Quando eu assistia "Nacional Kid" na TV,
imaginava um futuro onde o mundo diariamente acordaria para o caos
da aparição súbita de um tipo qualquer de novidade-monstro.
Esse mundo sob constante ameaça daria muito trabalho aos
heróis. Mas eu seria um deles e resolveria tudo, claro. Pois
eis o futuro das novidades-monstro chegando. Porém, ao que
parece, ele não foi feito para heróis. Agora as palavras
da moda são as que direcionam a consciência para o
coletivo: globalização, conexão, compartilhamento,
corporativo, comunitário, solidário, planetário,
cósmico...
Celacanto
provoca maremoto
- Frase-título de episódio do Nacional
Kid (herói japonês da década de
60), famosa pela pichação de um carioca
na década de 80.
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De repente, todos sentem que "eu", sozinho,
não vai mais salvar ninguém. "Eu", hoje
em dia, é aquilo que se vê no reality-show: um "eu"
que não salva nem a si mesmo, ao contrário, que busca
equivocadamente a salvação (Netuno, Peixes) através
da aprovação coletiva via internet (Urano, Aquário).
E as pessoas que o assistem (em todos os sentidos da palavra assistir),
conectadas a uma distância confortável, estão
procurando semelhanças, exercitando empatia (Netuno em Aquário).
E o que pode acontecer aos empaticamente conectados
quando Urano entrar em Peixes?
Tentei percorrer a história, ver quando Urano
esteve em Peixes ao mesmo tempo em que Netuno estava em Aquário.
Encontrei, começando em 1836, o período das revoluções
liberais, do nacionalismo, do romantismo. O mundo toma ciência
de recém-decifrados escritos antigos, o que dá impulso
à vertente mística que mais tarde se firmará;
aprende a conviver com a massa operária recém-surgida
(primeiro sindicato, primeira cooperativa); e forja incríveis
aparatos (a máquina fotográfica, o relé eletromagnético,
o revólver) que reinventarão as ações
do indivíduo, elevando-as para além de seu gesto imediato,
da sua habilidade física específica.
Urano
rege a fraternidade e a igualdade, mas muitas pessoas "fraternas"
gostam mesmo é da igualdade delas. A igualdade dos
outros fica parecida com a dos súditos da Rainha de
Copas: de cabeça cortada.
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Mas eu falava em novidades-monstro. Por que a imagem
assustada? Porque em 2003 a mútua recepção
de Urano e Netuno acontecerá sob o patrocínio de Plutão
em Sagitário. Isso também aconteceu antes, mas por
um período curto, entre 1506 e 1508:
Depois das grandes navegações, grandes
expectativas. Depois da imprensa, a secularização
dos saberes. Esse período influenciou a juventude de Martin
Lutero (salvação pela fé), Thomas Morus ("Utopia"),
Erasmo de Roterdam ("Elogio à Loucura", satirizando
os abusos da igreja) etc.; assistiu à maturidade de Leonardo
DaVinci e outros mestres geniais; e presenciou grandes conflitos
religiosos. Em meio a tudo isso Maquiavel, o pai do estado moderno,
estava desconectando o pensamento político da moral cristã
e dizendo que, pelas nobres razões do estado, "os fins
justificam os meios". Resumo possível: de um lado, uma
religiosidade que se abstrai da realidade terrena em busca da fé
pura; de outro, príncipes felizes tomando a si essa realidade.
Quais seriam, no futuro próximo, as novas
práticas, religiões e expectativas? Devemos supor
que o futuro repetirá do passado? É possível
enquadrá-lo num padrão anterior? Trata-se de Urano:
ele quebra padrões; de Netuno: ele entrelaça padrões;
e de Plutão em Sagitário que, intolerante com os padrões
atuais, poderá dar à inspiração (Netuno)
para mudanças (Urano) muitos motivos para entrar em pânico
(Netuno) coletivo (Urano), com consequências terríveis,
porque agora existe o fato inédito de um mundo realmente
conectado. Não temos só uma conexão metafórica,
temos uma conexão econômica e cultural real.
O signo de Peixes tem um leque muito grande de opções.
Simbolizado por um peixe que sobe e um peixe que desce, ele sente
o que há de inferior e de superior no mundo e se move conforme
vai distinguindo um do outro, o que não é fácil:
É desapego ou fuga? Paz ou entorpecimento? Iluminação
ou ilusão? Urano dirá: "pensa rápido!"
e jogará uma onda de idéias sobre nós. Plutão
em Sagitário responderá: "pensar pra quê?
eu já sei o que é melhor". E Netuno nos engajará.
Onde? Como?
Quando
vier Urano, sem piedade, não virão heróis...
talvez, com sorte, venham Maquiavéis.
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O revolucionário Urano é insaciável
em suas produções, e o reino de Netuno, embora contemporizador,
abriga monstros, gigantes aprisionados... esperando... Quando vier
Urano, sem piedade, despertar essa incubadora de possibilidades,
pode ser que a gente se surpreenda gritando como figurantes de Nacional
Kid: "maremoto! maremoto!" Mas não virão
heróis... talvez, com sorte, venham Maquiavéis.
Urano em Peixes vai nos fazer sentir o novo que já
foi semeado por todo o canto graças à sua passagem
por Aquário e já se faz infiltrar, já subjaz
como ideal, já é um sonho de futuro, graças
à estadia de Netuno em Aquário. Esse novo, que ainda
está brotando, será trazido à tona e, para
o bem e para o mal, enfrentará os efeitos de Plutão
em Sagitário fazendo a humanidade trilhar caminhos surpreendentes.
Talvez não de modo consciente, mas certamente de modo radical.
Na história humana certos fatores se repetem mas outros surgem
de inesperadas e sub-reptícias maneiras. Imprevisíveis
maneiras.
Otimistas esperam inspirações humanitárias;
um mundo mais consciente de si mesmo, inclusão social, despertar
da vontade cósmica através das vontades individuais...
eu não tenho esse tipo de fé. Pode ser, por exemplo,
que a vontade cósmica pegue carona no peixe que desce e se
apresente como delírio coletivo, revolta ilusória,
narco-revolução, comandos globalizados... Urano rege
a fraternidade e a igualdade, mas muitas pessoas "fraternas"
gostam mesmo é da igualdade delas. A igualdade dos outros
fica parecida com a dos súditos da Rainha de Copas: de cabeça
cortada.
Eu desejo que o inesperado venha a ser tão
somente o inesperado. Vale a pena tentar fazer previsões
ou definir esse momento com nossas atuais correntes de pensamento?
Não creio que seja sábio. A Astrologia pode nos proporcionar
o raro prazer de explorar essa riqueza de possibilidades, riqueza
que não deve ser empobrecida por julgamentos apressados.
Temos muito a aprender sobre os planetas exteriores e, para os Astrólogos,
o mar tá pra peixe. Resta-nos escolher como surfar o maremoto:
tentando não perder a vida nem a alma, perdendo uma pra salvar
a outra, ou quem sabe desfrutando o fato de que não existe
perder ou ganhar.
BIBLIOGRAFIA:
LEO, Alan - "Astrologia Esoterica". Madri: Vision Libros,
1980.
KINDER, Hermann e HILGEMANN, Werner - "Atlas Histórico
Mundial", Madri:Istmo, 1986.
Saiba mais sobre Valeria
Bustamante.
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