As cantigas de roda, primeiras melodias
que a criança aprende a cantar, não são
simples brincadeiras: pertencem ao domínio coletivo
e traduzem importantes processos arquetípicos. A Margarida
é um bom exemplo.
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No cirandar dos signos,
de um bailado circular,
Vamos todos encontrar
nosso Mapa, na Mandala,
descobrindo o caminhar.
"Ciranda, Cirandinha,
Vamos todos cirandar..."
(Snaide Lacerda)
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ONDE ESTÁ A MARGARIDA?
(canção de roda - folclore)
Onde está a Margarida?
Olê, Olê, Olá
Onde está a Margarida?
Olê, Seu Cavaleiro
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Ela está em seu castelo
Olê, Olê, Olá
Ela está em seu castelo
Olê, Seu Cavaleiro
Eu queria vê-la (bis)
Olê, Olê, Olá
Eu queria vê-la
Olê, Seu Cavaleiro
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As canções de ninar, assim como as
cantigas de roda, estão entre as músicas que não
são mais minhas, nem tuas, nem nossas, mas do coletivo em
amplitude maior. Sendo assim, falam de realidades presentes em todos
e em cada um de nós, pois já se tornaram expressões
dos padrões arcaicos dos quais somos depositários
e continuadores.
Entre tantas escolhi a Margarida, uma brincadeira
de roda, pela semelhança com o ciclo de fortalecimento do
Ego-Sol.
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Segundo a menina que ilustrou este artigo, à esquerda
vemos meninas dançando; abaixo: porquinhos cantando.
(desenhos de Victoria Fernandes, 3 anos)
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Mas o muro é muito
alto
Olê, Olê, Olá
Mas o muro é muito alto
Olê, Seu Cavaleiro
Retirando uma pedra
Olê, Olê, Olá
Retirando uma pedra
Olê, Seu Cavaleiro
Uma pedra não
faz falta
Olê, Olê, Olá
Uma pedra não faz falta
Olê, Seu Cavaleiro
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Retirando duas pedras
Olê, Olê, Olá
Duas pedras só não chegam
Olê, Seu Cavaleiro
Retirando três
pedras
Olê, Olê, Olá...
Retirando quatro pedras
Olê, Olê, Olá... (e assim por diante, até
todas saírem).
Apareceu a Margarida
Olê, Olê, Olá
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Esta roda é construída como uma Mandala
com um centro. As crianças, de mãos dadas, são
as pedras do castelo. No meio, encolhida, escondendo-se, uma criança
que representa a Margarida, protegida em seu castelo (Centro-Lua-Sol).
Uma outra criança circula por fora, fazendo o papel de Cavaleiro.
É ela quem faz as perguntas e retira as pedras (defesas -
Saturno) que protegem a Margarida dentro do castelo (defesas - Lua).
A retirada paulatina das defesas, pela consciência
dos condicionamentos Familiares e Sociais (Lua/Saturno), leva à
descoberta da Margarida, como a consciência Sol/lunar, que
surge e gira no centro da roda aberta, enlaçada (Vênus)
pelo Cavaleiro (Mercúrio/Júpiter) que, trazendo o
brilho Solar, forma a base da auto-estima individual (Sol, Mercúrio,
Vênus).
Tanto do ponto de vista da Psicologia quanto da Astrologia,
a busca e encontro da consciência de si mesmo, do foco solar,
centro regulador da psique a que chamamos ego, é uma necessidade
imperiosa.
A ampliação da consciência -
que costuma ocorrer, simbolicamente, através dos trânsitos
dos planetas trans-saturninos - precisa de segurança para
que aconteça sem que haja cisão na estrutura central
e a pessoa não se depare com sérios desequilíbrios
comportamentais e rupturas perigosas em sua psique.
É importante, pois, que este centro seja forte
e íntegro de acordo com suas qualidades individuais.
Maria, antes de chamar-se "margarida",
está no útero da mãe, onde todas as marias
se confundem.
Ainda não sabe que é margarida, ou
é apenas um nome pelo qual a chamam e ao qual responde até
que se transforme em EU, Margarida, em sua plenitude potencial e,
sabendo-se como tal. Mas Margarida gira com seu Cavaleiro e permite
a abertura deste centro através da relação
com a ampliação da consciência através
dos ritos protetores (Mercúrio/Júpiter).
Viemos todos, de uma fusão urobórica
com a mãe ("Maria") e, a partir da separação,
temos um trabalho de encontro com a individualidade presente em
cada um que pode ser identificada, claramente, através do
mapa do céu de nascimento.
A partir deste Centro é que podemos dar nossa
contribuição pessoal ao grande Todo, tanto social
quanto transpessoal, e voltarmos, então, ao grande Nada onde
se pode Ser Um com o Todo.
Este ciclo de cinco anos que denominei de: "à
procura da Margarida de cada um" e que ocorre entre os retornos
da Lua progredida e de Saturno em trânsito, culminando com
o Retorno Solar dos trinta e três anos, parece ser "ensaiado"
como um ritual, com as características repetitivas e monótonas
próprias, neste brincar de Roda, desde a infância.
A partir do encontro desta identidade, de braços
com Júpiter, cada roda individual pode girar ao som da melodia
mais universal que conheço, a Ave Maria.
Esta música, independentemente de credo
ou idioma em que for escrita, representa a consciência de
que cada ser-margarida é uma estrela na constelação
universal dos homens. Um mergulho saudável nos braços
da Grande Mãe, onde a entrega às mortes necessárias
à renovação se faz sem medo ou desequilíbrio.
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Schnoor.
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