O agitado cenário de 1954 e as ligações com 2014
Em 1954, Júpiter estava em Câncer e Saturno em Escorpião. Além disso, Júpiter estava conjunto a Urano e ambos quadravam Netuno em Libra. Ou seja, havia uma forte tensão cardinal, que coincidia com um momento conturbado no Brasil: os rumores sobre o atentado malogrado que tinha como alvo o jornalista Carlos Lacerda, inimigo político de Getúlio Vargas. O evento resultou em uma grave crise política e culminou com o suicídio do então presidente.
No dia do suicídio, a Lua já tinha ingressado em Câncer. Poucas horas depois da morte do líder, Marte adentrava no também cardinal Capricórnio, onde já estavam o Nodo Norte e Quíron, colocando a lenha final na fogueira Cardinal, da qual já fazia parte também Vênus em Libra. O único signo deste ritmo não representado naquele momento foi Áries. Não seria preciso, pois uma Cruz poderia ser fechada com Mercúrio e o Sol de Getúlio Vargas neste signo.
Sessenta anos depois, em 2014, temos os mesmos Júpiter em Câncer e Saturno em Escorpião, o que já estabelece uma conexão daquele tempo com este. Júpiter em Câncer atiçando as emoções coletivas, e Saturno em Escorpião como um tempo de limpeza e inconformismo. Temos, igualmente, a mesma ênfase Cardinal, da qual Urano, assim como na versão anterior, faz parte. A troca mais importante foi a de Plutão de 2014 por Netuno de 1954. No mundo inteiro, 2013 e 2014 têm sido anos de muita mexida social e também individual. Há, assim, mais em comum entre 1954 e 2014 do que se imagina. “Getúlio”, portanto, não foi lançado neste ano, em uma produção esmerada e com atores de primeira linha, ao acaso. Rever a história do Brasil já é um evento que pode estar ligado a Júpiter em Câncer, signo que resgata tempos passados, e que em 2014 resgatou uma figura histórica de suma importância, e cuja morte jamais será esquecida. Ela começou em um atentado.
Um atentado atrapalhado
Assim como agora, 1954 também foi um ano de grande agitação. No Brasil, uma crise inesperada (Urano) e de grandes proporções (Júpiter) ocorreu depois de uma tentativa de assassinato do maior rival político de Vargas, em que um major da Aeronáutica acabou morto em seu lugar. Nisto há um flagrante toque de Netuno, planeta que rege a confusão, pois foi alvejado o alvo errado e o erro custou bastante caro, invertendo toda a História. Tente perceber os elementos netunianos na descrição dos acontecimentos do atentado na Rua Tonelero, utilizando texto da Wikipédia:
Lacerda, um dos principais opositores do governo Vargas, iniciara sua campanha a deputado federal. Como havia sido ameaçado de morte algumas vezes, um grupo de simpatizantes, oficiais de Aeronáutica, decidiu servir-lhe de segurança durante seus comícios. Depois de um deles, realizado na noite de 4 de agosto de 1954, o jornalista volta para casa acompanhado de seu filho no automóvel do major-aviador Rubens Florentino Vaz. Ao chegar na rua Tonelero, os três saltam do veículo e, ao se despedirem, uma pessoa surge das sombras e dispara vários tiros. O major, desarmado, tenta se defender, mas é atingido mortalmente no peito. Enquanto isso, Lacerda leva seu filho para a garagem do prédio e volta disparando contra o agressor, que foge num táxi. Um guarda municipal que estava nas proximidades ouve os disparos e, ao verificar o que estava acontecendo, também é atingido por um tiro, conseguindo, porém, anotar a placa do veículo fugitivo.
Naquela mesma madrugada a imprensa começa a divulgar os detalhes do crime. O motorista do táxi, sabendo então que seu veículo fora identificado, decide se apresentar a uma delegacia. Inicialmente alega inocência, dizendo que apenas pegara o passageiro e não tinha conhecimento do crime, mas confessa seu envolvimento após depoimento à Polícia Militar.
O ponto de táxi de Nelson ficava junto ao então palácio presidencial e costumava servir aos integrantes da guarda pessoal de Getúlio. Um desses integrantes, Climério Euribes de Almeida, combinara com o taxista de dar fuga em seu veículo a ele e um pistoleiro, Alcino João do Nascimento.
Alcino, na verdade um marceneiro em dificuldades financeiras, fora contratado meses antes por José Antônio Soares para executar um desafeto. Ele aceitara prontamente o serviço, matando, no entanto, a pessoa errada. Isso não impediu que José o indicasse para cumprir uma tarefa semelhante encomendada por Climério. Ficou acertado que o atentado seria cometido durante um comício de Lacerda na cidade de Barra Mansa. Entretanto, o carro de Nelson enguiçou, forçando o adiamento para 4 de agosto, data do próximo comício do jornalista. No dia, Climério e Alcino seguiram para o Colégio São José, mas o taxista, que deveria encontrá-los ali para a fuga, se atrasou. Já tarde da noite, os três decidiram seguir, então, para a casa de Lacerda.
Após a troca de tiros, Lacerda sai ferido no pé direito, e o major Vaz, depois de ser atingido por duas balas de uma pistola calibre 45 (de uso exclusivo das Forças Armadas), morre a caminho do hospital. O comando da Aeronáutica assume as investigações em 8 de agosto, mesmo dia em que Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal de Getúlio e apontado como mandante do crime, confessa sua participação. Climério e Alcino são capturados pouco tempo depois.
Notem-se no texto os fartos elementos ligados a Netuno, casa doze e Peixes. No dia do atentado, não por acaso a Lua tinha acabado de se separar de Netuno e de uma quadratura com Júpiter, Urano e Mercúrio em Câncer. Quando configurações formadas por planetas lentos são acionadas por planetas rápidos, acontecimentos se precipitam, e foi exatamente o caso.
Voltando a Netuno, o pistoleiro não era um pistoleiro profissional, e sim, um marceneiro passando por dificuldades financeiras que foi convidado para o mundo do crime. Ou seja, carência e ingresso no mundo do crime, algo típico da casa doze, além de imperícia, o contrário de Virgem, signo que forma oposição a Peixes. O atrapalhado pistoleiro já havia atingido o alvo errado, e, mesmo assim, foi chamado para executar o serviço, o qual foi marcado para um determinado dia.
Netuno já estava influenciando os acontecimentos, pois, neste dia combinado para o atentado, o carro enguiçou. Falhas e enguiços podem ser atribuídos a este planeta, que também gera retardos e esperas. A empreitada, então, foi remarcada para o próximo comício, mas diante de uma trupe tão desorganizada, as coisas não poderiam dar cem por cento certo, e quem falhou desta vez? O motorista de táxi, que chegou atrasado ao evento. Mais Netuno impossível! Isto fez com que o crime fosse reagendado para a noite e acabou ocorrendo na madrugada do dia 5 de agosto de 1954.
Como fez na primeira vez, o pistoleiro atingiu a pessoa errada (parece que ele era perito nisso) e o verdadeiro, o jornalista, levou um tiro em uma parte do corpo regida por Peixes: o pé. Mas Netuno não termina por aí, uma vez que é o senhor das coincidências inesperadas. Um guarda municipal presenciou o atentado, foi alvejado também, mas teve tempo de anotar a placa do carro. E será justamente a tal placa que conectará o atentado a Getúlio, mudando toda a História do que poderia ser um infeliz evento mal organizado que ficaria na penumbra. Mas não foi o que aconteceu. Veja o que diz a Wikipédia.
Consequências do atentado: a crise política que se seguiu ao episódio, em particular com os militares inconformados com morte de um dos seus, agravada pelos ataques violentos de Lacerda e seus seguidores ao presidente, sem que houvesse um moderador, agigantou a onda contrária a Getúlio Vargas.
Note as expressões “crise política” e “agigantou a onda contrária a Getúlio Vargas”. Ondas são regidas por Netuno, que estava em quadratura com Júpiter, que incha o que toca. Além disso, Júpiter bem pode reger oficiais da Aeronáutica, ainda mais em conjunção com Urano, planeta ligado à aviação, e significador de acontecimentos imprevistos.
Em suma: um evento descoordenado e atrapalhado (Netuno) gerou uma grande (Júpiter) e rápida (cardinal) crise de consequências imprevistas (Urano), que terminou, por sua vez, da maneira mais imprevisível possível: com o suicídio do presidente pressionado, cujo corpo foi pranteado em um cortejo concorridíssimo (Júpiter). Comoção nacional: Netuno, Júpiter e Urano também! Lágrimas são de Netuno, e Júpiter e Urano ocupam um signo fortemente emotivo, Câncer.
O mapa do presidente
Entender a trajetória política de Getúlio e sua personalidade não é tarefa simples. A carreira deste político gaúcho foi longa, rica e vivida em uma época política extremamente tumultuada, marcada por disputas e imprevisibilidade, na qual não era incomum se matar desafetos, e pelo constante envolvimento das Forças Armadas.
No exercício do poder, como presidente do Brasil, Getúlio tomou medidas drásticas, colocando na reserva militares, dissolvendo o Congresso Nacional duas vezes, aposentando ministros alinhados com a gestão anterior, suspendendo garantias constitucionais, instaurando ditadura e reprimindo manifestações contrárias ao seu governo (através da criação do DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda). Mas também anistiou civis e militares envolvidos em movimentos revolucionários anteriores, criou o primeiro Código Eleitoral, que estabeleceu o voto obrigatório e secreto, e estendeu o voto às mulheres. Acima de tudo, tornou-se conhecido pela ampliação das leis trabalhistas, fato que lhe valeu o apelido de “Pai dos Pobres”. A carteira de trabalho, hoje tão comum, é criação do presidente gaúcho. A Justiça do Trabalho também. Portanto, sempre foi um governante no mínimo contraditório em uma época que também tinha tais características.
Vargas nasceu em 19 de abril de 1882, em São Borja, horário ignorado. Trabalharemos, portanto, com o mapa solar, que também pode fornecer muitas informações, como veremos a seguir.
Neste mapa, temos Mercúrio simbolicamente na casa doze (por ser anterior ao Sol, que inaugura o mapa). Mercúrio rege os irmãos e as pessoas próximas. A ligação de Mercúrio com uma casa doze simbólica implicaria que estas figuras (irmãos e pessoas próximas) ora fizessem o papel de inimigos ocultos (ou atuassem pelas costas), ora pudessem ser fonte de apoio e conhecerem muito bem o presidente, estando muito próximas a ele. Notamos que isto de fato acontecia. O irmão do presidente, por exemplo, foi apontado como estando envolvido com o episódio da Rua Tonelero. A filha do presidente, por seu turno, mantinha um grau de intimidade muito grande com o pai. Por outro lado, Getúlio perdeu um filho, Getulinho, com vinte e três anos, perda que lhe foi muito dura e dolorosa. Portanto, não se deve subestimar este Mercúrio simbólico de casa doze, que também esteve presente na sua derrocada. Muitos anos antes, Getúlio também havia confabulado nos bastidores. Foi assim que lhe chegou o poder, foi assim que o manteve (o DIP é uma criação bem de casa doze) e, foi assim, igualmente, que quase o perdeu, só o entregando para a morte.
Ao analisarmos o mapa de Getúlio, o que salta aos olhos, porém, é o poderoso stellium em Touro. Touro é o signo da teimosia, permanência e estabilidade. Getúlio Vargas governou durante 20 anos, tempo inferior somente ao de Dom Pedro II, que foi imperador. E de que forma Touro se apresentou na sua vida? Várias. Para começar, foi filho de uma família próspera, com terras no Rio Grande do Sul. Riqueza e privilégios podem ser coisas taurinas, principalmente quando se tem Júpiter e Plutão conjuntos neste signo, como tinha o “Pai dos Pobres”. Veja informações da Wikipédia:
Getúlio Vargas provém de uma tradicional família da zona rural da fronteira com a Argentina. Os Vargas são originários do Arquipélago dos Açores, como a maioria das famílias povoadoras do Rio Grande do Sul que emigraram para o Brasil em busca de melhores condições de vida.
Pelo lado paterno, seu pai é também descendente de famílias paulistas tradicionais: era descendente, por exemplo, de Amador Bueno, personagem de destaque na história de São Paulo e patriarca de muitas famílias não apenas de São Paulo, mas também de Minas Gerais, Goiás e do Sul do Brasil.
Na juventude, Getúlio cursou Direito e destacou-se como orador. Mercúrio está em Áries, em quadratura com Marte em Câncer, por sua vez regido pela Lua colocada em Touro. Getúlio sabia dar um tom impactante (Áries), emotivo (Câncer) e afetivo (Touro) às palavras (Mercúrio).
Marte na casa quatro simbólica tem também a ver com as raízes militares da sua família: o pai tinha lutado na guerra do Paraguai. Além disso, Getúlio nasceu em um estado com constantes brigas e conflitos, e mais ainda naquela época, em que os gaúchos se dividiam entre maragatos (isto é, membros do Partido Federalista do Rio Grande do Sul) e ximangos (membros do Partido Republicano Rio-grandense).
Ao lado desta característica de constantes lutas marcianas, Touro, que concentra sete planetas, responde por muitas características associadas a Getúlio. Assim, apesar de ter assumido um papel de ditador, um mau uso do Sol em Áries em quadratura com Marte, além da concentração de poder de Plutão em Touro ladeado por Júpiter e Lua, teve, na psique do povo, um papel afetivo. Ele é explicado por Lua e Vênus em Touro, mescladas com Saturno (o arquétipo do Pai) e Netuno (a idealização). Foi ministro da Fazenda, trabalhando com Economia, que é algo atribuído a Touro. Na época do suicídio, tinha uma silhueta taurinamente rotunda e uma fala mansa. Com muita frequência, preferia não desperdiçar palavras e discursos em suas reuniões, em um traço taurino de praticidade e economia.
O presidente também tinha Urano, planeta reformista e inovador, no mesmo signo que o Sol do Brasil: Virgem, dos trabalhadores e das questões trabalhistas. Getúlio organizou e inovou nestas questões. Foi onde se tornou brilhante e notório (Urano). Também criou medidas de proteção, algo em ressonância com o Marte em Câncer. Boa parte do seu governo foi prática e mexeu diretamente com questões econômicas, que repercutiram a longo prazo, o que tem muito a ver com a ênfase em Terra do seu mapa. A Petrobras, por exemplo, foi uma das criações de seu governo. Aliás, ela aparece no mapa do presidente através da conjunção de Plutão (petróleo) com Júpiter (riqueza, prosperidade).
Touro em destaque também auferiu afeto e lealdade do povo. O Sol estava em Áries (exaltação), a imagem do herói. Mas Touro também responde pela teimosia e resistência de Getúlio e na forma como se aferrou ao poder. Vejamos mais um trecho da Wikipédia.
Diante dos pedidos de renúncia à presidência que começaram a se multiplicar, em 23 de agosto o presidente reuniu-se com os seus ministros no Palácio do Catete, a fim de analisar o quadro político. Ficou decidido que o presidente entraria em licença, voltando ao poder quando as investigações sobre o atentado estivesse concluídas. Duas horas mais tarde, quase às cinco horas da manhã do dia 24, Benjamin Vargas, irmão de Getúlio, chegou ao Palácio com a informação de que os militares queriam mesmo a renúncia. Como resposta, ao se retirar para o seu quarto, Getúlio afirmou: “Só morto sairei do Catete!” Momentos mais tarde ouviu-se um tiro: Getúlio estava morto com um tiro no coração.
1954 pressiona o mapa de Getúlio
Getúlio é um caso especial de um mapa singular (formado por um stellium de sete planetas) com um momento astrológico bastante intenso, que foi o do ano da confusão política e do seu suicídio. Confesso que quando olhei os trânsitos pelos quais passava, independente de qualquer coisa que ele tenha feito em vida, teria tido pena, se fosse um cliente meu. São trânsitos astrológicos de grande pressão, e cheguei a pensar na questão polêmica da determinação versus livre arbítrio. Onde começa uma e termina o outro.
Quando Getúlio deu fim a sua vida, Saturno tinha ingressado em Escorpião, já tendo passado pela oposição ao seu Sol quando estivera em Libra – um aspecto desvitalizante e que pode colocar em cheque a autoridade –, e estava prestes a se opor a todo o seu stellium taurino. Não é surpresa alguma, portanto, que, ao estar vivendo uma oposição de Saturno, estivesse lidando com confrontações ferozes e acirradas (Escorpião). Isto já nos faz pensar na questão do stellium, que é como um bloco astrológico. Quando este bloco está favorecido, o dono do mapa teria um enorme impulso para realizar e concretizar coisas. Mas na época das “vacas magras”, uma também se segue a outra sem piedade. Se Getúlio fosse um sujeito comum, provavelmente estaria tendo aborrecimento com pessoas: sócios, cônjuge, colegas, chefes, etc. Ou, ainda, devido a outros trânsitos ocorrendo naquela época, com algum inimigo que pudesse vir na forma de uma doença ou infortúnio. Mas, sendo presidente, estava lidando com um opositor que batia forte e tinha uma língua viperina, na expressão mais fiel do arquétipo de Saturno em Escorpião. E que não só não foi morto (Escorpião, afinal, rege a morte), mas sobreviveu para contar e atacar. Para Getúlio, foi um dos momentos mais intensos da sua vida para lidar com a polaridade lealdade (Touro) versus deslealdade (Escorpião), e desta vez na posição de quem detinha o poder e estava sendo atacado, o que é diferente de atacar.
O filme “Getúlio” retrata a intimidade do final do poder: as tramas, traições, intrigas e angústias. A dificuldade em tomar decisões. E foca em como teria sido isto supostamente para Getúlio, cujo suicídio provocou comoção nacional e que, tal como ele tinha previsto, fez com que ele saísse da vida para a história. Na última já estava, mas, com seu Marte em Câncer, signo da história, fez nela um risco, um rasgo, o desenho de um evento violento. Como um presidente se mata? É o que o povo devia se perguntar na época. Júpiter/Urano em quadratura com Netuno foi uma quadratura de desfechos erráticos e inesperados, como o tiro que não pegou Lacerda e a pressão de renúncia que acabou no suicídio de um presidente, que fez o povo brasileiro chorar pela morte de um ditador. O pai brabo, o pai bom, o pai morto. Saturno, o pai, abrindo o stellium taurino, fechado com chave de ouro por Júpiter, o triunfo e a consagração.
A quadratura Júpiter/Urano/Netuno na época também gerou comportamentos estranhos e contraditórios. Depois de ter rasgado duas constituições, o ditador atuou de forma passiva no evento que engendrou o clamor pela sua renúncia. Recusou-se a agir com força, como se nunca tivesse feito isto antes em sua vida. É difícil entender o Getúlio do filme, e creio, o da vida real. No mapa do presidente, Netuno faz parte do stellium taurino. Na carta que deixa após a sua morte, Vargas se coloca como vítima de intrigas, algo profundamente netuniano. Suas declarações sempre foram no sentido de estar a serviço do povo.
No entanto, nasceu com Sol em Áries em quadratura com Marte em Câncer. Seu pai tinha sido militar e é evidente que era capaz de atos agressivos em nome da proteção. E era justamente este Marte que recebia pressão da quadratura Urano/Júpiter/Netuno de 1954. Netuno em quadratura com Marte foi a enorme infiltração que lhe foi roubando o poder e, que, quando se viu, foi como uma espécie de água batendo a mais de metro de altura do Palácio do Catete. Vemos aqui claramente os significados de inércia, impotência, ações atrapalhadas e equivocadas por parte do seu chefe da guarda e também a autorização do próprio Getúlio de busca no Palácio do Catete, que acabou por ser um tiro na culatra e fez emergirem provas de corrupção contra seu governo. Mais bala na agulha para os oponentes, impossível. E mais Netuno, também.
Mas como levar alguém com um Touro tão destacado no mapa, e já tão habituado às glórias, às responsabilidades e ao poder, a sair antes do tempo? Júpiter e Urano sobre o Marte do presidente fizeram com que, diante das pressões para renunciar, ele tivesse um gesto, em sua concepção, grandioso (Júpiter), inesperado (Urano) e de sacrifício (Netuno) para se safar desta situação. Um tiro (Marte) no coração: Sol, regente do coração, em quadratura com Marte, que ocupa a casa simbólica do final da vida, a quarta. A ação foi rápida, inesperada e “desmanchou” (Netuno) toda uma tensão que iria levar ao triunfo o seu opositor. À moda de Netuno, o inimigo também não levou o prêmio, mas tão somente o vice, que teve a oportunidade de assumir. Toda a confusão dissolveu-se (Netuno) na morte de Getúlio, como um iceberg que vai a pique no mar.
Além de a quadratura Urano/Júpiter/Netuno estar tensionando Marte, fazia o mesmo com o Sol. Netuno/Sol pode ter o potencial de descaracterizar a pessoa, além de ser um trânsito de potencial de intrigas. Netuno é o regente dos inimigos ocultos e estava se opondo ao Sol, tradicionalmente o governante.
Estes trânsitos, por si só, seriam suficientes para causar boas doses de depressão (Saturno), nervosismo (Urano) e apatia (Netuno). Um cliente sob o impacto destes trânsitos provavelmente estaria em um momento difícil de vida e precisando urgentemente se organizar. No caso do presidente, a eles também se acrescentou Plutão em quadratura com Plutão natal, um trânsito que tanto pode levar ao poder quanto destituir. Em geral, simboliza o duro confronto com questões que testam bastante o poder pessoal. As pressões de Plutão também não são fáceis. Plutão com muita facilidade também humilha.
Sendo uma figura pública, teria sido um mero acaso o atrapalhado atentado contra seu pior inimigo político resultar em uma crise de tais proporções? Ou o mapa de Getúlio já era uma espécie de “bomba relógio” prestes a disparar qualquer evento que com certeza não teria sido tranquilo?
Para os amantes da astrologia, fica também a pergunta: quanto Vargas teve de livre arbítrio e o quanto ele exerceu? A mim, não surpreende de todo que um tipo fortemente Áries/Touro/Câncer tenha optado pelo suicídio ao invés da humilhação da renúncia. Arianos podem ser teimosos (assim como Touro, signo fortíssimo no mapa do presidente), impulsivos e audaciosos, e na época Marte em Sagitário estava em trígono com o Sol do presidente, reforçando o Fogo e os ideais. É o Fogo quem fala de honra, custe o que custar. O Sol no signo de sua exaltação quer preservar a todo custo a sua autoridade, ainda que pague um preço bem caro por ela (a respeito do qual depois é que ele vai pensar).
A orgulhosa teimosia de Áries, insuflada pela oposição de Netuno e pela imprevisibilidade de Urano, fez Getúlio autoimolar-se como um herói e sair da vida em grande, inexplicável e inesperado estilo: Júpiter/Urano sobre Marte na quarta casa simbólica, a dos finais. Afinal, ele morreu com todas as homenagens, ao invés de ter saído vivo e humilhado. Nas progressões secundárias, a Lua progredida estava em trígono com o Sol.