Heróis nos contos,
nos mitos e no cinema |
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ASTROLOGIA
E ESTRUTURAS NARRATIVAS
A
Jornada do Herói
Eduardo Loureiro Jr.
Um passeio pelas casas astrológicas Este estudo se justifica primeiramente por uma abordagem integrada da astrologia, que muitas vezes padece de uma interpretação fragmentária dos planetas e de suas posições por casa e por signo. Em segundo lugar, a referência ao cliente como um herói pode despertar nele um maior senso de responsabilidade com relação ao seu destino, uma postura bem mais construtiva do que a costumeira busca de respostas simplificadas ou da mera necessidade de previsão do seu futuro. A utilização das casas astrológicas ao invés dos signos deve-se ao fato de as casas representarem campos de experiência da vida cotidiana, aproximando-se bem mais da jornada do herói e de seus múltiplos desafios. Os signos, representando as qualidades e atitudes perante a vida, também poderiam ser abordados, mas deixaremos esta tarefa para uma próxima ocasião. Outro esforço que merece ser empreendido, mas não neste pequeno trabalho, é relacionar os sete planetas conhecidos pela antigüidade aos sete arquétipos principais envolvidos nas narrativas mitológicas: herói, mentor, guardião do limiar, arauto, camaleão, sombra e pícaro. A utilização da obra de Vogler - uma análise de roteiros para cinema a partir da jornada do herói - como intermediária dessa aproximação entre mitologia e astrologia, deve-se em parte a ter sido o texto inspirador do presente estudo e em parte a Vogler ter adaptado os dezoito passos da jornada do herói de Campbell para apenas doze estágios cumpridos pelos personagens cinematográficos, o que sugere uma aproximação natural com o número básico da astrologia. Observemos primeiro como Campbell resume a jornada do herói: "O herói mitológico, saindo de sua cabana ou castelo cotidianos, é atraído, levado ou se dirige voluntariamente para o limiar da aventura. Ali, encontra uma presença sombria que guarda a passagem. O herói pode derrotar essa força, assim como pode fazer um acordo com ela, e penetrar com vida no reino das trevas (batalha com o irmão, batalha com o dragão; oferenda, encantamento); pode, da mesma maneira, ser morto pelo oponente e descer morto (desmembramento, crucificação). Além do limiar, então, o herói inicia uma jornada por um mundo de forças desconhecidas e, não obstante, estranhamente íntimas, algumas das quais o ameaçam fortemente (provas), ao passo que outras lhe oferecem uma ajuda mágica (auxiliares). Quando chega ao nadir da jornada mitológica, o herói passa pela suprema provação e obtém sua recompensa. Seu triunfo pode ser representado pela união sexual com a deusa-mãe (casamento sagrado), pelo reconhecimento do pai-criador (sintonia com o pai), pela sua própria divinização (apoteose) ou, mais uma vez - se as forças se tiverem mantido hostis a ele -, pelo roubo, da parte do herói, da bênçào que ele foi buscar (rapto da noiva, roubo do fogo); intrinsecamente, trata-se de uma expansão da consciência e, por conseguinte, do ser (iluminação, transfiguração, libertação). O trabalho final é o do retorno. Se as forças abençoaram o herói, ele agora retorna sob sua proteção; se não for esse o caso, ele empreende uma fuga e é perseguido (fuga de transformação, fuga de obstáculos). No limiar de retorno, as forças transcendentais devem ficar para trás; o herói reemerge do reino do terror (retorno, ressurreição). A bênção que ele traz consigo restaura o mundo (elixir)." Agora vejamos como Vogler analisa o filme O último dos Moicanos à luz da jornada do herói: Nathaniel Poe é um colono inglês órfão criado pelos índios moicanos, perfeitamente adaptado à sua nova cultura e feliz, apesar do confronto próximo entre ingleses e franceses pelas terras americanas (Mundo Comum). Um oficial de recrutamento britânico tenta aliciar colonos para a guerra (Chamado à aventura). Nathaniel recusa-se a se alistar (Recusa do Chamado). Mas, durante uma caçada, presencia o ataque de um grupo indígena aliado francês a uma comitiva inglesa que levava as filhas de um general e os salva (Atravessando o Primeiro Limiar), passando a escoltá-los pela floresta. No caminho, enquanto são perseguidos, descobrem que os índios também destruíram o povoado moicano, e Nathaniel se apaixona pela filha mais velha do general (Testes, Aliados e Inimigos). O grupo chega ao forte dos ingleses, que está cercado por tropas francesas (Aproximação da Caverna Oculta). Nathaniel colabora com a deserção de alguns moicanos do forte e é condenado à forca, mas antes da condenação o forte é tomado pelos franceses (Provação Suprema). Nathaniel consegue escapar levando consigo alguns amigos moicanos e as filhas do general (Recompensa). Mas o chefe dos índios aliados franceses, que por vingança pessoal jurou matar as filhas do general, persegue-os (Caminho de Volta). No duelo final, mesmo com algumas perdas, os moicanos conseguem matar seu adversário (Ressurreição). Nathaniel, a filha mais velha do general e o chefe moicano fazem uma prece pelos mortos, restaurando a própria esperança no futuro (Retorno com o Elixir).
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