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O IMPACTO DA ENTRADA DE URANO EM PEIXES

Celacanto provoca maremoto

Valeria Bustamante

 

Quando eu assistia "Nacional Kid" na TV, imaginava um futuro onde o mundo diariamente acordaria para o caos da aparição súbita de um tipo qualquer de novidade-monstro. Esse mundo sob constante ameaça daria muito trabalho aos heróis. Mas eu seria um deles e resolveria tudo, claro. Pois eis o futuro das novidades-monstro chegando. Porém, ao que parece, ele não foi feito para heróis. Agora as palavras da moda são as que direcionam a consciência para o coletivo: globalização, conexão, compartilhamento, corporativo, comunitário, solidário, planetário, cósmico...

Celacanto provoca maremoto - Frase-título de episódio do Nacional Kid (herói japonês da década de 60), famosa pela pichação de um carioca na década de 80.

De repente, todos sentem que "eu", sozinho, não vai mais salvar ninguém. "Eu", hoje em dia, é aquilo que se vê no reality-show: um "eu" que não salva nem a si mesmo, ao contrário, que busca equivocadamente a salvação (Netuno, Peixes) através da aprovação coletiva via internet (Urano, Aquário). E as pessoas que o assistem (em todos os sentidos da palavra assistir), conectadas a uma distância confortável, estão procurando semelhanças, exercitando empatia (Netuno em Aquário).

E o que pode acontecer aos empaticamente conectados quando Urano entrar em Peixes?

Tentei percorrer a história, ver quando Urano esteve em Peixes ao mesmo tempo em que Netuno estava em Aquário. Encontrei, começando em 1836, o período das revoluções liberais, do nacionalismo, do romantismo. O mundo toma ciência de recém-decifrados escritos antigos, o que dá impulso à vertente mística que mais tarde se firmará; aprende a conviver com a massa operária recém-surgida (primeiro sindicato, primeira cooperativa); e forja incríveis aparatos (a máquina fotográfica, o relé eletromagnético, o revólver) que reinventarão as ações do indivíduo, elevando-as para além de seu gesto imediato, da sua habilidade física específica.

Urano rege a fraternidade e a igualdade, mas muitas pessoas "fraternas" gostam mesmo é da igualdade delas. A igualdade dos outros fica parecida com a dos súditos da Rainha de Copas: de cabeça cortada.

Mas eu falava em novidades-monstro. Por que a imagem assustada? Porque em 2003 a mútua recepção de Urano e Netuno acontecerá sob o patrocínio de Plutão em Sagitário. Isso também aconteceu antes, mas por um período curto, entre 1506 e 1508:

Depois das grandes navegações, grandes expectativas. Depois da imprensa, a secularização dos saberes. Esse período influenciou a juventude de Martin Lutero (salvação pela fé), Thomas Morus ("Utopia"), Erasmo de Roterdam ("Elogio à Loucura", satirizando os abusos da igreja) etc.; assistiu à maturidade de Leonardo DaVinci e outros mestres geniais; e presenciou grandes conflitos religiosos. Em meio a tudo isso Maquiavel, o pai do estado moderno, estava desconectando o pensamento político da moral cristã e dizendo que, pelas nobres razões do estado, "os fins justificam os meios". Resumo possível: de um lado, uma religiosidade que se abstrai da realidade terrena em busca da fé pura; de outro, príncipes felizes tomando a si essa realidade.

Quais seriam, no futuro próximo, as novas práticas, religiões e expectativas? Devemos supor que o futuro repetirá do passado? É possível enquadrá-lo num padrão anterior? Trata-se de Urano: ele quebra padrões; de Netuno: ele entrelaça padrões; e de Plutão em Sagitário que, intolerante com os padrões atuais, poderá dar à inspiração (Netuno) para mudanças (Urano) muitos motivos para entrar em pânico (Netuno) coletivo (Urano), com consequências terríveis, porque agora existe o fato inédito de um mundo realmente conectado. Não temos só uma conexão metafórica, temos uma conexão econômica e cultural real.

O signo de Peixes tem um leque muito grande de opções. Simbolizado por um peixe que sobe e um peixe que desce, ele sente o que há de inferior e de superior no mundo e se move conforme vai distinguindo um do outro, o que não é fácil: É desapego ou fuga? Paz ou entorpecimento? Iluminação ou ilusão? Urano dirá: "pensa rápido!" e jogará uma onda de idéias sobre nós. Plutão em Sagitário responderá: "pensar pra quê? eu já sei o que é melhor". E Netuno nos engajará. Onde? Como?

Quando vier Urano, sem piedade, não virão heróis... talvez, com sorte, venham Maquiavéis.

O revolucionário Urano é insaciável em suas produções, e o reino de Netuno, embora contemporizador, abriga monstros, gigantes aprisionados... esperando... Quando vier Urano, sem piedade, despertar essa incubadora de possibilidades, pode ser que a gente se surpreenda gritando como figurantes de Nacional Kid: "maremoto! maremoto!" Mas não virão heróis... talvez, com sorte, venham Maquiavéis.

Urano em Peixes vai nos fazer sentir o novo que já foi semeado por todo o canto graças à sua passagem por Aquário e já se faz infiltrar, já subjaz como ideal, já é um sonho de futuro, graças à estadia de Netuno em Aquário. Esse novo, que ainda está brotando, será trazido à tona e, para o bem e para o mal, enfrentará os efeitos de Plutão em Sagitário fazendo a humanidade trilhar caminhos surpreendentes. Talvez não de modo consciente, mas certamente de modo radical. Na história humana certos fatores se repetem mas outros surgem de inesperadas e sub-reptícias maneiras. Imprevisíveis maneiras.

Otimistas esperam inspirações humanitárias; um mundo mais consciente de si mesmo, inclusão social, despertar da vontade cósmica através das vontades individuais... eu não tenho esse tipo de fé. Pode ser, por exemplo, que a vontade cósmica pegue carona no peixe que desce e se apresente como delírio coletivo, revolta ilusória, narco-revolução, comandos globalizados... Urano rege a fraternidade e a igualdade, mas muitas pessoas "fraternas" gostam mesmo é da igualdade delas. A igualdade dos outros fica parecida com a dos súditos da Rainha de Copas: de cabeça cortada.

Eu desejo que o inesperado venha a ser tão somente o inesperado. Vale a pena tentar fazer previsões ou definir esse momento com nossas atuais correntes de pensamento? Não creio que seja sábio. A Astrologia pode nos proporcionar o raro prazer de explorar essa riqueza de possibilidades, riqueza que não deve ser empobrecida por julgamentos apressados. Temos muito a aprender sobre os planetas exteriores e, para os Astrólogos, o mar tá pra peixe. Resta-nos escolher como surfar o maremoto: tentando não perder a vida nem a alma, perdendo uma pra salvar a outra, ou quem sabe desfrutando o fato de que não existe perder ou ganhar.

BIBLIOGRAFIA:
LEO, Alan - "Astrologia Esoterica". Madri: Vision Libros, 1980.
KINDER, Hermann e HILGEMANN, Werner - "Atlas Histórico Mundial", Madri:Istmo, 1986.

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