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DISCUTINDO
O PAPEL DA ASTROLOGIA
Sugestões
para a
Astrologia Brasileira
Marcelo Yamauchi
Este breve artigo surgiu por ocasião de uma discussão em
torno do mapa de Tiradentes , no final de abril de 2000, e, mais recentemente,
durante conversas virtuais que mantive com o colega Milton Umbelini, que
me incentivou a publicar estes tópicos na forma de artigo. Dedico-o
aos pesquisadores que têm batalhado por uma Astrologia genuinamente
nacional, remando na contramão das globalizante$ tendência$
mundiais.
O problema da (falta de)
tradição
No caso da Astrologia Ocidental, podemos afirmar
que existem algumas vertentes históricas básicas, de acordo
com a escola de pensamento, o momento quando surgiram e as circunstâncias:
Tradição Greco-Romana - É o cerne da Astrologia
ocidental moderna, representada pelas figuras de Ptolomeu, Aratus, Firmicus
Maternus etc., desembocando na linha medieval cujos maiores representantes
foram Guido Bonatti e Marcilio Ficino.
Tradição Árabe/Persa/Judaica - Al-Biruni,
Albumazar, Messahala, Ben Ragel, Ben Ezra etc., que, por sua vez, influenciaram
a astrologia ibérica medieval, cujo maior expoente foi o Rei
Afonso X.
Tradição Medieval-Clássica - Já citada
antes, acrescentando-se as figuras de Campanus, Regiomontanus, Agrippa
etc.
Tradição Renascentista-Clássica Francesa
- Talvez a precursora da escola clássica francesa do século
XX, teve como expoentes as figuras de Nostradamus, Junctin (este um
italiano, mas "importado" para a França por Catarina
de Medicis) e o famoso Jean-Baptiste Morin.
Tradição Renascentista/Clássica Inglesa
- Ressaltam-se as figuras de John Dee, Henry Coley, William Lilly, Culpeper,
Ramesey e outros.
Destes ramos, podemos dizer que a antiga escola greco-romana, enriquecida
com a Astrologia dos sábios árabes, persas e judeus, teve
uma continuidade nas tradições latina, francesa e inglesa.
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Al-Biruni, nascido no atual Usbequistão
em 15.9.973 e falecido no atual Afeganistão em 13.12.1048,
foi erudito de conhecimento enciclopédico e um dos mais importantes
astrólogos do mundo islâmico. |
Infortunadamente, devido ao tumulto causado pela Reforma
Protestante e o ulterior Concílio de Trento, era natural que a
vinculação entre magia e Astrologia causasse suspeitas,
principalmente na Inquisição.
Afora isto, as mudanças de formas de pensamento,
com o surgimento do Cartesianismo, predispunham os espíritos a
rechaçar qualquer coisa vinculada à visão humanista
dos séculos anteriores.
Assim, a partir dos meados do século XVII, a Astrologia foi relegada
a segundo plano e paulatinamente expulsa das Universidades e cortes européías,
também encerrando-se o período da ambígua "convivência"
que teve com a Igreja.
Destes ramos, somente subsistiu a Linha Inglesa, uma vez
que nesta época a Inglaterra tinha leis relativamente brandas de
liberdade de pensamento, em comparação com o restante do
continente. Mas isto não impediu que, já em meados do século
XVIII, ela fosse relegada à condição de uma espécie
de conhecimento secundário, sobrevivendo, para além dos
meios ocultistas, meramente através de almanaques e efemérides
populares.
Esta quebra na tradição já havia
começado a manifestar-se um pouco antes, com Kepler, que teve de
desenvolver sua própria teoria de aspectos e outros procedimentos
novos, em parte por seu espírito cético e crítico
e em parte pela perda temporária de conexão com as tradições
do passado.
Não nos cabe agora, neste artigo, discutir a fundo o problema dos
(des)caminhos da história da Astrologia. Mas é inegável
que ela sofreu e muito com a perda da seqüência da tradição,
e, o que é pior, dos conhecimentos orais transmitidos de mestre
para discípulo. Se isto não deixou de ter seqüelas
até nos países de maior tradição astrológica,
como Itália, França e Inglaterra, quanto mais nos países
ibéricos, onde a influência da Inquisição falou
mais alto, sepultando toda uma linha de pensamento genuinamente latino-mediterrânea,
com toques sarracenos...
Do prestígio ao banimento
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Heinrich Cornelius Agrippa de Nettesheim,
um típico representante do Renascimento, nasceu em 14.9.1486,
em Colônia, Alemanha; morreu em Grenoble por volta de 1534. |
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