"Eddie", a sorridente caveira dos shows da banda Iron Maiden, foi adotado como mascote da torcida Força Jovem, do Vasco. |
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As muitas caras da torcida do Vasco Originalmente formado pela colônia portuguesa do Rio de Janeiro, o Vasco tem a segunda maior torcida da cidade e uma das maiores do Brasil. O Vasco não é e nunca foi um clube de elite: seus torcedores estão distribuídos por todas as classes sociais, com maior concentração nas classes C e D, e muitos preservam hábitos de épocas mais tranqüilas, quando ir a um estádio ainda era programa relativamente isento de riscos. É possível encontrar na torcida do Vasco muitas famílias - marido, mulher e crianças - seja de imigrantes portugueses e seus descendentes, seja de gente que vem de todas as partes do subúrbio e das cidades próximas. Por outro lado, foi também nas arquibancadas vascaínas que nasceu o fenômeno social das torcidas organizadas que reúnem massas de adolescentes e de adultos jovens movidos por uma disposição eminentemente bélica. Para tais facções, ir ao estádio é muitas vezes pretexto para o extravasamento da violência que começa com a provocação ao torcedor adversário e termina, não raro, em pancadaria, batalha campal e morte. O exemplo mais antigo e mais acabado das torcidas organizadas é a Força Jovem, fundada em 19 de fevereiro de 1970 e com uma organização interna que lembra a de uma confraria paramilitar, visível na estruturação em "famílias", nos gritos de guerra e no "mascote", a figura de uma caveira com longos cabelos. Torcidas esportivas normalmente são agressivas, sendo que tal agressividade, quando restrita ao nível simbólico, cumpre uma função de catarse coletiva e de afirmação de valores comuns em torno de uma referência - o clube. Sendo o futebol é um combate simbólico (Marte), a torcida exercita o mecanismo de identificação com o combatente, podendo, neste sentido, ser associada à Lua e a Netuno (mecanismos de projeção da massa, emoção coletiva), assim como às casas 11 (o pertencimento a um grupo) e 4 (o clube e os demais componentes da torcida como substitutos da família - uma outra forma de manifestação do sentido de pertencimento). Nas últimas três décadas, a violência das torcidas vem progressivamente abandonando o terreno do simbólico para tornar-se real: as inflamadas facções deixam de ser coadjuvantes do espetáculo para exercerem o papel de protagonistas, assumindo diretamente a função marciana, como a demonstrar que o mecanismo simbólico já não é eficaz para dar conta da agressividade latente nos grandes aglomerados urbanos. Foi exatamente na área das arquibancadas ocupada pela Força Jovem que surgiu a briga detonadora de todos os incidentes do estádio de São Januário. Faltou pouco para que não se repetissem as cenas de horror de 1964 no Estádio Nacional de Lima, quando um gol anulado na partida Peru x Argentina desencadeou uma revolta popular que terminou com 300 mortos. Ou as cenas igualmente dantescas de 29 de maio de 1985, no estádio Heysel de Bruxelas, quando torcedores ingleses do Liverpool (os temíveis hooligans) massacraram e mataram 41 torcedores da Juventus da Itália. A violência nos estádios, transformada em praga mundial, chegou a levar o governo argentino, em 1999, a proibir o futebol durante algumas semanas, até que fossem discutidos procedimentos de segurança realmente eficazes para evitar os conflitos entre facções das torcidas organizadas locais, os Barra Bravas. Para entender melhor o papel da Força Jovem como gatilho da trágica correria de São Januário, podemos comparar o mapa do evento com a carta solar desta torcida organizada. A Força Jovem nasceu com o Sol em Peixes e em quadratura a Netuno no primeiro grau de Sagitário. É um aspecto que expressa o desejo de perder-se na multidão, de abrir mão da individualidade em prol de uma dissolução no grupo. É a torcida como adoração fanática, como entrega total, como via de escape mediante a projeção plena. É também um fator fortemente emocional. No confronto com o mapa da multidão a derrubar o alambrado do estádio, Netuno e Sol da Força Jovem aparecem ativando tensamente a quadratura de Júpiter na casa 1 à Lua na casa 10 do mapa dos acontecimentos de 30 de dezembro. É um aspecto que envolve ocorrências de massa (Netuno e Lua), exagero ou hipertrofia (Júpiter) e ainda um componente de engano, de percepção confusa do que ocorre à volta. Como Netuno rege o inconsciente e os oceanos, é um significador adequado para a maré humana sendo arrastada arquibancada abaixo, sem ter tempo de entender exatamente o que estava acontecendo.
Aspectos tensos Sol-Netuno, como o que está presente no mapa da fundação da Força Jovem, tendem a produzir um "complexo de Joana d'Arc". Como força coletiva, a Força Jovem crê-se imbuída de uma missão especial, da qual depende o sucesso do time e pela qual está disposta a sacrificar-se, se for necessário. Todas as torcidas organizadas, aliás, apresentam este componente netuniano, com comportamentos que vão do fanatismo cego à identificação com o papel de herói-mártir. Não há nada que se pareça mais com o espírito das cruzadas medievais do que uma caravana de torcedores que viaja longas distâncias em ônibus fretados, disposta a enfrentar todos os obstáculos para torcer por seu time na cidade do adversário. Na visão do torcedor, é uma guerra santa, que justifica de antemão todos as loucuras, todos os sofrimentos e todos os abusos. Aliás, que aspecto melhor poderia definir a idéia de guerra santa do que os contatos Marte-Netuno? E eles não faltaram entre os ingredientes do jogo de 30 de dezembro, a começar pelo próprio mapa de fundação do Vasco da Gama, que já apresenta uma conjunção Marte-Netuno em Gêmeos. Além disso, a partida começara sob uma fechada quadratura de Marte no quinto grau de Escorpião a Netuno no sexto grau de Aquário, aspecto que se superpunha à quadratura do mapa natal da Força Jovem, envolvendo Júpiter em Escorpião e Mercúrio em Aquário. Mercúrio-Netuno é o clássico aspecto do mal-entendido; Júpiter sobre Marte é um reforço ao comportamento irresponsável e adolescente que leva às aventuras juvenis e ao extravasamento inconseqüente de energia. Vemos, portanto, que a Força Jovem teve papel destacado nos conflitos que resultaram em 169 feridos, três deles em estado grave. Contudo, a torcida organizada foi apenas massa de manobra de outros interesses. Segundo informações de O Globo, a diretoria do Vasco colocou apenas 33 mil ingressos à venda. Por outro lado, forneceu outros vinte mil ingressos "por fora" às torcidas organizadas, com o claro objetivo de superlotar o estádio e transformá-lo numa panela de pressão. A diretoria do São Caetano fizera um acordo de cavalheiros com a do Vasco, fornecendo cinco mil ingressos aos vascaínos no primeiro jogo da final, realizado em São Paulo e esperando, em troca, pouco mais de mil ingressos para a segunda partida, no Rio. A diretoria do Vasco traiu o compromisso e não forneceu os ingressos, alegando que não foram solicitados oficialmente, e impediu a entrada de torcedores adversários. A própria marcação do jogo para o estádio de São Januário, e não para o Maracanã, já fora uma decisão com segundas intenções. A enorme torcida do Vasco e o interesse despertado pelo jogo justificariam, sob todos os aspectos, que a partida fosse disputada num estádio maior. Eurico Miranda, o vilão da história
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