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Edição 159 :: Setembro/2011 :: - |
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ASTROLOGIA E MITOLOGIAAquário e a caixa de Pandora
Uma compreensão de Aquário a partir do mito da caixa de Pandora e da análise da representação gráfica do signo. Caminhar em Aquário é seguir uma senda escura e sem limites, num fluxo explosivo. Este artigo é a transcrição da palestra de Adonis Saliba apresentada em 21 de novembro de 1998 no XI Congresso de Astrologia da SARJ (Teatro do Leblon, Rio de Janeiro). Manteve-se o tom coloquial e bem humorado da fala original. Como a palestra foi originalmente voltada para um público de astrólogos profissionais, acrescentaram-se notas explicativas para a melhor compreensão de alguns conceitos. Júpiter, Vulcano e Minerva fizeram a primeira mulher e Mercúrio lhe deu a argúcia [1]. Ela, feita de argila, foi agraciada com todos os dotes. Chamou-se Pandora, Pan Doron do grego, que significa o presente de todos os deuses para os homens. E foi dada por Júpiter a Epimeteu, aquele que vê depois, que a aceitou de bom grado. Prometeu, aquele que vê além das fronteiras e do tempo, já havia advertido a Epimeteu, seu irmão, para que não aceitasse nenhum presente de Júpiter. Mas só depois que o aceitou é que Epimeteu notou o infortúnio que havia ganhado. [2] Pandora é o destino do homem e foi aceita pelo homem. A raça humana, até então, vivia tranquila, sem maldades, livre da fadiga e das doenças, mas quando Pandora, por simples curiosidade de mulher, abriu a caixa que havia trazido do Olimpo como um presente de núpcias a Epimeteu, dela saíram todas as calamidades e ruindades que atormentam os homens. [3] Só a Esperança permaneceu dentro da caixa, pois Pandora colocou rapidamente a tampa no intuito de desfazer o mal que havia feito. Ela, Pandora, é o símbolo que marca o início da degradação da raça humana. Mas restou a Esperança. É disso que precisamos em todos os momentos de transição. Pandora simboliza o homem e o seu contexto na Era de Peixes. É o ser dicótomo que vive o mundo dos males que cria, mas que continuamente se vê investindo em atos para descobrir meios de minimizar os seus próprios problemas. É um contínuo desafio. Exatamente por isso, tem medo. Este medo, gerado pela vontade de avançar, é saudável. No entanto, o medo do desconhecido, por simples receio de perder o status atual, é uma utilização irresponsável de nossa capacidade de criar e de mostrar que temos possibilidades de fazer um mundo melhor e mais digno. A Era de Aquário é o futuro, e a sua chegada, a partir da confusa Era de Peixes, sinaliza no sentido da mudança e da incerteza. Isto é viver a síndrome de Pandora. O futuro representa uma caixa que temos de aceitar e que temos de abrir. A Esperança certamente existe, mas dentro desta caixa estão também todas as maldades humanas que conhecemos. A passagem para uma nova era é trilhar um caminho sem volta, tecido pelas ampulhetas do tempo. É o avançar para um novo momento em que o destino pode não nos reservar as benesses do mundo atual. A bomba atômica – ou o mundo ctônico de Plutão – ainda aterroriza e nos deixa instáveis, pois sabemos que um simples ato insano pode comprometer a sociedade humana como um todo. Em um único século, nós, seres humanos, conseguimos por em risco toda a humanidade, a Terra e seus seres viventes e inanimados em nome da busca de uma felicidade torpe baseada em facilidades mil, de plásticos confortáveis e da superalimentação de alguns povos privilegiados, em contraste com a fome que ainda assola a terra negra da África ou os escravos mandchus da Ásia superpopulosa. Isto é felicidade? Para alguns sim, para nós talvez, mas certamente não representa a natureza com toda a sua força criativa e potente. A felicidade se mostra em um figurino de roupas cálidas e charme questionável; o homem se vende a uma torpe dignidade; e nem os mais requintados aromas poderiam encobrir a indecência de caráter em que o ser humano se enlameou dentro de um mundo sem princípios morais. Quantos mestres da arte não nos presentearam com suas nuances de cores e tons harmoniosos nas sinfonias, sem que para isto exigissem o dinheiro injusto do trabalho escravo? Hoje em dia, vemo-nos inundados de informações televisivas desconexas e estereotipadas que nos apresentam um mundo de felicidade utópica e fantasiosa. A imensidão de lares pobres e amontoados vê novelas irreais, que exibem a opulência para um Brasil descamisado e devedor dos bilhões de dólares que representam sua escravidão a um mundo globalizado e – por que não? – hitlerizado. Temos saídas? O símbolo de AquárioVamos tentar penetrar um pouco mais fundo no símbolo de Aquário. Este símbolo é o único no zodíaco a expressar um grande desconforto, pois em nenhum de seus pontos temos uma acomodação confortável: são serrilhas (ou ondas) que, se estiverem fora de fase, mostram uma trituração, um subir e descer de dentes pontiagudos, lembrando mais um ato de mastigação do que qualquer outro motivo [4]. Alguns podem dizer que estas ondas são de água. Perfeito, vem da ânfora de Ganimedes servindo a ambrosia aos Deuses, mito por demais incômodo para os mais tradicionalistas, pois põe em dúvida até mesmo a honra do pai dos deuses, colocando-o na condição de um homossexual [5]. Isto também pertence a era de Aquário. A convivência do homem com o homossexualismo é algo muito difícil e incômodo para ser encarado de frente. Héteros contra Homos também está estampado neste símbolo de Aquário. Veja que as ondas são iguais, mas em níveis diferentes, e não especulares ou complementares, como na relação entre homem e mulher. Em Aquário, as ondas não são complementares, são iguais. É o mundo de busca da igualdade. Por isto é uma luta de titãs, júpiteres e prometeus [6]. À direita: Ganimedes servindo vinho a Zeus/Júpiter. Nem sempre esta convivência é pacífica e, normalmente, lembra a morte. Insiste-se ainda em que seja uma representação da água, mas afirmo que de lunar e canceriano nada tem este símbolo de Aquário. Ao contrário, ele é a expressão do lógico e do evolutório. Os símbolos e signos aquosos, como o símbolo de Câncer, são braços sensuais e envolventes, em carícias gordinhas. Também nada tem a ver com o símbolo de Peixes que, em formas arredondadas, alongadas e atadas, expressa a vontade de viver em dois mundos, sendo um e sendo o outro. Nada tem a ver também com o símbolo lascivo de Escorpião que, nas curvas voluptuosas de um M, representa um animal pronto para o sexo e a procriação. Não, definitivamente Aquário não é Água. Poderia ser Fogo. Vejo, nas diversas "ondas", várias pontas do signo de Sagitário. Seriam diversos "sagitários"... uau! Um Sagitário já é difícil de controlar, quanto mais vários! Piadas à parte, o símbolo de Aquário tem mais significados que podemos não perceber completamente, mas que guardam relação com uma mudança de era, de gestação de uma nova forma de pensar e de agir. Sim, este signo tem a ver com os signos de Ar. Com os gêmeos querendo se separar, mas tendo as suas barras verticais – o tema do ar espiritual – jungidas por traves horizontais que os aprisionam em um plano terreno. Tem a ver com Libra, que já conseguiu uma bolha única de ar entre as suas barras. Quanto ao símbolo de Aquário, deveríamos desistir de analisá-lo, pois é muito complexo, mas vamos tentar. Nestas duas serras, perdemos as barras ou formas físicas que expressam a noção de uma fácil acomodação e adotamos serrilhas ou ondas, incômodas por natureza, pois em nada indicam estagnação ou aceitação de um estado pré-definido. Tudo está por definir na forma física deste símbolo. O ar aparentemente é solto, mas está em um canal que o induz a uma movimentação contínua, num fluxo forçado. Certamente, não é um fluxo laminar. Ao contrário, temos uma situação de turbulência do ar entre as paredes deste canal com arestas. Dentro de Aquário, você é arremessado para todos os lados. Mas assim é o fluxo do saber e de adquirir mais conhecimentos. Neste símbolo, você está presente em três épocas: no passado – a serrilha ou onda inferior; no presente – a turbulência do ar no interior do símbolo; e no futuro – na serrilha ou onda superior. Aquário é uma contínua evolução, é um símbolo que tematiza uma contínua labuta pelo progresso, um contínuo trabalho mental. Neste símbolo vê-se o prometéico progresso do homem. Vejamos o porquê. Nenhum símbolo pode ser lido em uma única direção. Alguns são óbvios, pois induzem uma única direção, como o de Sagitário e o de Áries, ou as curvas do Leão, que levam à cabeça do espermatozóide, ou as curvas da Virgem que, no voluptuoso corpo, acabam-nos deixando sem a esperança de sexo [7]. No símbolo de Touro, aprisiona-se uma bolha de ar e ainda põe-se um peso em cima, como se Touro quisesse para si na totalidade dos tempos o fogo da sabedoria de Prometeu. Capricórnio, que não decidiu ainda entre a densidade de seus símbolos, prefere mostrar-se às vezes como uma cabra que espera pelo tempo, às vezes pelo "Tau", símbolo do próprio tempo. Não, Aquário é o signo prometéico que, visto no sentido vertical, leva o homem de uma situação turbulenta a outra pelo espaço interior do ar turbulento do saber. Ele consegue sair de uma margem e chegar a outra, ele sai de seu corpo físico basal e atinge seu corpo mental. É a dicotomia da evolução. Para passar de uma margem a outra deste rio de conhecimento, ele não navega, ele simplesmente é arremessado pela energia elétrica de seus neurônios, não em estado mediúnico pisciano, ou na lógica virginiana, ou na paciência capricorniana. Em um estado aquariano, o fluxo de idéias é nervoso, é contraditório, a evolução é difícil. A passagem nunca é suave. Aí pergunto: será que ela realmente ocorre? Da teoria elétrica, o símbolo de Aquário é um capacitor dentro de um circuito: após um acúmulo de elétrons em uma posição, e em função do dielétrico interno das duas armaduras, ocorre, em um determinado momento, um fluxo explosivo. Caminhar em Aquário é caminhar em uma senda sem limites e por vezes escura. É o evoluir das épocas, a busca de esclarecimento. Acho que passamos um pouco do que é Aquário. Mas certamente há muito mais. Notas do Editor:[1] O autor utilizou aqui a denominação latina dos deuses gregos Hefesto (Vulcano), Atena (Minerva), Zeus (Júpiter) e Hermes (Mercúrio). [2] Na mitologia grega, Prometeu, o Previdente, era filho de um dos titãs e irmão de Epimeteu, Aquele que Pensa Depois. Sobre o mito de Pandora, vale transcrever o seguinte verbete, que sumariza a lenda: Cerâmica grega mostrando Hermes, Epimeteu e Pandora. Prometeu foi considerado o criador da raça humana. Teria feito o homem amassado em argila e água, ou talvez com suas lágrimas, e na sua criatura Atena insuflara alma e vida. Enquanto reinou Crono foram iguais os homens e os deuses. Com o advento dos olímpicos, Zeus quis impor aos homens a supremacia divina. Fêz-se uma reunião entre mortais e imortais (...) para determinar que parte das vítimas dos sacrifícios deveria pertencer aos homens e quais aos deuses. Encarregado da partilha, Prometeu abateu um boi enorme, pôs de lado as vísceras, a carne e os pedaços mais gordos; do outro arrumou perfidamente os ossos recobertos de toicinho reluzente. Zeus, convidado a escolher, optou pelo segundo lote mas quando, afastando a gordura, só encontrou a brancura dos ossos, ficou tão indignado que jurou vingança. Para servir aos homens, roubou de Hefesto um pouco do fogo da forja e deu-o a eles. Dizem outros que o fogo foi roubado das rodas do carro do Sol. Então Zeus, para se vingar de Prometeu e dos homens, mandou que Hefesto fizesse uma virgem de beleza sem igual, de argila umedecida com água, dando-lhe voz humana e força vital. Todas as divindades concederam dons à nova criatura, de onde o seu nome Pandora, isto é, todos os dons. Hermes, por último, lhe pôs no coração a perfídia e os discursos enganadores. E então Zeus a enviou de presente a Epimeteu. Embora prevenido pelo irmão de que não devia aceitar nenhum presente do deus, Epimeteu, enlevado com a beleza da primeira mulher, tomou-a para si, fazendo-a viver entre os humanos. Trazia Pandora uma caixa fechada, sem saber o que continha. Cheia de curiosidade, abriu-a e terríveis males escaparam e se espalharam pela Terra. Somente a esperança ficou guardada na caixa. E assim, o mal fez sua aparição no mundo. Contudo não ficou ainda apaziguada a cólera de Zeus. Resolveu afogar a Humanidade, e para isso mandou o dilúvio. Mas Prometeu velava. Seu filho Deucalião (...), a conselho do pai, construiu uma embarcação e nela se encerrou com a esposa. Durante nove dias e nove noites vogaram sobre as ondas. No décimo dia as águas pararam de subir, os dois sobreviventes desceram no cimo do Monte Otris. Foi concluída a paz entre Zeus e os homens, por intermédio de Deucalião, mas Prometeu devia sofrer o castigo de suas astúcias e de sua insolência contra os deuses. Por ordem de Zeus, Hefesto (...) encadeou Prometeu ao Monte Cáucaso, fixando-o com liames indestrutíveis. Uma águia deveria bicar-lhe eternamente o fígado que, devorado de dia, renasceria à noite. Não abatia, no entanto, nem o orgulho nem a revolta de Prometeu. Trinta mil anos durou o seu castigo. (GUIMARÃES, Ruth. Dicionário da Mitologia Grega. SP, Cultrix, 1982.) Não é difícil encontrar nesta narrativa similitudes com dois mitos registrados no Velho Testamento: o da criação do primeiro homem, Adão, a partir do barro e a perda da condição edênica por intermédio da figura feminina (paralelismo entre Eva e Pandora); e a narrativa do dilúvio e da sobrevivência de apenas um casal destinado a repovoar o planeta, seja na versão grega, seja na judaica. [3] O mito da caixa de Pandora encontra ressonância nos mitos iorubanos da África Ocidental, vários dos quais têm como ponto de partida a entrega por Olodumaré (o deus maior) a um dos orixás de uma cabaça ou saco cujo conteúdo é desconhecido. O orixá que recebe o presente varia de região para região, podendo ser Obatalá, Odudua ou Oranian. Numa das lendas, Obatalá, depois de ser levado por Exu a embebedar-se com vinho de palma, perde a cabaça para seu irmão Odudua, o qual, ao abri-la, encontra uma substância negra a partir da qual surgem a terra firme e tudo que nela existe. Outra lenda fala de uma cabaça de onde escapa a escuridão. A humanidade, que vivia num dia perpétuo, é obrigada, a partir de então, a conviver com a alternância entre o dia e a noite, estado de dualidade que guarda correspondência com a dicotomia entre o bem e o mal. O papel instigador de Hermes, no mito grego, pertence, entre os iorubanos, a Exu. Tanto Hermes quanto Exu remetem à função de Mercúrio: a diferenciação mediante o uso dos recursos da linguagem e da lógica. [4] A partir deste ponto, o autor começa a discutir as possibilidades de interpretação das representações gráficas de cada signo. Tais representações estão na imagem à direita. [5] Ganimedes é apresentado nos mitos gregos como um mortal de extrema beleza que, pastoreando rebanhos nas proximidades de Tróia, acabou por despertar a atenção e o desejo de Zeus, que assumiu a forma de águia e raptou o rapaz, levando-o pelos ares. O componente de atração homossexual é, portanto, bem nítido nesta lenda. [6] Sobre Júpiter (Zeus) e Prometeu, ver a nota [2]. Quanto aos titãs, eram seres monstruosos, filhos de Géia, a Terra, e de Urano, o Céu. À medida que nasciam, eram encerrados pelo pai nas profundezas da terra. Com a ajuda de Géia, um dos titãs, Cronos, castrou o pai e libertou os irmãos, criando uma nova dinastia. Contudo, também Cronos passou a devorar os próprios filhos, o que gerou nova revolta e lutas terríveis. [7] As representações gráficas tanto de Virgem quanto de Escorpião lembram uma letra M, caprichosamente desenhada. Contudo, a perna final do M está levantada em Escorpião, como um animal que levantasse a cauda e expusesse seus órgãos genitais para o ato da procriação. Em Virgem, entretanto, esta "cauda" está retraída, como se protegesse e escondesse o sexo. Leia também: De Nostradamus às guerras de Bush e Obama Leia outros artigos de Adonis Saliba. Comente este artigo |Leia comentários de outros leitores |
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