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COMPORTAMENTO

A mulher brasileira diante do aborto

Fernando Fernandes

 

O transcurso de mais um Dia Internacional da Mulher coloca em questão os alarmantes índices da prática do aborto no Brasil. Haveria uma explicação astrológica para esta epidemia nacional?

Concepção: Angela Schnoor

Uma em cada quatro brasileiras um dia interrompe a gestação de um filho indesejado. A prática do aborto, em nosso país, atinge níveis tão elevados que pode ser considerada um sucedâneo da contracepção. Como o aborto é considerado prática ilegal – exceto em poucos casos previstos em lei – a mulher, além de submeter-se ao trauma psicológico, ainda corre os riscos decorrentes da imperícia e da precariedade de equipamentos e de assepsia que costumam caracterizar as clínicas clandestinas.

Abortos deixam seqüelas. Representam a interrupção violenta de um processo natural do organismo. Representam uma auto-agressão, da qual raríssimas mulheres escapam sem alimentar sentimentos de culpa e processos depressivos. Contudo, continuam sendo praticados em larga escala, o que torna o Brasil um dos líderes mundiais na triste estatística das gestações interrompidas.

Haveria algum fator astrológico capaz de explicar essa epidemia brasileira? A análise da carta da independência do país informa que sim. O mapa do Grito do Ipiranga, calculado para às 16h30 LMT (hora local) do dia 7 de setembro de 1822, em São Paulo, apresenta a conjunção Lua-Júpiter em Gêmeos na casa 4, a da base populacional, das origens étnicas, da vida doméstica e da ancestralidade. A casa 4, por ser aquela correspondente ao Fundo do Céu – o ponto mais escondido do mapa – tem relação também com a intimidade, com aquilo que tende a ocorrer entre quatro paredes, no recesso do lar, em oposição à casa 10 – o Meio-Céu – ponto mais elevado do mapa, em estreita conexão com a atividade pública.

A Lua é um dos planetas significadores do feminino. Enquanto Vênus simboliza a mulher como amante e companheira em sua dimensão mais sensual, a Lua responde pela mulher em seu papel de mãe, provedora e princípio nutriz. A Lua em Gêmeos na carta do Brasil expressa um padrão coletivo de comportamento, com o qual as mulheres tendem a identificar-se e que molda também a expectativa dos homens em relação a elas.

Gêmeos é um signo mercuriano e do elemento Ar. A Lua, neste signo, tende a reprimir um pouco a expressão emocional pura e simples para adotar um padrão mais verbal, mais intelectualizado, mais distanciado. A Lua em Gêmeos quer ser vista como inteligente, bem informada, rápida, vivaz, esperta, ativa, eternamente jovem. É o predomínio de um padrão adolescente de comportamento. Na medida em que assumir o papel de mãe significa abrir mão da adolescência e penetrar de vez no mundo adulto, este é um ritual de passagem que tende a ser visto com reservas pela Lua geminiana. Para ela, a maternidade é positiva quando acompanhado por algumas contrapartidas: a possibilidade de interagir de igual para igual com o homem, de assumir um lugar na estrutura produtiva, de preservar a liberdade de ter idéias próprias e de ter acesso à cultura. O casamento com o homem-companheiro, que aceita um relacionamento em bases equitativas, representaria, pois, uma compensação adequada para o preço de crescer.

É claro que este não é um padrão explícito nem consciente. Representa uma expectativa coletiva, disseminada em toda a coletividade e que vem se manifestando com mais força desde algumas décadas, especialmente a partir da verdadeira revolução comportamental dos anos 60. Mas é fato visível que a mulher brasileira, considerando genericamente, é menos propensa ao papel de Amélia do que suas companheiras da América Espanhola, como as chilenas, as colombianas e as mexicanas.

Acrescente-se que o mapa do Grito do Ipiranga também apresenta Vênus em Leão, posicionamento que guarda relação direta com a imagem da brasileira como a mulher exuberante, demonstrativa, alegre e dona do seu nariz.

A vaidosa e dionisíaca Vênus em Leão tem algo a ver com ícones da feminilidade brasileira, como Carmen Miranda, Leila Diniz, Sônia Braga, as mulatas do Sargentelli e assim por diante.

Somando-se os posicionamentos de Lua e Vênus na carta brasileira, temos um padrão de comportamento feminino bastante característico: é a mulher que não aceita com facilidade a posição subalterna e a condição de objeto descartável.

A imagem típica de Carmen Miranda, como esta que ilustra a página de seu museu, mantido pela Prefeitura do Rio de Janeiro (um site oficial!), é a da mulher extrovertida, cheia de balangandãs. É a extroversão do eixo Leão (Vênus do Brasil) - Aquário (Vênus de Carmen). Vênus na 6 mostra que a mulher brasileira tende a ser vista como detentora de um status subalterno, contra o que ela reage com unhas e dentes (Leão).
Chiquinha Gonzaga, um tipo Marte-Urano, foi das primeiras a romper com o padrão subalterno de Vênus na 6.

Neste sentido, a posição por signo desses planetas "briga" com a posição por casa: a Lua rege a 6, das situações rotineiras, e ocupa a 4, do ambiente doméstico, enquanto Vênus faz o movimento oposto, regendo a 4 e ocupando a 6. Em outras palavras, vemos no mapa do país a tendência de relegar a mulher ao percurso da cama para o tanque, ou da obediência ao patrão para a obediência ao marido. Como reação, a mulher brasileira vem mobilizando recursos dos signos de Gêmeos e Leão - e também dos signos opostos, Sagitário e Aquário - para superar sua condição de objeto doméstico.

Garotas burras e otárias com bebês no colo


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