Uma Deusa
O mito do rapto de Perséfone é muito
antigo, do tempo em que os homens saíram das cavernas para
cultivar a terra [1]. Existem várias
versões e a mais comum é mais ou menos assim:
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Demeter (foto de estátua à esquerda),
irmã de Zeus, teve com ele uma filha chamada Kóre
("a jovem"). Em sua inocência, desconhecendo
o perigo, Kóre encantou-se com uma flor diferente que
avistou num lago escondido e afastou-se para colhê-la.
"Por coincidência" naquele momento Hades,
senhor das profundezas, que andava preocupado com a segurança
de seu reino, sobe à superfície para tratar
do assunto com Zeus. Abriu a terra, avistou Kóre, apaixonou-se,
levou-a consigo.
Deméter nada sabia. Perguntou aos deuses
do Olimpo, mas eles se calaram. Pranteou sua filha por nove
dias e nove noites sentada sobre uma pedra, até que
Hécate, sua irmã, apiedou-se dela e perguntou
a Hélios, o Sol, se havia visto algo.
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Hélios contou-lhe o ocorrido e Hécate
pediu a Zeus que ordenasse a devolução de Kóre
à superfície. Mas Zeus não o fez. Demeter então
abandonou seus cuidados para com a vegetação sobre
a terra e a terra tornou-se infértil, ressecada, morta.
Estando a terra já seca, Zeus percebeu que
precisava agir. Mandou Mercúrio negociar com Hades a devolução
de Kóre. No entanto, Kóre havia provado um pedaço
do fruto do mundo subterrâneo e já não era Kóre,
era agora Perséfone e pertencia ao reino das profundezas.
Como não havia comido o fruto inteiro, foi feito um acordo:
Perséfone passaria alguns meses com a mãe na superfície
e outros com o marido, nas profundezas. Conformada com o retorno
sazonal de sua filha, Demeter devolveu fertilidade à terra
e o homem pôde nela trabalhar.
Uma vara de porcos passava pelo local do rapto e, como Kóre,
foi tragada pelas profundezas. Os porcos, desde Creta, ou
antes dela, estão intimamente ligados ao tema da deusa
agrícola. Alguns povos sacrificavam porcos, atirando-os
em cavernas, celebrando a manutenção do ciclo
da vida. [2]
[1] Mircea Eliade, História
das Crenças e das Idéias Religiosas, Tomo
I, Zahar Editores, 1983.
[2] Mircea Eliade, idem.
Ilustração: representação
barroca do rapto de Perséfone.
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Uma Empresa
Existe no Brasil uma empresa chamada Agroceres [3].
Por coincidência, o principal produto da Agroceres são
porcos. Agroceres também produz grãos. Em 24 de novembro
de 1997 a MONSANTO comprou a Agroceres. [4]
A MONSANTO é uma empresa transnacional. Seus
produtos são consumidos diariamente por todo o planeta: sacarina,
aspartame, aspirina, químicas para papel e couro, plásticos,
inseticidas, herbicidas, fertilizantes, hormônios de crescimento
bovino, antibióticos, cereais, lycra, ... Sugiro uma visita
ao site
oficial. Ela foi uma das empresas que produziu o herbicida conhecido
como "Agente
Laranja", usado no Vietnã.
Atualmente a MONSANTO produz transgênicos.
Modificou a soja pela adição de um gene de bactéria
para que se tornasse tolerante ao herbicida glifosato (Roundup®)
também fabricado por ela, que antes matava a planta. A soja
modificada é Roundup Ready®. Desenvolver essa tecnologia
custou caro, e os grãos foram patenteados e protegidos por
um dispositivo genético que faz com que a planta esterilize
sua própria semente. Assim, mesmo pagando para plantá-la,
o agricultor não vira dono da coisa (leia-se o grão).
[5]
"Se o grão não morre, a planta
não nasce jamais". Mas e quando o grão nem nasce?
Precisamos compreender essa possibilidade, pois no tênue fio
de tempo que nos separa das cavernas de Creta, o homem desenvolveu
ciência e tecnologia e produziu seres patenteados. Algo muito
distante do ciclo da vida.
Várias questões foram levantadas por
cientistas preocupados com a "mutação" forjada
dos grãos. Por exemplo, os efeitos da ingestão do
grão pelo ser humano e a possível contaminação,
por meios naturais (pássaros etc.), do gene "exterminador"
para outras plantas da região, o que as tornaria estéreis
também. Outra questão é o uso do herbicida
glifosato, que pode se tornar excessivo, já que não
há mais necessidade de manejá-lo com cuidado para
não matar a planta. O glifosato foi o principal causador
de intoxicação no Brasil entre 1996 e 2000 (Ver sitio
do IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).
[3] Ceres é a deusa
romana associada a Demeter. Sobre a empresa, ver o site
corporativo.
[4] Min. da Justiça, Sec. de Direito Econômico, Deptº
de Proteção e Defesa Econômica, Coordenação-geral
de Controle de Mercado, Ato de Concentração nº
08012.008241/97-76.
[5] Couch, Martha L. (1998). "How the Terminator Terminates:
An Explanation for the Non-Scientist of a Remarkable Patent
for Killing Second Generation Seeds of Crop Plants."
Uma patente
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