Para uma "senhora idosa", que é como me definem minhas filhas, sempre foi um tantinho difícil entender uma personalidade como a de Cássia Eller. Quando a vi levantando a blusa e exibindo os seios no palco do Rock in Rio, a primeira reação foi de um indignado conservadorismo: "Precisava fazer uma coisa dessas? A moça até que canta direitinho, não carece de apelar para exibicionismo. Muito menos adotar essa aparência masculinizada e largadona de bad boy!" "Ih, mãe", reclamou uma de minhas flhas, "por que tanto preconceito? Não é você que vive dizendo que a astrologia alargou sua visão de mundo?"

Ao saber da morte da cantora, ocorrida em 29 de dezembro de 2001, às 19h05, lembrei imediatamente da conversa de meses atrás. Quem seria realmente essa moça cujas atitudes atrevidas chocavam a moral da classe média e que deixara a vida de uma forma tão abrupta, no auge do sucesso?

Observando sua carta solar, algumas respostas começaram a aparecer. Não dão conta da história toda, pois um ser humano nunca está totalmente aprisionado em seu mapa. Mas permitem compreender que, para aquela moça atrevida, viver não devia ser uma aventura muito fácil.

Sol em quadratura com Plutão, num mapa natal, sempre é sinal de uma certa dureza. É rispidez na relação da pessoa com o mundo, mas principalmente consigo mesma. Algo do tipo: "As minhas barras eu seguro sozinha, eu me viro, eu tenho que ser forte." O desafio que este aspecto coloca é o de aprender que não precisamos controlar o mundo. Ou descobrir que não precisamos fazer algo único e excepcional para sermos respeitados. Que podemos ser frágeis - e temos este direito. Mas é dificil relaxar para quem tem Sol-Plutão tensionados. É um aspecto compulsivo, que cobra de nós que sejamos íntegros e honestos, deixando vir à tona tudo de negativo que precisa ser transformado. Acontece que conviver com um vulcão interior sempre pronto a expelir conteúdos dolorosos não é nem um pouco confortável. Então, muita gente com esse aspecto se defende criando cascas, aparentando uma rigidez que é pura defesa, ou exteriorizando um descaso com os sentimentos que esconde as feridas abertas.

Sempre foi uma artista apoteótica: no palco, mostrava os peitos, cuspia no chão, rasgava a roupa. Mas Cássia era tímida. (Jornal do Brasil, 30.12.2001)