Esta entrevista foi concedida por Maurice Jacoel
a Constelar em maio de 1998, quando os serviços de tele-atendimento
estavam no auge. Maurice, que já dirigiu uma escola de Astrologia
em São Paulo, vem-se interessando há mais de dez anos
pelo articulação da categoria profissional e pela
busca de soluções conjuntas para o aperfeiçoamento
da prática astrológica.
CONSTELAR
- Como é o estilo dos empresários
de Walter Mercado?
MAURICE JACOEL - O raciocínio
deles é sempre mercantil. Adoram reunir-se em churrascarias.
É ali que os negócios são fechados. Quando
fui convidado, em 96, para coordenar a seleção e o
treinamento de uma equipe de atendentes, aceitei porque acreditei
que seria possível fazer um trabalho de bom nível.
O objetivo era lançar o serviço da Dione Forti que,
mesmo sendo administrado pelos mesmos empresários do Walter,
destinava-se a atender outro tipo de público, mais qualificado.
Mas os empresários não querem saber da qualidade,
só do retorno financeiro. Na medida em que o volume de procura
ia crescendo, exigiam que se contratasse mais gente às pressas,
sem dar tempo para o treinamento adequado.
CONSTELAR - Como funciona
o trabalho dos atendentes? Dá pra ganhar bem?
MAURICE JACOEL - O prestígio do "místico"
- termo que os empresários usam para designar os atendentes
- é determinado pela sua capacidade de fazer com que os atendimentos
gerem mais e mais minutos. A maioria dos atendentes trabalha na
própria central. Apenas os mais bem sucedidos ganham uma
linha telefônica especial, que permite trabalhar em casa.
Podem faturar por volta de mil reais por mês, mas tem gente
que consegue ganhar muito mais. A melhor atendente da equipe da
Dione Forti chega a fazer quatro mil mensais, virando horas e horas
e entrando pela madrugada. Tem gente boa, bons astrólogos
e bons tarólogos. Mas a estrutura do serviço não
funciona em termos de qualidade, só de tempo. Já os
que jogam búzios são muito fracos, muito despreparados.
CONSTELAR - E as relações
trabalhistas, em que pé estão?
MAURICE JACOEL - Quando os primeiros sistemas
foram implantados - e o primeiro é o dos empresários
do Walter - eles estavam sem clareza em relação à
questão trabalhista. Chegaram a registrar os primeiros atendentes
como astrólogos, em carteira de trabalho. Depois viram que
isso onerava. Demitiram e recontrataram por hora, foram experimentando
várias fórmulas, até chegar à atual,
de remuneração por minuto de trabalho efetivo. Os
disk-900 pagam, na maioria, por volta de 40 centavos por minutos.
Atendeu, levou. Ele acham que pagam bem demais.
CONSTELAR - É
possível fazer o controle dos disk-900 via regulamentação
da prática astrológica?
MAURICE JACOEL - Não acredito. A situação
não é tão cor de rosa como gostaríamos.
O que deveria ter sido feito, não foi na hora certa. Se os
sindicatos tivessem se pronunciado na fase da implantação
dos sistemas, feito exigências e tal, muita coisa já
seria diferente. Não seria necessário esperar uma
regulamentação. Agora os reparos vão exigir
muito tempo. Esta é a realidade. Para dar uma idéia
do tamanho do bicho, o empresário do Walter tem os direitos
autorais da sua imagem para serem explorados após a sua morte!
A omissão dos sindicatos até agora demonstra que nada
vai mudar. Além disso, agora os empresários já
acharam o jeitinho... Estão amparados por outras leis e até
por uma cooperativa profissional que define os astrólogos
e tarólogos como meros prestadores de informações.
Outra saída, menos econômica, seria registrar esta
turma toda em telemarketing. Afinal, um atendente de telemarketing
não precisa necessariamente conhecer o produto a fundo...
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Walter
Mercado: figura andrógina e glamurosa a serviço
de uma receita onde a Astrologia é um dos ingredientes
para pegar incautos. |
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CONSTELAR
- Mas você fala de uma situação atual, em
que a profissão de astrólogo ainda não
está regulamentada. Quando isso acontecer, os atendentes
do tele-atendimento vão poder contar com outras defesas,
certo? |
MAURICE JACOEL - O filão, em termos
financeiros, é muito grande, e não vai ser nossa regulamentação
que vai mudar algo. E o atendente não vai correr o risco
de perder essa boquinha para lutar por um monte de regras e ser
mandando embora... Como você acha que ele vai se posicionar?
Outro ponto: a maioria é astrólogo e tarólogo
ao mesmo tempo, e às vezes joga búzios também.
Bom, se você regulamenta o astrólogo, não tem
problema... Diante do Fiscal do Trabalho, ele será considerado
apenas um tarólogo, ou jogador de búzio... Simples.
Outra consideração importante: pode-se até
exigir um astrólogo reconhecido, responsável pelo
Disk-900. Tudo bem, já existe: Dione Forti é astróloga
reconhecida, Leiloca também; e assim vai. Até o Walter
pode ter algum comprovante de Astrólogo dos Estados Unidos.
Resolvido. Empresários pensam em tudo, em todos os detalhes,
não querem ser pegos de calça curta.
CONSTELAR - Dá
para traçar um perfil do usuário dos disk-900?
MAURICE JACOEL - Liga gente de todo tipo.
Minha primeira impressão era de que os serviços de
tele-atendimento não tiravam a clientela habitual dos astrólogos,
atingindo outro tipo de público. Mas pude observar que não
é bem assim. Um dia, uma das atendentes veio me contar que
acabara de atender um cliente meu. Tratava-se de uma pessoa bem
informada, que sabia exatamente a diferença entre um atendimento
pessoal, em consultório, e o tele-atendimento. Chegou a citar
meu nome, de forma elogiosa. Mas mesmo assim estava lá, ligando
para a Dione Forti. Foi quando comecei a acordar para a dimensão
da coisa. Alguns clientes gostam do trabalho de determinado atendente
e sempre procuram o mesmo, criam um vínculo.
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de Maurice e a Opinião de Constelar
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