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Heróis nos contos,
nos mitos e no cinema
 
 

 

ASTROLOGIA E ESTRUTURAS NARRATIVAS
A Jornada do Herói
Eduardo Loureiro Jr.


O presente estudo tem por objetivo relacionar a jornada do herói descrita por Joseph Campbell em O herói de mil faces com as situações de vida representadas pelas doze casas astrológicas. Como elemento de ligação entre a mitologia e a astrologia, usaremos outra relação da jornada do herói, desta vez com a dramaturgia hollywoodiana, apresentada por Christopher Vogler em A jornada do escritor.

Um passeio pelas casas astrológicas
à luz da mitologia e da dramaturgia

Este estudo se justifica primeiramente por uma abordagem integrada da astrologia, que muitas vezes padece de uma interpretação fragmentária dos planetas e de suas posições por casa e por signo. Em segundo lugar, a referência ao cliente como um herói pode despertar nele um maior senso de responsabilidade com relação ao seu destino, uma postura bem mais construtiva do que a costumeira busca de respostas simplificadas ou da mera necessidade de previsão do seu futuro.

A utilização das casas astrológicas ao invés dos signos deve-se ao fato de as casas representarem campos de experiência da vida cotidiana, aproximando-se bem mais da jornada do herói e de seus múltiplos desafios. Os signos, representando as qualidades e atitudes perante a vida, também poderiam ser abordados, mas deixaremos esta tarefa para uma próxima ocasião. Outro esforço que merece ser empreendido, mas não neste pequeno trabalho, é relacionar os sete planetas conhecidos pela antigüidade aos sete arquétipos principais envolvidos nas narrativas mitológicas: herói, mentor, guardião do limiar, arauto, camaleão, sombra e pícaro.

A utilização da obra de Vogler - uma análise de roteiros para cinema a partir da jornada do herói - como intermediária dessa aproximação entre mitologia e astrologia, deve-se em parte a ter sido o texto inspirador do presente estudo e em parte a Vogler ter adaptado os dezoito passos da jornada do herói de Campbell para apenas doze estágios cumpridos pelos personagens cinematográficos, o que sugere uma aproximação natural com o número básico da astrologia.

Observemos primeiro como Campbell resume a jornada do herói:

"O herói mitológico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos, é atraído, levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali, encontra uma presença sombria que guarda a passagem. O herói pode derrotar essa força, assim como pode fazer um acordo com ela, e penetrar com vida no reino das trevas (batalha com o irmão, batalha com o dragão; oferenda, encantamento); pode, da mesma maneira, ser morto pelo oponente e descer morto (desmembramento, crucificação). Além do limiar, então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameaçam fortemente (provas), ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda mágica (auxiliares). Quando chega ao nadir da jornada mitológica, o herói passa pela suprema provação e obtém sua recompensa. Seu triunfo pode ser representado pela união sexual com a deusa-mãe (casamento sagrado), pelo reconhecimento do pai-criador (sintonia com o pai), pela sua própria divinização (apoteose) ou, mais uma vez - se as forças se tiverem mantido hostis a ele -, pelo roubo, da parte do herói, da bênçào que ele foi buscar (rapto da noiva, roubo do fogo); intrinsecamente, trata-se de uma expansão da consciência e, por conseguinte, do ser (iluminação, transfiguração, libertação). O trabalho final é o do retorno. Se as forças abençoaram o herói, ele agora retorna sob sua proteção; se não for esse o caso, ele empreende uma fuga e é perseguido (fuga de transformação, fuga de obstáculos). No limiar de retorno, as forças transcendentais devem ficar para trás; o herói reemerge do reino do terror (retorno, ressurreição). A bênção que ele traz consigo restaura o mundo (elixir)."

Agora vejamos como Vogler analisa o filme O último dos Moicanos à luz da jornada do herói:

Nathaniel Poe é um colono inglês órfão criado pelos índios moicanos, perfeitamente adaptado à sua nova cultura e feliz, apesar do confronto próximo entre ingleses e franceses pelas terras americanas (Mundo Comum). Um oficial de recrutamento britânico tenta aliciar colonos para a guerra (Chamado à aventura). Nathaniel recusa-se a se alistar (Recusa do Chamado). Mas, durante uma caçada, presencia o ataque de um grupo indígena aliado francês a uma comitiva inglesa que levava as filhas de um general e os salva (Atravessando o Primeiro Limiar), passando a escoltá-los pela floresta. No caminho, enquanto são perseguidos, descobrem que os índios também destruíram o povoado moicano, e Nathaniel se apaixona pela filha mais velha do general (Testes, Aliados e Inimigos). O grupo chega ao forte dos ingleses, que está cercado por tropas francesas (Aproximação da Caverna Oculta). Nathaniel colabora com a deserção de alguns moicanos do forte e é condenado à forca, mas antes da condenação o forte é tomado pelos franceses (Provação Suprema). Nathaniel consegue escapar levando consigo alguns amigos moicanos e as filhas do general (Recompensa). Mas o chefe dos índios aliados franceses, que por vingança pessoal jurou matar as filhas do general, persegue-os (Caminho de Volta). No duelo final, mesmo com algumas perdas, os moicanos conseguem matar seu adversário (Ressurreição). Nathaniel, a filha mais velha do general e o chefe moicano fazem uma prece pelos mortos, restaurando a própria esperança no futuro (Retorno com o Elixir).

As muitas etapas da jornada do herói


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