de suas dinâmicas.

Este seu olhar para a dinâmica anterior ao dado imediato dos corpos, mas que nos é visível através dos corpos, é um olhar semelhante àquele presente na concepção da Astrologia, um olhar que percebe a estrutura das manifestações naturais e humanas não em sua forma, não em sua função ou enquanto símbolo de outra coisa, mas no movimento que é, ao mesmo tempo, sua vida.

Uma dinâmica pura pode ser percebida por trás da forma manifesta. Um ser ou uma entidade, com suas formas, gestos e manifestações, são condutores de vida. A qualidade da dinâmica desta vida independe do corpo ou forma por meio da qual se manifesta, e mantém traços pelos quais pode ser reconhecida. Percebê-la requer um olhar capaz de renegar a forma a um segundo plano e adentrar o reino de forças e dinamismos atuantes, talvez uma espécie de “pureza” de olhar que vá ao encontro de perceber tais dinâmicas.

Este não é um olhar “puro”, no sentido de isento de carga, como o olhar da criança poderia ser mais inocente do que o olhar do adulto, mas no sentido de mais primordial, de um olhar que enxerga o que está “antes” dos corpos e das formas, um olhar que percebe como é o pulso vital que anima a forma, independendo da forma sob a qual se manifesta. É um olhar primordial, mas não infantil, no sentido de algo ainda não desenvolvido, como se fosse um olhar embrionário a preceder a verdadeira visão plena e completa.

A “firmeza decidida” pode ter gradações muito diferentes, como deverão ter a subida de um besouro e um boi estático, mas tem também um cerne que é idêntico nos dois casos, um cerne feito de uma dinâmica particular para o qual pouco importa como se manifestam suas diferenças sob a aparência de uma forma ou de outra, de boi, besouro ou outra qualquer.

Este é o assunto do qual trata a Astrologia: reconhecer as dinâmicas presentes no cerne de uma dada entidade viva.

Embora pareça tratar de astros celestes e da possível influência destes sobre os acontecimentos terrestres, a Astrologia trata da estrutura dinâmica existente no substrato primordial dos seres e das coisas, nos dando a conhecer tal estrutura por meio de uma equivalência desta com as posições dos astros do sistema solar. Os astros entram na Astrologia como um recurso de leitura, não como causas nem como fatores primordiais ou essenciais – assim como o velocímetro de um automóvel é um recurso para a leitura de sua velocidade, não a causa desta nem sequer um fator primordial na estrutura do automóvel.

Os astros são, para os astrólogos, um recurso de leitura de outra coisa que não algo “causado” pelo astro, nem algo que ele “simboliza”. Não há uma força fenomênica emanando do astro que cause evento, situação ou predisposição. Nem há uma projeção de nossa subjetividade humana sobre o astro, com ele retornando sobre nossas vidas ou tendo conosco, a partir disso, uma relação de símbolo psicológico (ou mais precisamente: se há essa projeção de significado do ser humano sobre o astro, tal projeção não é o assunto da Astrologia; seria talvez o assunto de uma “psicologia da astrologia”, se essa matéria existisse [1]).

Distinguir as formas, que se manifestam no mundo terrestre, do cerne dinâmico de vida que as anima é onde começa o assunto Astrologia. Perceber e compreender que tudo quanto é vivo tem um movimento interno que se move em dinâmicas complementares, que estas dinâmicas complementares têm uma natureza cíclica, e que tal dinâmica cíclica pode ser vista, nem sempre na forma aparente das coisas, mas sim na natureza de seu cerne movente, isto é do que trata a Astrologia, o “logos do astral”, o conhecimento a respeito do que está antes da forma física manifestada.

Esta visão de mundo tende a ser considerada, pela mentalidade dos séculos XX e começo do XXI, como pertencente a um estágio mítico ou mágico da humanidade. Encontrar uma qualidade como “firmeza decidida”, tal qual fizera minha filha em formas tão díspares quanto um boi parado e um besouro subindo parede, parece comentário superficial, coisa de criança, ou, no melhor dos casos, mera metáfora poética muito mais do que uma observação sobre a qual se possa fundar um conhecimento. Uma visão das coisas muito própria para uma criança, ou mesmo própria de estágios de desenvolvimento preliminar e pré-racional da mente humana.

Faz parte da visão mágica do primórdio da humanidade, “o mundo experimentado como uno (...) a oposição entre homem e mundo não estar ainda presente para a consciência desperta mas ainda como um sonho, enterrada sob a consciência de que o homem e a natureza são originalmente unos”[2]. Um conhecimento fundado sobre uma visão de mundo na qual tudo é considerado a partir das qualidades dinâmicas contidas na forma, onde os limites e diferenças da forma são desconsiderados, onde homem e natureza são considerados da mesma maneira, assim como besouros e bois, só pode ser tomado seriamente como sendo um conhecimento primário, ou mesmo infantil, sem a ordem estruturada que tem o conhecimento cujo ápice pretendido é o pensamento científico.

Contudo, voltar a essa visão primordial, uma visão que desconsidera os limites e as distinções dadas pela forma, não é necessariamente uma recaída em um modo de pensamento arcaico, embrionário e pré-científico, como muitas vezes se costuma atribuir à Astrologia.

Uma visão de mundo na qual a natureza é penetrada por forças imateriais, com o puramente dinâmico existindo ao lado do físico, uma experiência de mundo em que astros distantes são partícipes de acontecimentos em minha interioridade, se assemelha muito mais às idéias mágicas e míticas dos povos primitivos ou pré-históricos do que às concepções científicas do homem moderno. Não obstante, por que deveríamos supor que estas idéias são menos verdadeiras do que aquelas que consideram a forma exterior, visível e tangível, como argumentação máxima em favor do que é a realidade? Ainda mais nestes tempos em que à materialidade da forma foi descoberto seu limite, em que se sabe o quanto a consistência da matéria é mais uma ilusão da mão e do olho humano, é uma realidade relativa mais propriamente do que uma realidade absoluta. A forma exterior visível e tangível não deveria continuar sendo a juíza máxima das questões a respeito do que é ou não realidade. Ao trilhar a concepção de mundo da Astrologia talvez não se esteja perdendo uma pretensa objetividade e sim recuperando algo que foi deixado para trás, no curso do desenvolvimento humano.

Em vez de uma recaída em padrões embrionários de conhecimento, talvez tenhamos, com a Astrologia, a recuperação de um aspecto da realidade que, embora presente no conhecimento dos gregos antigos, por exemplo, foi se tornando incompreendido e incompreensível no decorrer da história do Ocidente, principalmente. Em tempos nos quais à substância material não é mais dada a supremacia que um dia já teve, nos quais a música se desenvolveu a ponto de revelar a existência de um outro pensamento criativo que não aquela concernido à palavra, nos quais as dimensões do tempo e do espaço são re-visitadas com novos olhos, talvez a Astrologia deva fazer parte, novamente, do panteão das matérias que nos dão a conhecer a realidade.

As forças dinâmicas que atuam no substrato da existência, formando uma rede de relações invisíveis e intangíveis à visão e ao tato, foram relacionadas pela Astrologia desde sempre, ao movimento dos astros do sistema solar. Aquele cerne movente, que não é percebido diretamente na forma visível e tangível, seria visível por meio de uma correlação com a distante dimensão dos corpos celestes.

Este é o segundo aspecto que fundamenta o conhecimento astrológico. Este, aliás, mais conhecido do que o primeiro aspecto aqui apresentado, é considerado como a marca distintiva da Astrologia, embora talvez não o seja. O exotismo de correlacionar os eventos a astros no céu chama muito mais a atenção, fisgando a atenção dos que se aproximam da Astrologia por esta aparente excentricidade ou absurdo, do que chama a atenção à Astrologia sua proposição de conhecermos os movimentos internos à forma aparente, quais as diferenças e semelhanças desses movimentos vitais, e como tais movimentos compõem uma ordem cognoscível [3].

Os antigos descobriram, ou foram inspirados a saber, que as forças dinâmicas que atuam em nossas vidas obedecem a padrões análogos àqueles encontrados no movimento dos astros, dos planetas, da Lua, do Sol e das estrelas, em relação à posição da Terra [4]. Nesta analogia entre padrões do cerne movente das entidades terrestres e padrões dos astros do céu fundamenta-se a Astrologia, utilizando o céu como um mostrador onde se podem ler os estados dinâmicos presentes a cada momento em cada situação. A partir do céu como um mostrador, onde se lêem estados dinâmicos, está construída toda a técnica de cálculo, análise e interpretação astrológica que fornece informações sobre uma pessoa, situação, país ou condição da existência.

O mostrador planetário nos fala do conjunto de forças dinâmicas presentes em um dado evento, entidade ou situação. Contudo, não fala da forma final ou da substância de que os eventos são formados. Os astros são indicadores das linhas de força que determinam a formação de um dado evento, entidade ou situação, mas a forma final destes dependerá das condições em que tais forças atuam, dependerá das “substâncias disponíveis” no local e no momento da atuação das forças dinâmicas.

O Príncipe e o Mendigo

No século XIX o escritor americano Mark Twain explorou a temática dos
"gêmeos astrológicos" na novela The Prince and the Pauper,
dois adolescentes com vidas paralelas em realidades diferentes.

Isto não poderia ser de outra maneira, considerando-se que alguém nascido no coração da África pode ter uma carta astrológica (o mostrador planetário colocado em gráfico) fundamentalmente idêntica a alguém nascido no Brasil, na China, na Sicília, no México, na Pérsia ou em alguma ilha distante na Oceania. Também um homem e uma mulher nascidos em momentos próximos podem ter cartas astrológicas idênticas; ou ainda, como uma historieta medieval coloca, o filho do rei e o filho do sapateiro nascem no mesmo momento, tendo assim idêntica carta astrológica. As “substâncias” disponíveis nestes diversos lugares e situações são bastante ou totalmente diferentes. Nascer filha de um rei na Oceania, nascer filho de um sapateiro na Sicília, ou quaisquer combinações que se queira estabelecer, produz condições sociais, culturais, materiais e genéticas muito diferentes. Não obstante, em todas essas condições uma mesma carta astrológica pode atuar “por trás” da forma, movendo as substâncias disponíveis e fazendo viver estas pessoas em condições muito diversas – mas sendo movidas por dinâmicas análogas.

Dinâmica idêntica, e não forma idêntica, é o que está descrito em duas cartas astrológicas iguais. Circunstancialmente, a forma dos eventos e das ações que envolvem a pessoa pode também ser idêntica – um caso nada incomum, a ponto de aforismos prescreverem acertadamente possibilidades de eventos muito precisos para uma determinada condição do mostrador planetário. Contudo, é necessário ressaltar, a Astrologia e a carta astrológica indicam as linhas de tensão, ação e relaxamento do campo dinâmico de uma dada entidade, e não as circunstâncias nas quais se dá sua existência. A entidade ou pessoa humana viverá a coalisão entre as forças dinâmicas marcadas em sua carta astrológica e as substâncias, ou condições, dadas por sua situação geográfica, racial, cultural, social e genética.

NOTAS

[1] Utilizo a expressão no mesmo sentido de uma “psicologia da música”, em contraposição à “música”, e não como sinônimo de “astrologia psicológica”, pois esta existe, não obstante sua validade possa ser contestada.

[2] Zuckerkandl, Man the Musician, p.

[3] Na Grécia Antiga, a Astrologia era considerada muito mais um assunto da filosofia, ou um elemento ordenador da visão de mundo, com a questão da “influência dos planetas” ocupando um lugar secundário em relação à tentativa de se conhecer, por exemplo, as manifestações do cerne vivente das coisas, por meio das qualidades de movimento, por eles denominadas qualidades quente, frio, úmido e seco.

[4] Como se chegou a estabelecer esta correlação não se tem notícia. Nenhum relato há, dentro da Astrologia Ocidental, nem sequer mitológico, de como foi dado ao ser humano saber da possível correlação entre astro celeste e condição terrestre.

Identificar linhas de forças ou prever fatos?



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