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BANDEIRANTES, JESUÍTAS, ÍNDIOS E ESMERALDAS

As oficinas de florestas e os deuses da chuva

Fernando Fernandes

 

A corrida do ouro e a guerra da cobiça

Apenas em 1693 e 1694 são descobertos os grandes veios de ouro do interior da atual Minas Gerais, em Sabará (a lendária serra de Sabarabaçu, ou Sabarabuçu), em Caeté, no Rio das Mortes e em outras localidades. O ato real de 18 de março de 1694 garante aos descobridores a posse das minas, apenas com a obrigação de pagar à Fazenda Real a quinta parte do ouro descoberto. Este momento, que representa a culminação dos esforços de mais de um século, é significativamente representado por um trânsito de Júpiter em oposição à Vênus natal de São Paulo. Plutão, significador de recursos subterrâneos ou ocultos, transita formando trígono à Lua natal paulistana.

Cena da Guerra dos Emboabas, autor desconhecido, século XVIII.

Contudo, logo os bandeirantes teriam problemas. Cumprindo a vocação Marte-Áries de abrir caminho para que outros aproveitem as novas possibilidades, os paulistas não terão muito tempo para aproveitar as riquezas recém-descobertas. Logo a notícia do achamento das minas espalha-se por toda parte, provocando um enorme afluxo de portugueses e de gente do Rio de Janeiro e da Bahia. Minas Gerais transforma-se num campo de batalha na chamada Guerra dos Emboabas, na primeira década do século XVIII. A guerra, cujo resultado é adverso para os bandeirantes paulistas, corresponde à passagem de Netuno pelos últimos graus de Áries, provavelmente na casa 1 de São Paulo. Alguns anos mais tarde, a criação da capitania de Minas Gerais, com território desmembrado de São Paulo, é antecedida de pouco pelo primeiro retorno de Netuno a sua posição natal na carta de fundação da vila de Piratininga, em 1554. As conquistas dos bandeirantes passam para as cobiçosas mãos da Coroa. E os rudes sertanistas, que já haviam por esta época dobrado o tamanho do país, retomam seu destino de andarilhos, de desafiadores da selva, de abridores de caminhos que outros irão aproveitar. Em vez de Minas, agora embrenham-se por Goiás, por Mato Grosso... E a energia inquieta de Marte, a capacidade investigativa da Lua em Escorpião, a força irradiadora do Sol em Aquário, todos os componentes que fizeram dos paulistas uma raça de pioneiros juntam-se outra vez para empurrá-los para mais adiante, para novos locais remotos em que nenhum homem branco jamais havia pisado.

É neste contexto que se revela plenamente o sentido da única quadratura a

Outra cena da Guerra dos Emboabas mostrando uma tocaia.

afetar o Sol na carta de fundação de São Paulo: é o ângulo Sol-Netuno, indicador de natureza visionária e quimérica, disposta a sintonizar com o sonho e agir em consonância com ele. E a figura mais netuniana de todas quantas varreram os sertões brasileiros naqueles dois séculos é a de Fernão Dias Pais, o caçador de esmeraldas, que atravessou rios e montanhas atrás das pedras verdes, perseguindo quimeras e miragens, sem jamais tê-las encontrado. O velho caçador de esmeraldas sintetiza um componente importante da alma paulista e expressa a missão contraditória dessa terra de gente difícil, de deuses da névoa e da chuva que, ao perseguir farrapos de esperança pela imensidão do interior, acabaram transformando os sertões numa grande oficina em que se construiu o Brasil que conhecemos.

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