Urano em Peixes, Árvore
da Vida e o sentido da rebeldia
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No século XVI, o sonho de uma alternativa
ao excessivo poder dos nobres e do clero na Europa transformou
a América em uma utopia. |
Falando cultural e mitologicamente, um universo ordenado,
com todas as coisas em seus lugares e com tudo ocorrendo num tempo
específico, implica uma hierarquia e uma estrutura, ambos
conceitos associados a Saturno, que na Árvore da Vida ocupa
o topo da criação no que tange à idéia
de realidade manifestada. Saturno, na Árvore, é associado
à sephirah Binah, que tem conotação feminina
e engendra a realidade após ser fecundada por Hochmah, o
correspondente de Urano. Netuno faz o papel de coroa (Kether) da
Criação, continuamente emanando um modelo de ser ainda
não atingido, justamente porque nunca se atinge o infinito.
Netuno também representa a idéia de "existência
perene", isto é, do eterno presente ou o eterno agora
(o que acaba dando margem ao pensamento do "eterno retorno",
em Nietzsche). Como assim? A reunião desses dois arquétipos
remete à idéia de retorno a um "tempo fora do
tempo", a um a priori arquetípico onde todas as coisas
existem sem início, meio ou fim. É o modelo primordial
cujas manifestações sempre permanecem, apesar de submergirem
numa época para ressurgirem em outra.
É interessante notar que durante as passagens
de Urano por Peixes ao longo da história nos deparamos com
expressões externas muito explícitas da simultaneidade
entre o primitivo e o homem. Esta se dá nos eventos mais
dramáticos e na reinserção de modelos arquetípicos
no imaginário através das artes e da literatura. Resta
saber onde e como encontrar o super-homem, no sentido nietzschiniano
do termo. É uma questão de percepção
e consciência, uma vez que ele é o próprio homem.
O glifo de Urano representa bem essa condição humana,
se divagarmos artisticamente. Eis, nele, a discórdia na alma
do homem, a luta entre o passado e o futuro e o contínuo
processo de ruptura que leva à percepção unificadora
do Agora netuniano. Plutão, nesse esquema cabalístico,
seria o mesmo Netuno, isto é, uma manifestação
do infinito, só que dentro do Homem, em suas raízes
mais profundas, de cujas entranhas brota o ser essencial engendrado
e pronto para ser trazido à tona da consciência. No
entanto, o símbolo plutoniano indica, o "velho homem"
deve morrer para dar lugar ao "novo homem", conforme afirmavam
gnósticos e místicos como Louis Claude de San Martin,
eminente cabalista do século XVIII.
A idéia de revolução, revolta
e rebeldia como ruptura, que não hesitamos a atribuir ao
signo de Aquário e a Urano, tem um significado muito mais
profundo se observarmos sua etimologia. "Revolução"
indica um movimento de retorno, re-voltar, voltar novamente, como
num processo cíclico de idas e vindas.
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Em parte, a expansão marítima
européia foi também uma tentativa de retorno a
uma "Era de Ouro". Novas terras eram descobertas ao
mesmo tempo em que Thomas Morus escrevia sua famosa obra A
Ilha da Utopia - A melhor das repúblicas. |
"Rebelião" tem sua raiz etimológica
em "entrar em guerra novamente" (re-belião - bélico
- guerra). É curioso o parelelismo com mitologemas como o
da Gigantomaquia, onde Zeus e os deuses olímpicos massacram
os gigantes; de divindades guerreiras como Indra, do panteão
hindu, e outros mitos em que um conflito primordial entre forças
de Caos e Cosmos deu origem ao universo tal como o conhecemos. E
desde já estamos vendo um processo semelhante, ao menos no
Brasil, com os surtos de invasões de terra, promovidos por
movimentos como o MST, o MTST, além de motins em presídios
e demais manifestações que representam a reincidência
do arquétipo da luta pela recriação de um mundo,
de um cosmos renascido do conflito, do sangue e das cinzas.
Urano: o anseio do retorno
à era de ouro
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