Já ouvi inúmeras vezes a idéia
de que a próxima Era de Aquário seria uma época
de sonho e utopias. Que, entre outras coisas, John Lennon em sua
linda música Imagine cantava um desejo inviável!
Esta idéia me lembra uma frase, não me recordo o autor,
que diz:
"Não sabendo que era impossível,
ele foi lá e fez."
Considero a qualidade aquariana como aquela condição
em que os homens se unem para cooperar, sabendo distinguir, claramente,
qual a sua área de atuação no grande projeto.
E isto se deve à memória arcaica que trazemos, em
nossa humanidade, das imagens dos invernos pelos quais passaram
as primeiras tribos humanas e à necessidade de união
fundamental para o combate solidário às intempéries
naturais, sem a qual não haveria sobrevivência.
Da mesma forma, penso que o período que se
denominou Era de Peixes (numa menção ao Cristo, mas,
acima de tudo, às águas abissais) tem suas raízes
no mês do degelo, final de inverno, quando a destruição
prepara o próximo ciclo. A expressão da mais absoluta
unicidade é encontrada no esperar paciente, em estado quase
letárgico, que a natureza seja dissolvida.
Esta busca por eliminação de diferenças
seria inviável para a coletividade de um planeta onde existe,
obrigatoriamente, a dualidade entre dia e noite, Céu e Terra,
claro e escuro etc. A falta de distinção entre as
partes componentes, a unificação total, seria uma
situação possível sim, mas, no meu entender,
apenas nos planos da expressão fantástica, onírica,
intra?uterina, musical e nas experiências místicas.
Assim sendo, proponho que pensemos na sociedade aquariana
tomando por base o corpo humano.
No corpo humano, cada grupo de células tem
suas características próprias e trabalham em conjunto,
sendo componentes de um órgão ou tecido específico.
Para cada entidade em separado, a especialização e
o aprimoramento do que é conhecido permite saber a importância
de cada parte na engrenagem total.
Deste modo, cada uma das partes exerce sua função,
interligadas que estão, pelo sentido intrínseco de
manter a saúde e integridade do corpo como um todo.
Em alguns casos, quando uma das partes é lesada,
outra assume suas funções ou tenta compensá-las
de alguma forma.
Temos exemplos de pessoas que escrevem com os pés,
que "enxergam" através do tato, como a cega Helen
Keller, que sabia dizer, através do toque, a cor de uma rosa,
e assim por diante.
Deste modo, as empresas, os países e toda
a sociedade humana teriam como sobreviver apoiando-se mutuamente,
e cada uma das partes estaria seguindo sua verdadeira vocação
individual, respeitando e colaborando com as outras, sabendo da
importância de todas e de cada uma para a manutenção
da vida do corpo maior.
Assim, tomando como exemplo o nosso planeta, deixaríamos
a Suíça fabricar seus chocolates e relógios,
enquanto os japoneses aprimorariam a qualidade dos eletrônicos
e os franceses cuidariam dos queijos. Não veríamos
o Rio de Janeiro com fábricas de automóveis e sim,
deixando as indústrias aos paulistas enquanto cuidaria de
sua vocação para o lazer e o turismo.
Mas o corpo humano, como tudo na sábia natureza,
tem órgãos vitais que não podem, ainda, ser
substituídos. Daí, assim como o corpo falece, as empresas,
a sociedade e o mundo também entram em colapso quando seus
principais órgãos adoecem.
É o caso das grandes
potências que, como cérebros ou corações
do mundo, trazem a doença e a morte para a civilização
que nelas se apoiou integralmente. Isto ocorre também
nas empresas que detêm um poder central onde todo seu
corpo se apóia. |
De modo diverso, a sociedade aquariana propõe
a fraternidade. Uma anarquia, onde cada órgão tem
a consciência de sua importância e o compromisso para
com a saúde total, e dedica um tanto das células que
o compõem para exercerem, em conselho e consenso, juntamente
com as representantes de cada órgão ou tecido, as
funções dos órgãos vitais.
Assim, a pele da empresa, do estado e do mundo teria
células encarregadas, juntamente com outras do estômago
ou dos ovários, para compor um cérebro comandante
ou um coração que bombeasse recursos ou um rim que
filtrasse informações ou ainda pulmões que
se encarregariam das trocas e comunicações.
Desta forma, que certamente é difícil,
mas não impossível, ao adoecer ou cansar, cada setor
comandante teria sua sede também em outros setores, países,
cidades etc. e não haveria colapso total, e sim mudanças
constantes efetuadas pela colaboração em lugar da
competição desenfreada e individualista a que assistimos
hoje.
No corpo humano, os veículos de união
e nutrição entre todas as partes são os líquidos,
como o sangue e a linfa. Aquário e Peixes e seus planetas
representantes são os símbolos desta união
circulante, que através da música, das artes e das
experiências místicas, seriam o ponto de comunicação
universal e de igualdade pisciana deste corpo.
Nos primeiros passos de mais uma grande mudança
social, vemos este intercâmbio de expressões: Netuno,
o planeta dos Peixes, vem representando com suas águas, a
mensagem da fusão entre os homens.
Em março deste ano de 2003, Urano retorna
ao signo dos Peixes, trazendo transparência e claridade ao
degelo de uma era que termina.
Em janeiro de 1920, Urano entrava no signo dos Peixes
e, após a primeira guerra mundial, os EUA emergiram como
a maior potência capitalista, pois, durante a guerra, supriram
as necessidades dos países europeus dos mais diversos produtos.
A partir de então, apesar da grande crise
que ocorreu no ano de 1929 - a retração comercial
que culminou na queda da Bolsa de Nova York, o primeiro grande abalo
do sistema capitalista, atingindo quase todos os países do
mundo - os EUA foram gradativamente tornando-se o principal órgão
no corpo da Humanidade.
Já no final do século XX, nova crise
semelhante anunciava a doença que minava o corpo através
de seu órgão principal.
O presidente da Bolsa de Valores
de Nova York comparou o colapso do mercado a um acidente nuclear.
"É a coisa mais próxima da fusão total
que eu já vi", disse John Phelan, em 20/10/1987. |
Fusão é uma palavra netuniana. Só
que, neste caso, o veículo que unificava a Humanidade não
era a expressão fluida da linfa humana, nem a força
vital do sangue, e sim o materialismo, que endureceu as veias e
artérias da Comunidade.
Urano faz sua revolução em Peixes,
em 10 de março de 2003. Possivelmente, a doença da
primeira potência, que se instalou há 83 anos atrás,
traga sua morte e o nascimento de uma nova ordem comece a direcionar
o mundo. Mas há uma diferença entre os dois momentos,
que me parece fundamental.
Netuno estava em Leão, em janeiro de
1920 e a individualidade leonina representava o parâmetro
da totalidade. Agora, em Aquário, leva à compreensão
clara e límpida da libertação para, quem sabe,
à comunhão através da liberdade solidária.
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Schnoor.
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