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OS CICLOS URANO-NETUNO

Da Utopia ao Super-Homem
- Do Super-Homem à Utopia

Carlos Hollanda

 

Urano em Peixes, Árvore da Vida e o sentido da rebeldia

No século XVI, o sonho de uma alternativa ao excessivo poder dos nobres e do clero na Europa transformou a América em uma utopia.

Falando cultural e mitologicamente, um universo ordenado, com todas as coisas em seus lugares e com tudo ocorrendo num tempo específico, implica uma hierarquia e uma estrutura, ambos conceitos associados a Saturno, que na Árvore da Vida ocupa o topo da criação no que tange à idéia de realidade manifestada. Saturno, na Árvore, é associado à sephirah Binah, que tem conotação feminina e engendra a realidade após ser fecundada por Hochmah, o correspondente de Urano. Netuno faz o papel de coroa (Kether) da Criação, continuamente emanando um modelo de ser ainda não atingido, justamente porque nunca se atinge o infinito. Netuno também representa a idéia de "existência perene", isto é, do eterno presente ou o eterno agora (o que acaba dando margem ao pensamento do "eterno retorno", em Nietzsche). Como assim? A reunião desses dois arquétipos remete à idéia de retorno a um "tempo fora do tempo", a um a priori arquetípico onde todas as coisas existem sem início, meio ou fim. É o modelo primordial cujas manifestações sempre permanecem, apesar de submergirem numa época para ressurgirem em outra.

É interessante notar que durante as passagens de Urano por Peixes ao longo da história nos deparamos com expressões externas muito explícitas da simultaneidade entre o primitivo e o homem. Esta se dá nos eventos mais dramáticos e na reinserção de modelos arquetípicos no imaginário através das artes e da literatura. Resta saber onde e como encontrar o super-homem, no sentido nietzschiniano do termo. É uma questão de percepção e consciência, uma vez que ele é o próprio homem. O glifo de Urano representa bem essa condição humana, se divagarmos artisticamente. Eis, nele, a discórdia na alma do homem, a luta entre o passado e o futuro e o contínuo processo de ruptura que leva à percepção unificadora do Agora netuniano. Plutão, nesse esquema cabalístico, seria o mesmo Netuno, isto é, uma manifestação do infinito, só que dentro do Homem, em suas raízes mais profundas, de cujas entranhas brota o ser essencial engendrado e pronto para ser trazido à tona da consciência. No entanto, o símbolo plutoniano indica, o "velho homem" deve morrer para dar lugar ao "novo homem", conforme afirmavam gnósticos e místicos como Louis Claude de San Martin, eminente cabalista do século XVIII.

A idéia de revolução, revolta e rebeldia como ruptura, que não hesitamos a atribuir ao signo de Aquário e a Urano, tem um significado muito mais profundo se observarmos sua etimologia. "Revolução" indica um movimento de retorno, re-voltar, voltar novamente, como num processo cíclico de idas e vindas.

 
Em parte, a expansão marítima européia foi também uma tentativa de retorno a uma "Era de Ouro". Novas terras eram descobertas ao mesmo tempo em que Thomas Morus escrevia sua famosa obra A Ilha da Utopia - A melhor das repúblicas.

"Rebelião" tem sua raiz etimológica em "entrar em guerra novamente" (re-belião - bélico - guerra). É curioso o parelelismo com mitologemas como o da Gigantomaquia, onde Zeus e os deuses olímpicos massacram os gigantes; de divindades guerreiras como Indra, do panteão hindu, e outros mitos em que um conflito primordial entre forças de Caos e Cosmos deu origem ao universo tal como o conhecemos. E desde já estamos vendo um processo semelhante, ao menos no Brasil, com os surtos de invasões de terra, promovidos por movimentos como o MST, o MTST, além de motins em presídios e demais manifestações que representam a reincidência do arquétipo da luta pela recriação de um mundo, de um cosmos renascido do conflito, do sangue e das cinzas.

Urano: o anseio do retorno à era de ouro


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