Você fala latim? Ou conhece alguém
que conheça o suficiente para arriscar-se na tradução
de uma obra-prima? Quem lança o desafio é o astrólogo
e pesquisador paulista Raul V. Martinez, e a obra-prima em questão
é nada menos que a Astrologia Gallica, de Jean-Baptiste
Morin, que divide com a Christian Astrology, de William Lilly,
a glória de ser o mais importante tratado astrológico
escrito entre o Renascimento e o século XIX. A seguir, conheça
os detalhes de como a Astrologia Gallica veio parar no Brasil.
A Astrologia Gallica e seu
autor
Jean Baptiste Morin, maior astrólogo do século
XVII, nasceu de uma família modesta, em Villefranche, na
região francesa de Beaujolais, em 23 de fevereiro de 1583,
às 8h33 da manhã, hora local. Foi um pisciano com
Ascendente em Áries conjunto a Plutão e um stellium
na casa 12, onde aparecem Sol, Júpiter, Saturno, Lua e Netuno
(todos em Peixes).
Morin ascendeu socialmente de maneira muito penosa
e por seu exclusivo esforço. Foi matemático e filósofo.
Formou-se em Medicina pela Universidade de Avignon, em 1613, e exerceu
a profissão por doze anos, sempre em condições
subalternas. Enfim, foi um verdadeiro erudito. Caracterizou-se por
uma objetividade que pode ser considerada científica e por
uma franqueza que lhe valeu um bom número de inimigos. A
Astrologia entrou em sua vida em 1614, por influência do escocês
William Davidson. Previsões espantosamente corretas granjearam-lhe
progressiva fama junto à nobreza, incluindo a proteção
da rainha Maria de Médicis. Morin foi o astrólogo
presente ao parto do futuro rei Luís XIV, cujo mapa foi o
primeiro a levantar com precisão.
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Assim era o grande Jean-Baptiste Morin, ou
Morinus, que dotou a Astrologia de uma base teórica lógica,
orgânica e consistente. |
Por outro lado, Morin teve de enfrentar também
perseguições e dissabores, como ameaças de
prisão, emboscadas e ódios ferozes de ex-patrões,
além de graves enfermidades, pobreza, preconceitos e riscos
de toda sorte. Muitas destas dificuldades foram provocadas pelo
seu temperamento, que ele próprio descreve como "luxurioso
e vingativo". Morin envolveu-se em pelo menos uma centena de
casos amorosos e, em 1605, levou duas punhaladas de um rival, que
quase o mataram.
Morin morre em 6 de novembro de 1656, cercado de
glória e de respeito. Naturalmente, foi capaz de prever a
própria morte, com a mesma precisão de outros prognósticos
impressionantes. Sua obra mais importante, a Astrologia Gallica,
seria publicada postumamente, cinco anos mais tarde.
A Astrologia então praticada era uma mistura
confusa de velhas tradições gregas e orientais acrescidas
de contribuições árabes e de distorções
de todo tipo, que foram-se acumulando no decorrer da Idade Média.
A grande contribuição de Morin à Astrologia
consistiu em dotá-la de um metódo coerente, baseado
em definições, axiomas e postulados e em procedimentos
sistemáticos de análise.
Sobre a Astrologia Gallica, assim se refere o astrólogo
Spicasc, em artigo publicado na revista Astrologia, do Centro de
Astrologia de Buenos Aires:
Esta obra colossal em conteúdo e extensão,
escrita em latim um tanto corrupto, como a maioria dos textos doutos
da época, veio à luz em 1661 em Haia, na Holanda,
cinco anos após a morte de Morin.
Como afirma o professor W. Knappich, autor da erudita
obra Geschichte der Astrologie (História da Astrologia),
a obra de Morin passa a ser, desde o momento de sua aparição,
a verdadeira Summa Astrologica, a enciclopédia obrigatória
dos astrólogos cultos e versados. Consta a Astrologia Gallica
de vinte e seis tomos tamanho in folio, com um total de 820 páginas,
incluindo 39 tábuas e 80 horóscopos de exemplo.
A seguir Raul Martinez conta como
o livro chegou ao Brasil e o que se pode fazer para traduzi-lo.
As três primeiras páginas da edição original
estão disponíveis para donwload, em versão
PDF. Você pode ver também a folha
de rosto da edição original, de 1661, em imagem
JPG de baixa resolução.
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