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Astrologia Médica

 
 

 

OS CAMINHOS DA ASTROLOGIA MÉDICA
A saúde está no mapa?

Entrevista com Ana Teresa Ocampo,
Roseane Debatin e Jaime Camaño
Início | Parte 6

CONSTELAR - Que conhecimentos são necessários para alguém se dedicar à Astrologia Médica?

ANA TERESA - Primeiro, precisa de mais conhecimento de Astrologia do que, propriamente, de Medicina. Segundo, é preciso pensar analogicamente. É curioso observar que a bibliografia de Astrologia Médica trabalha com uma visão muito fragmentada dos sistemas do corpo humano. Existe aquela tendência meio mecânica de atribuir uma regência a cada órgão ou a cada região do corpo. É desejável conhecer um pouco de anatomia, de fisiologia, mas o importante é trabalhar com funções planetárias que atravessam vários níveis, permitindo sínteses maiores. O tempo todo trabalhamos com analogias, com representações simbólicas, aplicando o mesmo sentido básico em várias realidades diferentes. Por exemplo, Marte é um símbolo para a guerra, a raiva, a inflamação, e tudo isso são significados do mesmo processo, o de irradiação de calor. Se você pega um paciente que está reclamando de uma coceira na pele com sintomas de ardência, que ao mesmo tempo tem azia e sensação de queimação no estômago e que no nível emocional é uma pessoa explosiva, briguenta (aquele tipo que chamamos de "inflamado"), é tudo parte de um mesmo simbolismo marciano. Em todas essas manifestações aparentemente desconcatenadas na visão da medicina alopática vamos encontrar manifestações do mesmo processo.

CONSTELAR - E qual o limite da atuação do astrólogo ao tratar de questões de saúde?

ANA TERESA - O papel do astrólogo que não é médico é identificar determinadas situações que podem envolver a saúde e encaminhar para o terapeuta correto. Não a de agir como terapeuta ele próprio, a não ser que tenha um grande conhecimento de causa. Mesmo florais, que não exigem prescrição médica, podem provocar agravação, quando mal aplicados. Acontece muitas vezes de o astrólogo não-médico atuar em conjunto com o médico, ou o psicólogo, trocando percepções. No caso da Homeopatia, são duas linguagens simbólicas, que trabalham com analogias e que por isso são intrinsecamente compatíveis.

CONSTELAR - Como o médico costuma encarar o paciente que entra no consultório e diz: "Estou aqui porque o meu astrólogo acha que estou com o problema tal"?

ANA TERESA - Depende do médico. O alopata tradicional tende a não levar a sério, até porque não leva muito em conta o quadro emocional do paciente. A visão é outra, e não há acolhimento para este tipo de leitura. Já o homeopata vai ver no astrólogo um parceiro para identificar o perfil psicológico do paciente, além de que a Astrologia é mais rápida. Às vezes, na anamnese de consultório, é preciso muito tempo para levar o paciente a falar de determinadas situações que na consulta astrológica aparecem logo na primeira abordagem.

"O floralismo parte de uma concepção tipicamente astrológica,
a das correspondências entre os diversos reinos
da natureza." (Jaime Camaño)

JAIME - Em Brasília, essa relação dos astrólogos, astroterapeutas e profissionais da área de saúde foi ficando cada vez mais complicada. Desde a oficialização da Homeopatia como especialidade médica, os órgãos de fiscalização começaram a apertar o cerco em torno dos astrólogos e terapeutas alternativos que trabalhavam com o receituário homeopático. Restaram os florais, mas em breve os médicos ou os psicólogos - os mesmos que caíam de pau na Homeopatia e que hoje ridicularizam as descobertas de Bach - vão "descobrir" que eles são eficazes e reivindicar o direito exclusivo de receitá-los. Vai ser uma pena, porque o floralismo parte de uma concepção tipicamente astrológica, a das correspondências entre os diversos reinos da natureza, e que está totalmente ausente dos cursos de medicina ou de psicologia. É por essa razão que sou a favor da regulamentação da profissão de astrólogo. A gente precisa garantir um espaço mínimo de trabalho, sem o risco de amanhã sermos proibidos de fazermos o que sempre fizemos.

ANA TERESA - As bases filosóficas de cada formação são diferentes. O correto é a existência de cursos específicos, em que alguém possa, por exemplo, fazer uma formação direcionada para Acupuntura, para Florais, e entendendo também toda a visão de mundo que está por trás dessas técnicas, que envolve o uso de linguagens simbólicas, de analogias. É muito perigoso deixar um leigo completo sair tratando com métodos alternativos - eles também têm seus riscos - mas também não faz sentido transformar as terapias alternativas em exclusividade de médicos que tiveram uma formação toda voltada para a visão biomecânica da alopatia.

CONSTELAR - Ana, que linha filosófica você segue dentro da Astrologia?

ANA TERESA - Faço uma salada. Meu contato inicial foi com a Astrologia Cármica, que dá muita importância aos nodos. Esse é um ponto de partida que mantenho até hoje. Os nodos ajudam a traçar um tema básico, uma direção da energia do indivíduo, o que será reforçado ou não por outros aspectos do mapa. Mas meu viés é mais dentro da área psicológica. Ver bloqueios de expressão, de energia, que podem estar-se manifestando num nível emocional ou físico. Nesse sentido, não me defino como uma astróloga médica, pois meu interesse não é fechar o foco de uma forma tão restritiva. Quando se faz uma abordagem psicológica, estamos levantando sintomas - gostos, aversões, sentimentos etc - que contribuem para identificar uma forma de ser, extremamente útil para o trabalho do homeopata. Das técnicas preditivas, uso muito as progressões secundárias e os arcos solares, mas principalmente quando há ativações de ângulos.

CONSTELAR - Jaime, você também faz Astrologia Cármica. Como é que é isso?

JAIME - Entendo todo o mapa como passado. Não um aspecto específico, ou uma determinada casa, mas o mapa em sua totalidade. A carta natal reflete o resultado das ações anteriores, as situações de aprendizado ou não aprendizado, os talentos conquistados pelos esforço ou as dificuldades que ainda produzem sofrimento. Não tem receita de bolo, seria muito mecânico atribuir isso ou aquilo apenas ao regente da 12 ou ao posicionamento dos nodos.

CONSTELAR - A crítica que muitos levantam é que a abordagem cármica tende a estimular uma visão muito mística da Astrologia. E existem aqueles clientes que também fazem regressão de memória, terapia de vidas passadas, e tentam buscar confirmação precisa no mapa. Como você lida com essa situação?

JAIME - Eu não estimulo. Primeiro, porque o mapa nunca vai te dizer exatamente o que você foi numa vida anterior, mas o que você é hoje, como resultado da experiência acumulada. Segundo, porque vejo com muita cautela essa ânsia do cliente em identificar detalhadamente fatos de uma vida anterior. Poucas regressões são verdadeiras e, quando são, normalmente vêm sob a forma de sentimentos, lembranças fragmentárias, raramente se traduzem por imagens. Quando alguém me descreve cenas de uma suposta vida anterior, dou uma olhada no mapa em busca de confirmação e, mesmo quando encontro alguma evidência, não tomo aquilo imediatamente como verdade. É uma possibilidade, apenas, e tento deixar isso bem claro e trazer de novo o foco de atenção do cliente para o presente.

Ana Teresa Ocampo:
"Para fazer Astrologia Médica, é preciso pensar analogicamente."

CONSTELAR - Como nasceu o material para este curso de Astrologia Médica de Astroletiva?

ANA TERESA - A Cecília Figueiredo, do AstroTiming, propôs no ano passado que eu desenvolvesse um curso de Astrologia Médica. Era um curso curto, de caráter introdutório, mas eu já vinha com planos nesse sentido e aproveitei para organizar e sistematizar o material. É importante distingüir duas vertentes: uma é desenvolver Astrologia Médica para astrólogos sem formação específica, e outra é fazer um curso para profissionais da área de saúde. Nesse último caso, o enfoque é no diagnóstico, mas quando o curso é para não-médicos, o enfoque é nas qualidades que estão em jogo no mapa do paciente, a forma como ele lida com a energia e como expressa seu sofrimento básico.

ROSEANE - Nas lições que envolvem fisiologia energética, estou usando uma adaptação do material didático que adoto há dez anos nos cursos de Acupuntura, moxabustão e shiatsuterapia.

JAIME - Meu material vem da experiência com mapas de clientes, que já vinha registrando para o livro que foi lançado em 1998. Muita coisa na época ficou de fora, especialmente os exemplos de aplicação. Agora vamos enfatizar mais essa parte prática. O mais interessante desse curso é reunir gente com experiências bem diferentes. São vários enfoques com a mesma finalidade.

Jaime Camaño dirige o Instituto Solaris em Curitiba, Paraná. Escreveu o livro Astrologia Comportamental e as Essências Florais de Minas (SP, Pensamento, 1998). Ana Teresa Ocampo é astróloga, médica sanitarista e homeopata no Rio de Janeiro. Roseane Debatin é médica pediatra, homeopata, acupunturista no Rio de Janeiro e co-autora do livro Tratado de Eletroacupuntura (Editora Númen, 1993).


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