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olhar brasileiro em Astrologia
Edição 90 :: Dezembro/2005 :: - |
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MITOLOGIA E LITERATURAO mito da Moira
O tema da Moira no Paradiso TerrestreEm
Il Paradiso Terrestre o tema da Moira se metamorfoseia em várias
aparições: ora como tradição arcaizante das
mulheres vestidas de preto que caracterizam a condição feminina
no contexto insular; ora como os cartazes fúnebres que atapetam
os muros das cidadezinhas, a fim de que aqueles que se foram sejam a cada
minuto lembrados; ora como o monumento aos caídos de Dogali, batalha
histórica em defesa da cidade de Agrigento (foto), com cuja inscrição
o romance se abre; ora como a "cialoma", cantilena que acompanha
a matança do atum e que se assemelha a uma trenódia grega;
ora como a morte funesta de dois dos filhos de Don Gaetano, proprietário
de Villa Ibla: Nunzio, que ao descobrir a verdadeira situação
de filho ilegítimo, mata o irmão Luccio e se enforca em
seguida; ora no contraste estarrecedor entre a situação
privilegiada dos usuários do paradisíaco hotel Villa Ibla,
com piscina e parque verdíssimo, e a condição dos
habitantes da casbah que faziam filas quilométricas para encher
suas vasilhas de água, distribuída por duas horas a cada
quinze dias, quadro agravado pela seca que assolava a região; ora
no pisoteamento de uma criança durante a procissão de San
Calò, cuja multidão, no afã de ver o milagre da multiplicação
dos pães, corre desenfreada, causando o acidente; na morte de Don
Diego, pároco que procura desvendar o segredo da carta do Diabo,
lenda que paira sobre a mítica cidade de Agrigento. Enfim, a Moira
se contextualiza no destino pessoal de Vanni Corvaia, que sucumbe ao tentar
resolver o velho problema hídrico de Agrigento. Havia a hipótese
de que debaixo da cidade existissem lençóis freáticos
no Hipogeu do Purgatório. Vanni, sozinho, e sem estar devidamente
preparado, resolve embrenhar-se labirinto adentro, justamente após
o dilúvio que se abatera sobre a cidade castigada pela seca havia
meses. O protagonista é atraído cegamente pela fatídica
Moira, em busca de uma solução para a sua vida. Ao perceber
que ficara preso no Hipogeu do Purgatório, pois a chuva provocara
o fechamento da passagem, tenta pronunciar o nome de Penélope,
aquela que lhe dedicara momentos de doçura e prazer no Vale dos
Templos, mas é Perséfone, a rainha do Hades, a deusa dos
Infernos, que lhe sai dos lábios. Reconhece ter armado sua própria
sepultura e se compara ao tolo atum que se deixa atrair para a câmara
da morte.
A figura da Moira em Sergio Campailla é bastante
fatalista e isso deve-se à grecidade genética existente
no autor assim como no habitante da ilha. Em uma entrevista, ele diz que
no seu romance "existe uma presença significativa da Moira,
que é um signo de destino". Ele se reconhece na tradição
meridional, especificamente siciliana, "que é a conseqüência
de uma história milenar" da qual se sente filho e expressão,
tanto do ponto de vista histórico quanto do ponto de vista familiar.
Diz sentir e compreender através da sensibilidade " a experiência
do homem da ilha que fica separado, que faz um esforço para pertencer,
para integrar-se" o que considera "uma espécie de destino".
Continua dizendo que "na cultura siciliana, mediterrânea, ou
de origem grega, desenvolveu-se um fatalismo", que na sua obra é
um tema recorrente e fundamental. No seu caso específico esta fatalidade
vem sempre com uma 'joie de vivre'. Finaliza dizendo: "Eu
sou um siciliano, sou um trágico". O tema da Moira em ÉsquiloEm Ésquilo há um forte idealismo no sentido
de acreditar que um dia a Justiça (Díke) e a ordem
suprema triunfarão, pois se o papel da Moira é regularizar
o que foi além da medida (Métron), uma vez estabelecido
o equilíbrio, a Moira agirá suavemente. Em outras palavras,
quanto menor for o Pecado (Hamarthía), menor será
o Erro (Ate) e a Vingança (Nêmesis) só
agirá de acordo com a situação. Segundo Ésquilo,
o antídoto contra a Moira seria a Temperança (Sofrosýne),
pois somente esta pode estar em consonância com a Lei Suprema do
Universo, que é, em outras palavras, o Divino.
Em suas tragédias, Ésquilo nos demonstra uma
certa evolução do pensamento mítico do seu tempo,
pois certamente tinha conhecimento da ligação entre consciência
e inconsciência da Moira, ou seja, entre determinismo e livre-arbítrio.
No Prometeu Acorrentado o conceito de Moira era quase cego, assim
como nos Sete Contra Tebas, onde o determinismo impera. Já
nos Persas podemos dizer que há uma ligeira evolução
do livre-arbítrio. Xerxes não estava consciente da sua hýbris,
mas tendo visto o exemplo da morte de Dario, seu pai, na Batalha de Maratona,
achou-se no direito de continuar a luta, apesar de ter sido admoestado
para não fazê-lo, pois acreditava-se mais poderoso do que
os deuses ao atravessar o Bósforo, sendo derrotado de maneira humilhante
pelos helenos. Na Oréstia parte-se de um conceito maior
de determinismo que vai diminuindo em escala decrescente até chegar
ao de livre-arbítrio. Orestes, consciente do seu erro, mesmo se
a este foi forçado pelo oráculo, tem a dimensão da
própria culpa e, após a expiação, através
da dor, redime-se e, de fato, é absolvido. Não só
o julgamento no Areópago em que Palas Athena dá o voto do
desempate beneficiando Orestes, liberando-o da culpa do crime de consagüineidade,
ou melhor, de matricídio, como também a transformação
das Erínias (Fúrias) em Eumênides (Benfazejas), mostram
que o criador da tragédia idealizava um mundo melhor, resolvido
nos seus conflitos, balanceado pelo equilíbrio da Justiça,
podendo transmutar, assim, a atuação da Moira. Em outras
palavras, o poeta eleusino interpretou diversamente a implacabilidade
do Destino, dando-lhe uma certa flexibilidade. A Moira em Ésquilo assume um papel totalmente novo
para a época, pois a solução achada por este para
o julgamento de Orestes no Areópago, não só entre
os deuses, mas também entre os homens, faz com que aquele conceito
antigo de determinismo venha a ser transformado, pois, na sua obra, a
mácula pode ser purificada ou diminuida através da dor;
o sofrimento é, pois, a chave para a redenção da
culpa. Este pode aplacar a Moira e o livre-arbítrio substitui-se
ao cego determinismo [10]. NOTAS [7] A. Magris, op. cit.,
p. 48. BIBLIOGRAFIA
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