Constelar Home
menu
Um olhar brasileiro em Astrologia
 Edição 116 :: Fevereiro/2008 :: -

Busca temática:

Índices por autor:

| A - B | C - D | E - F |
| G - L
| M - Q | R - Z |

Explore por edição:

1998 - 2000 | 2001 - 2002
2003 - 2004 | 2005 - 2006
2007 - 2008 | 2009 - 2010
2011 - 2013 |

País & Mundo |
Cotidiano | Opine! |
Dicas & Eventos |

Assinar Boletins

 

Novidades em mapas do Brasil

Um link direto para os vinte mapas mais recentes

Em breve: uma nova versão de Mapas do Brasil.

ASTROLOGIA E SIMBOLISMO

Astrodramaturgia e o caso "Cinderela"

Eduardo Loureiro Junior

3. Resumo da estrutura narrativa

O processo inteiro pode ser resumido no quadro a seguir.

ASPECTOS ESTRUTURA NARRATIVA
Conjunção Mundo cotidiano: rotina
Semi-sextil (30º) Chamado: evento desestabilizador
Sextil (60º) Auxílio: orientação
Quadratura (90º) Passagem: início da mudança
Trígono (120º) Ventre: encanto com a mudança
Quincunce (150º) Caminho de provas: adaptação
Oposição Encontro: confronto
Quincunce (210º) Tentação: ajustes
Trígono (240º) Sintonia: percepção do todo
Quadratura (270º) Apoteose: concluindo a mudança
Sextil (300º) Bênção: antevendo um novo começo
Semi-sextil (330º) Fuga/resgate: diluindo o processo

Cabe observar que essa estrutura astrodramatúrgica vale mesmo quando o Sol não é um dos planetas envolvidos no aspecto, afinal cada personagem é o herói de sua própria aventura. Se a identificação e a transformação maiores referem-se ao Sol, isso não implica que os outros personagens permanecerão imutáveis. O mesmo vale para o mapa astral: embora o foco principal da transformação pessoal seja o Sol, as outras energias representadas pelos demais planetas também sofrerão modificação, bem como as pessoas em quem o cliente costuma projetar essas energias.

4. O mapa de Cinderela

Retrato do escritor Charles Perrault (1628-1703) pelo pintor Philippe Lallemand (1636-1716). Perrault é o autor de A Bela Adormecida, Cinderela e O Pequeno Polegar.

Aplicaremos agora o que foi exposto acima a um caso concreto. Uma criança a que nos coube fazer o mapa astral. Interpretando-o, descobrimos muitas correspondências com a história de Cinderela. Trataremos de expor tais correspondências baseando-se em três versões da história: a de Charles Perrault (2000), do séc. XVII, a dos irmãos Grimm (2003), do séc. XIX, e a de Walt Disney (1950), do séc. XX. Neste artigo, não enfatizaremos as diferenças entre as versões, em vez disso as compreenderemos como variações de uma mesma unidade simbólica.

O mapa astral de que trataremos é o seguinte.

O Sol encontra-se em Virgem (o signo do serviço e da purificação) e seus aspectos mais exatos são em relação à Lua (conjunção) e a Plutão (quadratura de 90º). O aspecto mais exato tanto da Lua quanto de Plutão é a quadratura entre eles. Logo vemos que a mãe acompanhará o herói durante toda a sua aventura (Lua conjunta ao Sol) e que essa relação será marcada por mudanças trazidas pela morte (Plutão em quadratura a Sol e Lua). Essas mudanças ativarão a função dramática do camaleão, possibilitando que a Lua se metamorfoseie. A mãe de Cinderela morre logo no começo da história, não antes de dizer à filha que se mantenha boa e piedosa e de prometer-lhe que, lá do céu, sempre velará por ela. A mãe camaleônica então se transforma numa madrasta terrível, embora dissimulada, que mantém o padrão virginiano obrigando Cinderela a conservar a casa sempre limpa. Interessante observar que, seguindo a lógica de Bettelheim (1980) em sua psicanálise dos contos de fadas, a madrasta é a própria mãe vista com olhos de ódio por uma filha ciumenta do pai.

Menina com mapa análogo ao de Cinderela
21.09.2006, por volta de 21h (-03:00)
Fortaleza, CE.

Próximo ao Sol, logo depois do limite da conjunção, encontramos uma conjunção Marte-Mercúrio em Libra, que bem descreve as duas irmãs postiças de Cinderela, caracterizadas por sua preocupação estética e pelo espírito aguerrido. Mercúrio tem seu aspecto mais exato em relação a Netuno (um trígono de 240º), na cúspide da X casa, e grande parte da comunicação na história gira em torno do sonho romântico da ascensão social, que as irmãs, principalmente, têm como certo. Sol, Lua, Marte e Mercúrio estão na quinta casa, a casa da expressão e, especialmente na versão de Walt Disney, isso é expresso pelos ensaios musicais empreendidos tanto pelas irmãs quanto pela própria Cinderela.

Do outro lado do Sol, no limite da conjunção, temos Vênus, cujo aspecto mais exato é um semi-sextil (de 30º) com Saturno na cúspide da 4ª casa. A autoridade é fria, ausente, embora tenha papel importante na história, seja personificado pelo Rei (que é quem cria a situação do baile) seja pelo pai que (com Saturno fazendo 330º em relação a Vênus), tenta resgatar a feminilidade da filha aprisionada aos serviços do lar (Vênus em Virgem na 4ª casa) em dois momentos. Primeiro ao perguntar às filhas o que queriam que ele lhes trouxesse da feira: as filhas da madrasta pediram vestidos enquanto Cinderela pediu um ramo de árvore (que plantaria no túmulo de sua mãe, onde lhe apareceria mais tarde uma pomba-falante). A segunda tentativa de resgate foi no final da história, quando o pai falou ao príncipe que tinha uma filha de um primeiro casamento que poderia experimentar também o sapatinho de cristal. Foi o reconhecimento do pai que resolveu a história a favor de Cinderela.

Netuno na 10ª casa, que é o foco para onde se dirige a historia, tem como aspecto mais exato uma quadratura (de 270º) com Júpiter na sexta. É um sapato que encaixa em um pé (Netuno) que fecha a mudança em relação à enorme quantidade (Júpiter) de tarefas (na casa 6) com que Cinderela tem que lidar.

Urano, regente da 10ª casa e situado nela mesma, tem seu aspecto mais exato com Júpiter, um trígono de 120º. Para realizar suas muitas tarefas, Cinderela conta com a ajuda de seus amigos marginais: passarinhos, ratos, cachorros. E esses mesmos amigos compartilham da ascensão social obtida por Cinderela: pelos encantos da fada-madrinha, eles são promovidos e se transformam em animais mais complexos ou mesmo em seres humanos.

O próprio objetivo da história como um todo, em associação com o Nodo Norte em Peixes na 11ª casa, parece ser o da criação de uma comunidade de fantasia em oposição à expressão individualizada de serviço (Nodo Sul em Virgem na 5ª Casa) do mundo cotidiano inicial.

E aqui termina nossa breve tentativa de associação entre Astrologia e Dramaturgia. Devido ao espaço reduzido, foram apresentados apenas rápidos delineamentos seja da proximidade teórica entre astrologia e dramaturgia, seja da comparação entre seus elementos. Também a apresentação do caso de exemplo restringiu-se a poucos pontos-chave da história de Cinderela, não se estendendo para a interpretação relativa ao destino da criança real. Queríamos, entretanto, deixar registrada uma introdução à Astrodramaturgia que, embora pequena, desse conta de sua totalidade essencial. Em futuros trabalhos, desenvolveremos a idéia com mais detalhes.

De todo modo, mesmo com essa rápida introdução, julgamos estar abrindo um caminho que será muito frutífero para a astrologia, tanto no que se refere à compreensão de sua simbologia quanto no que está mais ligado à prática cotidiana de interpretação.

REFERÊNCIAS

ARISTÓTELES. Poética. Coleção: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979.
BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamento, 1999.
CINDERELA. Direção: Clyde Geronimi, Wilfred Jackson e Hamilton Luske. Walt Disney Pictures, 1950.
PERRAULT, Charles. Cinderela. São Paulo: Rideel-Celebris, 2000.
GRIMM. A gata borralheira. São Paulo: Paulus, 2003.
PROPP, Vladimir. Morfologia do conto maravilhoso. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1984.
VOGLER, Christopher. A jornada do escritor - Estruturas míticas para contadores de histórias e roteiristas. Rio de Janeiro: Ampersand, 1997.

Ilustrações: cartaz do filme Cinderela, dos Estúdios Disney, e ilustrações de uma versão em espanhol da história de Cinderela no site da Universidade do Arizona.

Outros artigos de Eduardo Loureiro Junior.

Comente este artigo |Leia comentários de outros leitores



Atalhos de Constelar | Voltar à capa desta edição |

Carlos Hollanda - O atentado que matou Benazir Bhutto | Sangue no Paquistão | Saturno-Plutão e desigualdades de quatro países |
Eduardo Loureiro Jr. -
Novas propostas | Astrodramaturgia e o caso Cinderela | Estrutura narrativa e mapa |
Raul V. Martinez -
Retificando o mapa do PT | O PT e o mensalão |
Carmen Sampaio -
Astrologia e Saúde | Planetas, comportamento e somatização |

Edições anteriores:

Equipe de Constelar - Retrospectiva | As previsões para 2007 e o que realmente aconteceu |
Luís Ribeiro e Helena Avelar
- Previsões com Astrologia Tradicional | Brasil | Estados Unidos, China e Eclipses |
Niso Vianna
- Presságios2008 | O Brasil em 2008 e o futuro sob uma perspectiva astrológica mundial |
Raul V. Martinez - Previsão com método de profecções | Datas críticas de 2008 |
Vanessa Tuleski - Astrologia e RH | Lidando com o mundo do trabalho em 2008 |
Henrique G. Wiederspahn - Previsões para o mundo dos negócios | O trânsito de Júpiter em Capricórnio |
Silvia Ceres - 2008-2009 | As efemérides do ano |


Cadastre seu e-mail e receba em primeira mão os avisos de atualização do site!
2013, Terra do Juremá Comunicação Ltda. Direitos autorais protegidos.
Reprodução proibida sem autorização dos autores.
Constelar Home Mapas do Brasil Tambores de América Escola Astroletiva