Um
olhar brasileiro em Astrologia
Edição 3 :: Setembro/1998 :: - |
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AS BASES FILOSÓFICAS DA ASTROLOGIAEntendendo Estrelas Fixas
As estrelas fixas - termo utilizado em contraposição às estrelas errantes, ou planetas - já eram conhecidas pelos gregos como um recurso de interpretação. Dos astrólogos gregos vem a distinção entre estrelas zodiacais e não-zodiacais, que dá a base para duas diferentes metodologias de utilização no mapa.
Constelação é o nome dado a certos grupos de estrelas do Céu onde são projetados, com a força coletiva do imaginário da humanidade, certos desenhos e formas que as distinguem no firmamento. A palavra vem do latim com-stelattus, marcado com estrelas. Os astrônomos classificam as estrelas pela sua magnitude, latitude, declinação, ascensão reta e classe espectral. O Sol, por exemplo, em torno do qual gravita a Terra e os planetas do sistema solar, é uma estrela anã branca. Por volta de 1970, 88 constelações eram aceitas universalmente, além de grupos estelares menores, chamadas asterismos. Em 1945, a União Internacional Astronômica marcou oficialmente os limites das constelações e quais estrelas pertencem a qual constelação. A pesquisa do espaço exterior, a partir da invenção da luneta por Galileu Galilei, descortinou para a humanidade a visão de nebulosas, quasares, pulsares, centros emissores de raios-gama, de raio-x, buracos negros e outras galáxias. A visão de um Céu decomposto em partes desconhecidas já foi motivo de terror para o matemático francês Blaise Pascal. [1] Para a astrologia e seus praticantes, como há 3 mil anos atrás, no entanto, o Céu ainda detém um Saber que não é expresso pelo peso específico ou absoluto das massas - ou não-massas - que o compõem. É um Céu desafiante, contudo, mas o olhar difere. E se o olhar difere, a compreensão é outra. As chamadas estrelas fixas - em contraposição às estrelas errantes (os planetas) - constituem um dos palcos por excelência no qual se trava, portanto, a batalha entre a visão simbólica de um universo includente e a visão descarnada de um cosmos sem significado ontológico, fadado ao exercício estéril da luta ideológica entre potências tecnologicamente "avançadas". [1] Dr. Amancio Friaça, em comunicação no seu curso Origens, SP, 1998. V. Bibliografia. A História: o Crescente FértilA observação das estrelas fixas remonta aos primórdios dos assentamentos humanos do Neolítico e, mais tarde, das civilizações em qualquer latitude geográfica e/ou momento histórico. Na América pré-colombiana, na China, na África Negra, no Oriente Médio, na Índia, nas civilizações do Crescente Fértil (antiga Mesopotâmia) ou na Europa, existem registros - elaborados com maior ou menor grau de análise, complexidade ou sofisticação - sobre as estrelas do firmamento. O Céu oferecia, antigamente, o mais importante sustentáculo de orientação para as atividades relativas à agricultura, aos deslocamentos terrestres ou marítimos e aos rituais de religação do homem com seu entorno. O mesmo fenômeno de culturalização do Céu foi seguido em todas as partes do mundo, em algum momento da história das civilizações, o que nos faz pensar no caráter universal deste comportamento humano, ou na existência de uma estrutura cósmica universal e subjacente, no que se refere a certos invariantes estruturais que aparecem em vários momentos da história, independente de variações culturais e subjetivas aqui e ali. Como exemplo, existem incontáveis referências à Via Láctea, a qual Salústio, um filósofo neoplatônico do século IV a. C., chamou de "limite superior da matéria sujeita à mudança". A Via Láctea se encontra na interseção do zodíaco e da eclíptica, marcando o centro galáctico na região que compreende os signos do Escorpião e do Sagitário. Além de ser uma das regiões mais cheias de estrelas e agrupamentos celestes, simboliza a fronteira entre o mundo do movimento e a eternidade imóvel, lugar de passagem, que liga o mundo divino ao terrestre; às vezes comparada a um rio, outras a uma árvore ou serpente, permanece "simbolizando a via dos peregrinos, dos místicos e exploradores, de um lugar ao outro da terra ou de um plano ao outro do cosmos, ou de um nível a outro do mundo psíquico". Os nativos da América do Norte vêem na Via Láctea o caminho que as almas tomam para o além, enquanto, para os tártaros muçulmanos, ela é o caminho dos peregrinos de Meca [2]. Com relação à história da astrologia ocidental, a observação e atribuição de significados às estrelas fixas envolve desde mesopotâmicos, depois gregos e mais tarde, persas e árabes. À parte os fragmentos de listagens com nomes de estrelas, que remontam ao 3º milênio a. C., na antiga Suméria, um dos registros mais antigos destas observações estelares é uma "Oração aos Deuses da Noite", de origem babilônica e datada de 1800 a. C. [3] As Tabuletas de Amisaduga, confeccionadas para o rei babilônio de mesmo nome, compilam presságios para o país e agricultura de acordo com a ascensão de Vênus durante certos meses [4]. Até esta data, a massa de anotações e observações do céu concentrava-se nos luminares e nos planetas, vistos a olho nu, e nas estrelas fixas, para fins de confecção de presságios ligados a agricultura e à política. A série do Mul Apin (direita), finalizada por volta do ano 1000 a. C., lista 18 constelações do céu da Babilônia divididas pelas três faixas largas, mais ou menos paralelas ao Equador, que eram dedicadas a um dos três deuses principais: Anu, Enlil e Ea [5]. Centenas de anos mais tarde, os mesopotâmios compilaram todo o material registrado anteriormente na série de 60 tabuletas do cânon astrológico do Enuma Anu Enlil; sua importância é atestada pelo número enorme de cópias encontradas em todas as grandes cidades da região, bem como na biblioteca real de Nínive. O Enuma, compilado definitivamente no reino de Assurbanipal, atesta o reconhecimento de 36 constelações: 12 ao norte, 12 zodiacais e 12 ao sul. Os astrólogos escribas nos deixaram milhares de Diários Astronômicos (652 a. C. - 47 a. C.), onde registravam os fenômenos celestes. Os Diários atestam que centenas de anos se passaram até que mesopotâmicos atribuíssem a algumas constelações certos desenhos, mitos e lendas relativos a sua cultura. Os registros mais antigos de mapas astrológicos individuais, de origem babilônica, com divisões de 12 signos de graus, datam do sec V a. C., e esta adequação talvez tenha sido motivada pela necessidade de adequar o zodíaco dos signos a um preexistente, de 12 meses de 30 dias, com fins claros de utilização na vida econômica e política dos reinos, sem muita preocupação horoscopística como a conhecemos. Segundo os registros encontrados na Babilônia, não se conhece mais nenhum horóscopo individual além de 142 a. C. [2] V. Chevalier, J & Gheerbrant, A na Bibliografia - p. 811. [3] Robert Brown Jr, em 1899, compilou um planisfério do Eufrates que ele considerou como o ancestral de todos os outros; estas tabuletas abarcam de 3 mil a 500 a.C.; o sistema pode ser ainda anterior a esta data mais antiga. [4] Amisaduga governou a região de 1702 a 1682 a.C. Para discussão do tema, V. Walker, na Bibliografia. [5] Walker, op.cit. Grécia e AlexandriaOs gregos herdaram o conhecimento mesopotâmico e fenício. Tanto na Teogonia de Hesíodo, quanto nas obras de Homero, há referências a certas estrelas e constelações que têm relação com mitos sumérios. N' O Trabalho e Os Dias, uma espécie de calendário-tratado para uso dos pastores gregos, Hesíodo faz referência clara às Plêiades, Híades, Orion, Sirius e Arcturus. Nos Hinos Homéricos há citações sobre as anteriores e o Boieiro - e outras que são elencadas em Jó (do Antigo Testamento). Pesquisadores, portanto, consideram certo que os gregos receberam dos mesopotâmicos, via fenícios, grande parte de seu conhecimento simbólico sobre as constelações [6]. As Plêiades, consideradas no mito grego como filhas do gigante Atlas. A partir do século VI a. C., as constelações começam a aparecer nos registros de historiadores e poetas gregos: Aglaóstenes, que registra a Ursa Menor (Cinosura) e a translação de Aquila; Epimenides de Creta, que observa a translação de Capricórnio e da estrela Capella; Ferécides de Siros grava o mito de Orion e observa que, quando Orion se põe, o Escorpião ascende; Ésquilo e Helano de Mitilene narram a lenda das sete irmãs Plêiades, filhas do gigante Atlas, e Hecato de Mileto conta a lenda da Hidra. Euctêmon, um astrônomo grego (século V a. C.) compila um calendário de estações no qual Aquário, Aquila, Cão Maior, Coroa Boreal, Cisne, Golfinho (Delphinus em latim), Lira, Orion, Pegasus, Sagitário e os asterismos Hiades e Plêiades estão ali mencionados, em relação ao tempo, às mudanças de estação. Neste calendário, solstícios e equinócios estavam associados aos signos. O mais antigo trabalho grego com relação às constelações foi escrito por Eudoxo de Cnido (Phaenomena). Embora perdido, o original emprestou a base e o nome para que Arato, um poeta da corte macedônia, escrevesse seu longo poema. No Phaenomena, são descritas 44 constelações, sendo 19 ao norte, 13 zodiacais e 12 ao sul. (imagem: Phaenomena de Aratus em manuscrito do século XI copiado no mosteiro de Saint-Bertin) O astrônomo grego Hiparco (146-127 a. C.) separou algumas constelações de outras. Mais importante, ao observar o céu estrelado, descobriu a precessão dos equinócios, comparando, com base no calendário de Euctêmon, a diferença que havia entre os solstícios e equinócios e as constelações que deveriam surgir por ocasião dos mesmos. Hiparco verificou o desvio e, depois de corrigido, o zodíaco tropical estava pronto, ajustadas as estações reais às respectivas constelações [7]. Cláudio Ptolomeu, astrônomo alexandrino, cerca de 300 anos mais tarde, no livro 6º de seu Almagesto, adota o sistema de Hiparco e cataloga 48 constelações por nome e localização, atribuindo a cada estrela próxima da eclíptica características de um ou mais planetas. O Almagesto foi a base para todos os catálogos de estrelas posteriores. Outros catálogos estelares, em época bem posterior, foram feitos por J. Bayer (1603), J. Flamsteed (1725), J. Hevelius (1690), N. de Lacaille (1751), entre outros. Cada um destes astrônomos, além da catalogação, criou métodos de classificação estelar e, ainda, outras constelações, como por exemplo a de Lacerta (Lagarto) ou de Camelopardalis (Girafa) [8]. [6] Estudiosos apoiam-se inclusive no fato de que Tales, o mais antigo astrônomo grego conhecido, era de origem fenícia - Enc. Britannica - UK, 1973, p. 392. [7] Quando o Sol, na sua ronda aparente pela eclíptica, atravessa o equador celeste na primavera - o equinócio vernal - ele "anda para trás", contra o céu das estrelas fixas, cerca de 1 grau a cada 72 anos e meio. A oscilação lenta do eixo da Terra sobre sua própria posição faz com que cada um dos pólos trace um círculo cujo raio é de 23o ½ no céu; isso faz com que estrelas diferentes fiquem diretamente acima dos pólos, num ciclo de cerca de 25.800 anos. As estrelas que ficam neste campo são designadas estrelas circumpolares. O deslocamento do ponto equinocial em direção ao oeste se dá a 50" por ano. Atualmente, o pólo celestial norte é marcado pela estrela Polaris, da constelação da Ursa Maior. (V. Filbey na Bibliografia). [8] Digno de nota para nós, brasileiros, foi a inclusão em 1679, por Augustine Royer, da constelação do Cruzeiro do Sul (Crux Australis), cujas estrelas mais importantes - Gacrux, Acrux e Mimosa, que são associadas a vocações como a astrologia, astronomia, botânica, poderes psíquicos - ficam próximas da constelação do Escorpião e são consideradas relativas ao Brasil. Quando pensamos que o Meio-Céu do mapa astrológico do Grito do Ipiranga e o Sol natal da carta da Proclamação da República ativam estas estrelas, desta terra de distinguidos pesquisadores do céu, como o falecido físico Mario Schenberg, um país rico em fitoterápicos - que estão sendo roubados pelas multinacionais - e tantos astrólogos, podemos ter uma pequena idéia da força reveladora das estrelas fixas nas análises astrológicas. A Simbólica das Estrelas FixasA tradição anterior de analisar estrelas segundo pares planetários foi incorporada pela astrologia persa, árabe e mais tarde medieval. A grande maioria de astrólogos da Idade Média, impulsionada pelos árabes, elencava, em seus tratados e compêndios, centenas de estrelas de constelações, atribuindo a elas maior ou menor força, qualidades benéficas ou maléficas, incorporadas ao original simbolismo planetário anexado na era alexandrina. Foi durante o período alexandrino que surgiu a grande divisão entre as estrelas zodiacais e as extra-zodiacais. Na Sphaera Barbarica estavam as estrelas fixas cuja declinação ultrapassava os 16º que ocupa o Zodíaco na eclíptica; e na Sphaera Graeca ficavam as estrelas fixas de pequena latitude, próximas da faixa zodiacal. As estrelas da Sphaera Graeca eram analisadas como planetas. Esta é a origem das listagens conhecidas até hoje, que atribuem a certas estrelas as qualidades de um planeta ou par deles. Já as estrelas da Sphaera Barbarica eram classificadas de acordo com o grau da eclíptica no qual ascendiam, se punham, culminavam ou anti-culminavam (isto é, os graus da eclíptica que cruzavam o grande círculo quando a estrela estava fisicamente neste mesmo grande círculo) [9]. [9] Alguns estudiosos apontam para a possibilidade de que, para os gregos, a preocupação maior não residia em saber se um corpo celeste estava acima ou abaixo da eclíptica, mas se ele estava em um certo grau ou não, pois quem detinha o simbolismo era, justamente, moira, ou seja, o grau zodiacal. Eles não se preocupariam muito, portanto, com a existência física de um corpo celeste em um dado local. Claro que tudo isso é apenas a ponta do iceberg do modo grego de ver o mundo, que incorporava a numerologia de Pitágoras, a teoria dos quatro elementos de Empédocles, a cosmogonia de Platão, além de todos os elementos culturais e religiosos, e das escolas de mistério da Ásia Menor, que formaram o que chamamos genericamente de cultura helênica. (V. Kingsley e Tester na Bibliografia) |
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