Caindo
do cavalo
Alguns incidentes de forte conteúdo simbólico
pontuaram a festa cívica e popular da chegada ao poder do
novo presidente. Uma delas foi o inesperado enguiço do Rolls-Royce
presidencial, um automóvel cuja fama é de jamais precisar
de mecânico; outra foi a do Dragão da Independência
cujo cavalo empinou e esparramou-se no chão, derrubando o
cavaleiro; outro cavalo recuou de repente, atropelando o carro presidencial
e fazendo com que presidente e vice caíssem sentados. Por
fim, Fernando Henrique Cardoso, ao tirar a faixa, derrubou os próprios
óculos, que foram apanhados no chão por Lula. O novo
governo, enfim, tropeçou no cerimonial. Além do mais,
Lula passou toda a festa com dores no ombro, resultado de uma incômoda
bursite.
Consideremos os significadores: cavalos são
animais sagitarianos, regidos, portanto, por Júpiter. Secundariamente,
podemos atribuir-lhes também uma regência pisciana
(animais de grande porte). Automóveis são regidos
por Mercúrio, Gêmeos e casa 3, enquanto motores, especificamente,
caem sob a regência de Marte. Contudo, um Rolls-Royce não
é um carro comum, e sim uma limusine, um carro de luxo e
cerimônia, de festa e ostentação. Não
seria incorreto, pois, atribuir-lhe uma regência de Vênus
e Júpiter. Óculos são regidos por Lua (significadora
geral de lentes, espelhos e congêneres) e também por
Netuno (um aparelho de complementação de função).
Já a bursite obrigou Lula a passar parte da cerimônia
com a mão sobre o ombro, região do corpo regida
por Gêmeos e Mercúrio.
A maioria dos contratempos da festa envolveu, portanto,
significadores de pompa e cerimônia (limusine, cavalos da
guarda presidencial), assuntos sagitarianos e elementos de um universo
aristocrático que parece pouco compatível com um presidente
de origem operária.
Já os óculos de FHC parecem carregar
outra conotação. Ao tirar a faixa (o símbolo
do poder) o ex-presidente também perdeu os óculos,
como se para ele só fosse possível enxergar o mundo
com os olhos do poder. Fernando Henrique é representante
de uma intelectualidade brasileira moldada nas universidades do
exterior, com forte viés elitista. Ao devolver-lhe os óculos,
é como se Lula propusesse às elites intelectuais uma
nova perspectiva de compreensão da realidade nacional, uma
nova forma de olhar que não é mais exclusivamente
a do grupo hegemônico. Simbolicamente, devolver a FHC os óculos
que foram ao chão tem o mesmo sentido de levar o ministério
para visitar o sertão nordestino.
O ato físico de enxergar não é
regido por estes signos, mas a perspectiva de compreensão
do que é visto, que depende do background cultural,
tem tudo a ver com o eixo Gêmeos-Sagitário. Gêmeos
entra com a informação, enquanto Sagitário
simboliza o embasamento ético e filosófico que dá
sentido a esta mesma informação. Todos os mapas de
posse e transmissão de cargo do dia 1° de janeiro, o
que inclui Lula e os 27 governadores, apresentam ênfase no
eixo da cultura e da perspectiva de compreensão, uma vez
que a Lua ativava a oposição de Saturno em Gêmeos
a Plutão em Sagitário. Esta oposição,
que coloca em primeiro plano a questão do uso de estruturas
de poder, já estava presente no mapa do Descobrimento do
Brasil, onde ocupa o eixo das casas 1 e 7. No mapa da transmissão
de faixa de FHC para Lula, eis de novo a mesma oposição,
só que em posições trocadas: agora é
Saturno que ocupa a casa 1, enquanto Plutão está na
7. Tal inversão sugere uma possibilidade de repolarização
de pontos de vista e de desenvolvimento de um novo approach
ético e filosófico para assuntos velhos de cinco séculos,
como a questão da distribuição da terra.
Lula: Ascendente em Sagitário?
Toda esta ênfase em questões jupiterianas
sugere que Lula, ele próprio, seja um presidente com Ascendente
em Sagitário, consubstanciando, pois, uma nova forma de perceber
e conduzir as grandes questões sagitarianas da administração
pública: ética, justiça e filosofia de governo.
Costumeiramente atribui-se ao novo presidente um Ascendente em Escorpião
ou mesmo Libra. A primeira defensora convicta do Ascendente em Sagitário
foi a astróloga carioca Martha Pires Ferreira, cuja percepção
vem sendo reforçada por algumas pequenas evidências:
- No discurso de posse, Lula declarou-se mais de
uma vez "o homem mais otimista do mundo", uma expressão
que comporta um toque duplamente sagitariano: pelo otimismo e pelo
exagero.
- No discurso para o povo, no parlatório,
Lula afirmou que "ninguém conhecia melhor o país"
do que ele próprio. Ao cometer este outro exagero e ao chamar
a atenção para sua condição de migrante
e político viajado, novamente estava sendo sagitariano.
E mais: o sorriso largo, o jeito direto e assertivo,
a barriguinha proeminente, tudo em Lula assinala o tipo físico
jupiteriano sob o qual pulsa a intensidade escorpiana. Por último,
há que recordar que Lula, que vem fazendo inegável
sucesso com o público feminino, tem covinhas no rosto, que
a barba mal esconde. Covinhas são uma marca registrada de
Libra e Vênus, e onde está Júpiter, possível
regente do Ascendente, em sua carta? Exatamente em Libra, em conjunção
com Vênus.
Conclusões. Hum...
Conclusões?
A conclusão que podemos tirar ao escrever
este artigo, apenas dois dias após a posse, é que
falta muito para termos elementos para chegar a conclusões
definitivas. O país está mudando, e de forma irreversível.
Esta é a única certeza. Revendo todos os mapas, percebemos
que a Lua fora de curso e as tensões presentes nos mapas
da posse e da transmissão da faixa são compensadas
pela impressionante interação destas cartas com as
do Descobrimento, Independência e Proclamação
da República. É como se Lula viesse para representar
um ato de uma peça já esquematizada há séculos,
e cujo texto definitivo está sendo escrito agora. A Lua fora
de curso pode não ser o impedimento à ação,
mas o sinal de que só existe uma ação possível,
que é o enfrentamento de questões que antecedem de
muito esta geração. Atrás de Lula vêm
tupis e tupinambás, vem a legião dos degredados, dos
caboclos, dos escravos, dos imigrantes, dos flagelados, dos garimpeiros
e aventureiros que ampliaram as fronteiras, vem, enfim, um país
inteiro. Um país que certamente não precisa de Rolls-Royces
para seguir adiante.
Leia também sobre a posse
dos governadores.
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