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ÉTICA E EXERCÍCIO PROFISSIONAL

O fenômeno Walter Mercado visto de dentro

Maurice Jacoel

 

CONSTELAR - O investimento em publicidade é pesadíssimo, não?

MAURICE JACOEL - É muito alto. A forma preferida de publicidade na televisão é a dos testemunhais, aqueles depoimentos em que a pessoa conta como foi ajudada e como as previsões deram certo. Alguns são casos reais. Muita gente, depois de receber uma orientação, volta a ligar depois, para contar os resultados. Quando isso acontece, os atendentes são orientados a perguntar ao cliente se não gostaria de dar seu depoimento na televisão. Sempre tem gente que topa. Mas muitos depoimentos são armados, ensaiados com atores profissionais. A imprensa tem falado bastante de Walter Mercado, mas aí também rola uma grana. As matérias mais elogiosas e as entrevistas em programas de sucesso são pagas pelos empresários. Na verdade, a situação é mais ou menos assim: as matérias desfavoráveis costumam ser espontâneas, enquanto as favoráveis são sempre pagas.

CONSTELAR - Recentemente, lançaram também o Leiloca Conection. O serviço é do mesmo grupo de empresários?

MAURICE JACOEL - Não. Conversei duas horas com a Leiloca pelo telefone. O esquema dela é diferente, pois conta com empresários que nunca atuaram nesse ramo e não têm, ao que parece, o mesmo estilo mafioso dos empresários do Walter. Contei à Leiloca sobre minha experiência e ela se mostrou chocada com alguns detalhes. Parece que, dentro dos limites do modelo do tele-atendimento, está tentando fazer um trabalho de nível melhor.

CONSTELAR - A maior crítica de muita gente é em relação ao uso do telefone num serviço que deveria ser prestado face a face. Você concorda?

MAURICE JACOEL - Em princípio, não sou contra o atendimento por telefone. É possível ler um mapa sem contato pessoal com o cliente e dar uma orientação segura, se bem que o atendimento direto seja sempre preferível. O problema ético principal está na propaganda enganosa. Troquei idéias com outras pessoas que acham que a forma de deter o avanço dos tele-atendimentos é através da legislação de defesa do consumidor. Mesmo assim, não sei. É muito difícil documentar uma acusação.

OPINIÃO DE CONSTELAR
[editorial inserido no número zero, de junho/1998]
Precisamos agir

Considerando os valores por minuto das várias empresas de tele-atendimento, o custo por hora pode sair entre R$ 234,00 e R$ 296,40. No Rio e em São Paulo, são pouquíssimos os astrólogos profissionais cujos honorários atingem a faixa de R$ 200,00 por consulta. São astrólogos em tempo integral, com muitos anos de estrada e presença constante na mídia e em eventos. E, mesmo assim, a maioria não costuma trabalhar com taxímetro.

Basta comparar para descobrir que o valor médio de uma consulta individual, face a face e com direito a toda a atenção que o cliente merece, é muito - muitíssimo inferior ao preço cobrado pelos tele-atendimentos. E, fora do eixo Rio-São Paulo, os honorários tendem a ser ainda menores, a ponto de tornar quase impossível viver exclusivamente de Astrologia.

Em pequenas cidades, o quadro é ainda mais crítico. Não é raro que praticantes de Astrologia acabem restringindo sua atividade apenas ao atendimento gratuito de amigos e parentes, abrindo mão por completo de transformar a Astrologia em uma opção profissional, por absoluta falta de uma clientela estável.

A conclusão é evidente: ao contrário de outras áreas, onde o público busca o profissional de reputação duvidosa apenas como alternativa aos preços mais altos do bom profissional, o consumidor de serviços astrológicos paga mais caro - exorbitantemente mais caro - pela picaretagem. Na verdade, os tele-atendimentos repassam para o público não apenas os custos da consulta, mas também do contrato com as empresas de telecomunicação e dos pesadíssimos investimentos em marketing. Se a clientela prefere o comodismo das respostas prontas, é um direito dela. Mas cabe à comunidade astrológica brasileira mobilizar-se para deixar claro para a opinião pública a diferença entre a salada pseudo-esotérica e a verdadeira técnica de interpretação.

Saiba mais sobre Maurice Jacoel.


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