Mortari e a história
do micro roubado
Certa vez tive um computador roubado, acho que um
200 mhz, o supra-sumo da época. Meu único bem material
- e ferramenta de trabalho. Tinha um livro inteiro lá dentro,
que se escafedeu. O Dr. Mortari mobilizou um pessoal - entre eles
o Adonis Saliba, um outro sujeito que vendia máquinas pra
gente e cujo nome me foge no momento, também o Osmar Jardim,
de quem me lembrei agora... - no dia seguinte, me deram, cada um,
um pedaço de computador; e, assim, um novo PC foi montado.
Era o suficiente para que eu pudesse trabalhar. Jamais me esquecerei
desse gesto de amizade que, inclusive, foi um gesto de cura real
para mim.
Tem muitos casos, alguns hilários, outros
bem tristes e outros amargos... vivemos muitos momentos nessa amizade
que tem história, que deixou uma história mais rica
e plena em minha vida. História de amizade real...
Só quero dizer mais uma coisa que é
importante, nesse jeito que achei de chorar aqui...
Em certos momentos, quando senti um vazio imenso
em minha existência, solidão quase cósmica,
quase absoluta, tristeza pela história triste da vida - talvez
um pouco de pena de mim mesmo... - nesses momentos, o Sérgio
representou a figura de um pai que não tive, um pai que não
conheci; e isso me fez muito bem, e sou grato por ter tido essa
oportunidade.
Mais um ser humano, um espírito que veio aqui
aprender e aprendeu muito, que completou o curso, o estágio,
podendo ir para outro plano se preparar para, em algum momento,
iniciar outro aprendizado. Faz falta a pessoa, o corpo sente falta
da energia, da troca, mas o espírito está em paz -
porque esse compartilhar ajudou a compor a história de nossa
vida, torná-la mais densa, mais inteira, mais real e absoluta
e verdadeira.
Sou imensamente grato pelo privilégio que
o universo me concedeu de conviver com esse velho saturnão,
com esse amigo de verdade, que nunca me traiu e sempre esteve presente.
Agora, se me permitem, vou para casa chorar um pouco.
Valdenir Benedetti, que estava de passagem
em São Paulo quando soube da morte do Dr. Sérgio Mortari,
escreveu a versão original deste texto em um cybercafé,
após retornar do velório, e distribuiu-o por algumas
listas de discussão na Internet. Yeda Lopes Guarisi,
conhecida tradutora e moderadora de listas de Astrologia e temas
conexos, fez a revisão e condensação do texto
original.
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O
Médico, o astrólogo e o professor - I
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Celisa Beranger |
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Convivi com ele durante dois anos e meio, entre maio
de 1998 e dezembro de 2000, quando ele vinha ao Rio uma vez por
mês para dar o curso de Astrologia, Mitologia e Simbologia
da Saúde no Espaço do Céu. Sei de sua alegria
por termos conseguido concluir a primeira turma com a apresentação
de trabalhos de pesquisa, em evento gratuito que promovemos em novembro
de 2000 e o Espaço do Céu publicou em livro lançado
em junho de 2001 no FNAC. Embora ele desse o curso desde 1991 em
São Paulo, nunca tinha conseguido que os alunos concluíssem
com trabalhos e citou isso em sua palestra em congresso em dezembro
de 2000 em São Paulo. Devido a esta convivência, embora
eu já o conhecesse desde 1990, quando vinha ao Rio para dar
cursos na Astroscientia, era muito grande a amizade que nos unia,
incluindo sua esposa Ana, que o acompanhava sempre que vinha ao
Rio para o fim de semana. Tive o privilégio de conviver com
ele e sempre que eu ia a São Paulo nos encontrávamos.
No sábado [17 de agosto], apesar de estar muito atribulada,
ainda consegui conversar com ele por cerca de meia hora e ele falou-me
que finalmente estava com dois livros acertados com uma editora,
coisa que eu insistia com ele há anos. Haveria muito mais
a dizer a respeito de sua inestimável colaboração
para a astrologia e seu desejo de criar astrólogos que se
especializassem para trabalhar junto aos profissionais de saúde.
Celisa Beranger é presidente do SINARJ e diretora
da Escola Espaço do Céu, no Rio de Janeiro.
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O
Médico, o astrólogo e o professor - II
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Ana Teresa Ocampo |
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Fiz o curso de Astrologia e Saúde do
Dr. Sérgio Mortari em São Paulo durante o ano
de 1997 e parte do de 1998. Eu o havia conhecido algum tempo
antes, durante um encontro de astrologia. Conversamos um pouco
e eu gostei dele. Então decidi fazer o curso, mesmo
sendo em São Paulo e eu morando no Rio de Janeiro.
A metodologia de trabalho dele era, ao mesmo
tempo, muito organizada e muito fluida. Cada uma das aulas
acompanhava-se de uma extensa apostila, compilação
de muitas informações recolhidas nos longos
anos de estudo, e acrescida de suas próprias impressões
sobre os temas. Mas justamente essa vastidão de conhecimentos
e experiências era o que impedia que ele seguisse, cartesianamente,
suas aulas. O que, em termos de Astrologia, era bom, porque
permitia que cada um de nós também acrescentasse
suas próprias idéias e experiências, enriquecendo
um bocado as aulas.
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O Dr. Sérgio era, além
de homeopata, especializado em Medicina Tradicional Chinesa e a
capacidade de unir esses conhecimentos com a Astrologia, de forma
tão criativa, fez dele, claramente, um marco no ensino da
Astrologia brasileira. Ele fará muita falta, sem dúvida.
Mas deixou muitas sementes nos corações de todos nós
que fomos seus alunos, e dos que o conheceram. E acho que, de certa
forma, essa é uma das mais belas maneiras de se imortalizar.
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A última conversa:
um presente de despedida, por Waldemar Falcão
Hoje fui me despedir de meu amigo, por
Valdenir Benedetti
Outros textos de Valdenir
Benedetti e Ana
Teresa Ocampo.
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