Garotas burras e
otárias com bebês no colo
Quanto mais a sociedade se torna urbana, quanto mais
a mulher ganha espaço através da educação
e da atividade profissional, mais este padrão Gêmeos-Leão
se afirma. Para a típica mulher brasileira das grandes cidades,
os piores adjetivos que lhe poderiam ser atribuídos seriam
burra e otária. Ocorre que é exatamente
isso o que se pensa da mulher que engravida e é deixada pelo
companheiro entregue à sua própria sorte. Neste sentido,
e considerando as características astrológicas da
Lua em Gêmeos e de Vênus em Leão, a grande punição
que a sociedade projeta sobre a mãe solteira não é
a de descriminá-la como desonrada ou leviana, mas sim como
incompetente por deixar-se cair numa roubada, para
utilizar a expressão popular.
|
O mapa da Independência do Brasil traz
a chave para a compreensão de como o país lida
com o feminino: Vênus em Leão na casa 6 e a Lua
em Gêmeos na 4, em conjunção com Júpiter. |
Ser mãe solteira significa que se confiou
num homem precipitadamente, que se cometeu um erro de avaliação.
Para não passar o atestado de incompetência, restam
à nossa atirada brasileirinha Gêmeos-Leão dois
caminhos possíveis: assumir a gravidez como se fosse desejada
e intencional ("Eu não preciso de homem", "Eu
me viro sozinha", "Eu sou perfeitamente capaz de cuidar
do meu filho") ou rejeitá-la, através do caminho
do aborto.
Mais uma vez: falamos de um padrão astrológico
abstrato e extremamente genérico. Não descreve a complexidade
de cada caso particular, mas fornece uma chave para compreender
alguns valores culturalmente operantes.
Um terceiro fator astrológico a considerar
é a conjunção de Júpiter à Lua
em Gêmeos na carta da Independência. Júpiter
tem seu domicílio em Sagitário, signo a que estão
associadas a moral, a ética, as leis e a religião
organizada. Em Gêmeos, signo oposto, Júpiter encontra-se
em exílio, expressando um abrandamento ou uma distorção
de todos esses conteúdos. O Brasil é um país
bastante permissivo em questões éticas e onde as leis
tendem a ser de pouca eficácia. Do ponto de vista religioso,
não verificamos aqui uma separação rigorosa
de fronteiras de credo. A dupla personalidade religiosa (sendo a
duplicidade um traço geminiano) tende a manifestar-se, por
exemplo, na freqüência dos mesmos fiéis a cultos
católicos e afro-brasileiros, ou na rapidez com que o brasileiro
se permite experimentar um credo novo e transitar sem culpa entre
templos das mais variadas seitas.
A conjunção deste Júpiter exilado
com a Lua afeta, naturalmente, a forma como é percebida no
Brasil a mulher em sua condição de mãe. Em
primeiro lugar, Júpiter amplia, magnifica e fertiliza, o
que está em concordância com os altos índices
de natalidade que caracterizaram o país até poucos
anos atrás. Em segundo lugar, Júpiter no signo oposto
ao de seu domicílio é um indicador da tolerância
que se verifica em relação aos abusos contra a mulher.
A sociedade (ainda) faz vista grossa para o homem que engravida
a namorada ou a parceira ocasional e não assume
qualquer responsabilidade frente à ocorrência indesejada,
cujo ônus é transferido para a própria mulher
("Ela é que tinha a obrigação de se cuidar!").
O quadro vem mudando aos poucos, mas ainda com fortes resistências
culturais.
|
A mulher que engravida
sem que seu parceiro assuma o filho é considerada "otária",
algo insuportável para Gêmeos e Leão. |
Símbolos astrológicos são vivenciados
de forma diversa em cada época e de acordo com o nível
de desenvolvimento tecnológico e sociocultural de cada comunidade.
A sociedade brasileira não está condenada a ser eternamente
omissa em relação ao problema do aborto. O que hoje
se verifica ainda é fruto de uma vivência parcial do
rico simbolismo da conjunção Lua-Júpiter em
Gêmeos e do posicionamento de Vênus em Leão.
No que têm de melhor, tais configurações carregam
um potencial de valorização da maternidade em novas
bases, a da mãe amiga, jovial, companheira dos filhos e adepta
de recursos pedagógicos originais. Gêmeos e Leão
têm em comum um vínculo com a educação
infantil, com o desenvolvimento intelectual e da criatividade do
ser em formação. A mulher brasileira tem tudo para
ser a mãe estimulante, capaz de desenvolver no filho um sentimento
de autoconfiança e respeito pela vida. Este padrão
está presente no imaginário nacional em estado latente,
e pouco a pouco encontra os espaços para manifestar-se.
Na medida em que a mulher brasileira for mais
valorizada, que a mãe involuntária não receber
a pecha de otária e incompetente, que a pressão
da sociedade não a obrigar a buscar as clínicas clandestinas
de aborto, teremos um país melhor e mais pleno da vivacidade
generosa de Lua-Júpiter em Gêmeos e da exuberância
de Vênus em Leão.
Leia outos artigos de Fernando
Fernandes.
|