A recuperação dos princípios
filosóficos e das técnicas da Astrologia Clássica
anterior ao século XVIII - esta é a proposta de Barbara
Abramo, uma das maiores pesquisadoras desta área no Brasil.
Muito se fala, no Brasil, sobre as interfaces possíveis
que a Astrologia possa estabelecer com outras disciplinas e saberes,
o que remete à reflexão sobre a natureza intrínseca
da Astrologia, pois quando sabemos quem somos, é mais fácil
descobrir quais os interlocutores válidos com os quais pavimentar
o caminho para a real transdisciplinaridade.
A variada filiação ideológica
e filosófica de seus debatedores - a despeito, às
vezes, de saberem-se herdeiros ativos das mesmas - vincula-se a
iniciativas que oferecem, aos seres humanos que desconhecem Astrologia,
o espetáculo, por vezes confuso, de uma disciplina cujos
professantes - aparentemente - não conseguem consenso mínimo.
Tal imagem muitas vezes é o querosene na fogueira dos militantes
anti-Astrologia.
Se a Astrologia é uma linguagem, cuja sintaxe
se assenta nas configurações e figurações
dos fenômenos celestes, e se é verdade que toda linguagem
espelha a cultura onde é construída, há que
se estudar - ao menos - as grandes sínteses astrológicas.
Construídas ao longo do tempo, estas sínteses expressam
princípios, postulados, conceitos, enunciados, práticas
e técnicas depuradas pelos milênios; ao manter clara
sua relação com as culturas onde foram produzidas,
é possível resgatar beleza e clareza, tanto no discurso
quanto na praxis astrológica.
Não se trata de propor um mero exercício
reacionário de pretensa "volta às origens",
que servisse de bombril para toda e qualquer mazela, entrave
ou problema metodológico ou teórico. Trata-se, ao
contrário, de clarificar certos conceitos, por exemplo, que,
ignorados ou mal-traduzidos, produzem apenas erros que se acumulam
sobre erros e que acabam por estimular o abandono de certas técnicas
e certos princípios teóricos - como no caso da utilização
das dignidades essenciais.
Trata-se também, e principalmente, de estabelecer
com clareza os vínculos filosóficos que pavimentam
as proposições astrológicas para que fique
claro que a Astrologia que praticamos tem origens filosóficas
que, quando ignoradas, incapacitam o próprio entendimento
e a crítica de seus postulados que queremos adotar ou combater.
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Estes princípios, quando conhecidos, fornecem
o caminho para a reintegração plena da análise
de temperamento, compleição, tipologia, grau de energia,
tendências psicobiofísicas - o que devolveria à
Astrologia sua capacidade de análise do corpo e da mente
sem ter de lançar mão de empréstimos teóricos
de disciplinas tais como a psicologia, ao mesmo tempo que, reconhecendo
sua consistência interna e sua lógica conceitual, criaria
espaço para uma verdadeira transdisciplinaridade seja com
a recentíssima psicologia, seja com a medicina biológica
- a homeopatia, a homotoxicologia e a medicina antroposófica
- e outras técnicas terapêuticas que compreendem o
homem como um sistema dinâmico em relação com
outros sistemas.
Conhecer, por exemplo, a filosofia natural de base
aristotélica que fundamenta a grande síntese ptolomaica
do Tetrabiblos, para saber o que deve e o que pode ser empregado
no mundo atual. Saber, ainda, de uma outra vertente filosófica,
o estoicismo, que produziu outras técnicas e métodos
que poderiam estar sendo utilizadas no trabalho astrológico
contemporâneo, pela concepção dinâmica
do mapa, que propõe.
O resgate
da Astrologia Clássica
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