Urano em Peixes, Netuno em Aquário: esta
situação recebe o nome de recepção mútua,
que se define pelo fato de que cada planeta ocupa o signo regido
pelo outro. Este ano de 2003 reproduz quadros astrológicas
semelhantes, vivenciados a partir de 1507, de 1671 e de 1837. O
que aconteceu de excepcional em tais períodos e com as pessoas
que neles viveram? Que relação a recepção
mútua iniciada em março de 2003 tem com as atuais
invasões dos movimentos dos Sem Terra e dos Sem Teto? São
perguntas deste tipo que Carlos Hollanda tentará responder
no Simpósio Nacional do SINARJ, em sua palestra Da Utopia
ao Super-Homem - Do Super-Homem à Utopia.
Ao discutir as recepções mútuas
de Urano e Netuno, ou seja, as épocas em que estes dois planetas
trocam de domicílio, com Urano em Peixes, signo de Netuno,
ao mesmo tempo em que Netuno está em Aquário, signo
de Urano, o que trazemos para o primeiro plano é a questão
do imaginário coletivo. Este olhar sobre o imaginário,
sobre o folclore e sobre as forças psíquicas coletivas
que motivam o ser humano a agir de uma forma peculiar, visa a demonstrar
a imensidão desta força, suas repercussões
e seu eterno retorno em expressões diferentes apenas em aparência,
mas não em essência. Elas são arquétipos
em manifestação.
Tais repercussões são de longo prazo, pois idéias
e mitos permanecem a despeito do tempo.
As Revoluções Norte-Americana e Francesa,
bem como a Independência dos países latino-americanos,
podem ser consideradas como reflexos dos ideais cultivados no imaginário
popular e entre os eruditos durante a fusão dos atributos
de Urano e Netuno, quando em conjunção, quando em
recepção mútua ou quando da passagem de Urano
em Peixes. Esta última, aliás, ocorreu cerca de 20
anos antes da Independência dos EUA e 30 antes da Revolução
Francesa.
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Em 1° de janeiro de 1508,
Plutão avançava pelos graus intermediários
de Sagitário; Urano estava no final de Peixes e Netuno
acabara de entrar em Aquário. Urano e Netuno estavam
em recepção mútua (cada um no signo do
outro). |
A visão do Homem presente no pensamento medieval
reproduz uma visão cabalística. Esta, em plena transição
da Idade Média para a Idade Moderna, marca o hibridismo entre
o teocentrismo medieval e o antropocentrismo renascentista e iluminista.
Os pensadores renascentistas e os da Ilustração, sem
deixarem de ser deístas em essência, colocaram o Homem
no papel de agente principal da história e da realidade terrena.
Antes do Renascimento, para aqueles pensadores, o papel do Homem
se resumia a mero joguete da vontade divina, sem questionamento
de Suas motivações, conformado com a idéia
de que o Universo teria sua construção definitivamente
terminada, ocupando o Homem o cume da Criação, segundo
as Escrituras.
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Em 1° de janeiro de 204,
Plutão avança pelos graus intermediários
de Sagitário; Urano acaba de entrar em Peixes e Netuno
atinge a metade de Aquário. São as mesmas posições
por signo do século XVI, um fato raríssimo. |
Foi na Idade Média, inclusive, que o esquema
atualmente conhecido como Árvore da Vida assumiu o diagrama
publicado em diversos livros e interpretado de maneiras diferentes
por vários autores. Nesse diagrama, os planetas do sistema
solar são dispostos segundo a seqüência descrita
no texto bíblico. Mas foi somente no século XX que
alguns estudiosos passaram a inserir Urano, Netuno e, depois da
metade do século, Plutão, no diagrama. Esses planetas
ocupam, segundo eles, as sephirot que têm significados análogos
a suas características astrológicas. Urano e Netuno,
na Árvore, ocupam lugares que correspondem ao Mundo das Idéias,
de Platão, ao processo que antecede a formulação
de uma ordem concreta ou qualquer ação no mundo. É
o processo criador, segundo a ótica mística. O vínculo
entre esses dois planetas ao longo de seus ciclos, seja por conjunção,
recepção mútua, com Netuno em Aquário
ou com Urano em Peixes, coincide com propostas, em geral ainda não
praticáveis, de inversão de ordem ou de reformulação
no que as sociedades entendem por seus universos ordenados.
Urano em Peixes, Árvore
da Vida e o sentido da rebeldia
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