Um rápido perfil dos bandeirantes, os
homens que abriram caminho para a anexação territorial
de metade do Brasil e enfrentaram os riscos da floresta, as tribos
nativas, a oposição dos padres jesuítas e a
concorrência de aventureiros de toda parte.
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Tropeiros da época da mineração
retratados por Rugendas. As tropas de burros foram um recurso
vital para a ocupação do interior iniciada pelos
bandeirantes. |
Bem que os homens trazidos por Martim Afonso de Souza
tentaram, mas a estreita faixa litorânea da capitania de São
Vicente não apresentava, ao contrário do litoral nordestino,
solos e condições climáticas propícios
à produção açucareira. Além disso,
Pernambuco estava muito mais próximo da Europa, do que resultava
um custo menor para o transporte das mercadorias de exportação.
A vida nas terras da baixada não apresentava grandes perspectivas.
Era preciso subir a muralha da serra do Mar. E lá no alto,
a partir do colégio jesuítico fundado por Nóbrega
e Anchieta, desenvolve-se a vila de Piratininga de homens rústicos,
que tomavam à força as mulheres nativas para gerar
com elas uma povo de mamelucos [*]
que reunia a ambição aventureira do português
à familiaridade com a natureza das tribos autóctones.
[*] Mameluco ou mamaluco
- Mestiço, filho de índio com branco. No período
colonial, os paulistas são freqüentemente chamados de
mamelucos ou mamalucos.
A economia era de subsistência. Não
havia recursos para comprar os negros chegados da África,
um luxo muito dispendioso para os bolsos locais. Apesar da ferrenha
oposição dos jesuítas, a solução
era apresar os índios e utilizá-los como força
de trabalho na lavoura e na pecuária. E montaram-se expedições
que precisavam avançar cada vez mais para o interior da selva,
na medida em esgotavam-se as reservas de braços indígenas
nas regiões mais próximas da vila. Ao contrário
das expedições oficiais da coroa portuguesa - as entradas
- estas eram financiadas e organizadas por particulares: são
as bandeiras.
O planalto paulista funcionou durante todo o século
XVII como um foco gerador de bandeiras que se espalharam em todas
as direções. Este caráter centrífugo
e expansor do núcleo paulista permite associá-lo de
imediato com o princípio masculino presente nos signos de
Fogo e Ar, especialmente Áries e Sagitário.
Em 1597 ocorre a conjunção Urano-Plutão
em Áries. É sob este aspecto que o bandeirismo abandona
o caráter defensivo que tivera até então (pequenas
incursões nos arredores para combate e captura das tribos
que ameaçavam a vila) e torna-se ofensivo, voltando-se
cada vez mais para as vastas extensões do sertão.
Durante todo o século XVII, enquanto ainda não se
descobriam os grandes veios de ouro, o grande objetivo das bandeiras
é o apresamento dos índios necessários ao trabalho
na lavoura. Como afirma Sérgio Buarque de Holanda:
Possuir escravos índios constituía índice
de abastança e de poder que seriam proporcionais ao número
de "peças" possuídas. O regime servil era
o único então compreendido pela mentalidade dos colonos.
De nada valiam as ordens promulgadas pela Coroa, garantindo a liberdade
dos nativos (...), influenciadas pelos princípios jesuíticos
de proteção ao índio. Seria permitida pelo
rei a "guerra justa", tornando-se legal somente a escravização
do gentio [*] que assaltasse portugueses
e índios pacificados. A guerra justa, seria fácil
provocá-la! Simples pretexto que se tornou letra morta entre
os sertanistas de São Paulo. Assim, foram burladas todas
as disposições da Coroa. [HOLANDA, Sérgio Buarque
de (org.). História Geral da Civilização
Brasileira, Tomo I. SP, Difel, 1960.]
[*] Gentio: povos não
cristãos, índios.
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Amador Bueno, conforme retratado em livro
de Aureliano Leite. |
Contra a escravização pura e simples,
levantavam-se os jesuítas, defensores intransigentes da integração
social e econômica do índio através da catequese.
Os conflitos entre jesuítas e colonos vão num crescendo
por quase noventa anos, até culminarem em 1641 com a "botada
dos padres fora", ou seja, com sua expulsão do território
paulista, e com uma precoce tentativa de proclamação
do Reino de São Paulo que só não é levada
adiante porque o "rei" escolhido pelo povo, Amador Bueno
da Ribeira, recusa terminantemente a indicação. Assim,
São Paulo livrou-se de seus próprios fundadores. O
episódio corresponde ao trânsito de Saturno pelos últimos
graus de Aquário, em conjunção com o futuro
Ascendente do Brasil (carta do Grito do Ipiranga) e já ativando
também o Plutão da carta de São Paulo.
Nos dois anos anteriores, quando as rivalidades foram-se
acentuando, Saturno transitara sobre Sol, Mercúrio e, finalmente,
Marte da carta radical de São Paulo. Ao mesmo tempo, Urano
fazia a transição de Libra para Escorpião,
ativando a Lua radical de 1554. O trânsito de Saturno é
importante porque mostra uma ação restritiva (Saturno,
o limite ou o impedimento) sobre um Marte que rege ou está
no Ascendente da cidade. Como a vila surgiu a partir de um colégio
jesuítico, Marte simboliza exatamente este grupo fundador,
ou seja, a comunidade (Marte em Aquário) dos padres
da Companhia de Jesus. A ativação da Lua por Urano
indica, por outro lado, o efeito liberador que a expulsão
dos padres provocaria: a partir daquele momento, os colonos estariam
mais à vontade para seguir sua inclinação natural
em favor da ação apresadora através de meios
violentos. A grande conseqüência seria a expansão
cada vez maior das fronteiras brasileiras, fruto da marcha dos bandeirantes
para a exploração do sertão remoto. É
a época de expedições de uma audácia
inimaginável, como a de Raposo Tavares, entre 1648 e 1652,
que internou-se pelo Paraguai, chegou às encostas dos Andes,
em pleno território espanhol, e acabou saindo na região
amazônica. A lembrança dos bandeirantes deste período
resiste até hoje no nome das estradas que saem de São
Paulo no rumo do interior, como a Raposo Tavares, a Anhangüera
e a Fernão Dias.
A corrida do ouro e a
guerra da cobiça
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