Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer Soares Filho veio ao mundo no dia 15.12.1907, às 16:53hs, no Rio de Janeiro. Nasceu na Rua Passos Manuel, em Laranjeiras, um logradouro que mais tarde receberia o seu nome de família, “Ribeiro de Almeida”, em homenagem ao avô que fora ministro do Supremo Tribunal Federal. O avô ministro sempre foi para ele um exemplo de honestidade e acabou decidindo largar o STF e viver de forma mais modesta. Ao morrer deixou para a família apenas a casa que construiu, não chegando a enriquecer. Contudo, sua casa era frequentada por pessoas ilustres, como o ex-presidente Epitácio Pessoa. Vemos que Oscar Niemeyer nasceu no seio de uma família da elite carioca.
O arquiteto conta que sua consciência social começou aos sete anos (provavelmente com uma conjunção de Saturno a Plutão natal), quando viu sua avó ordenar que a empregada negra tirasse um pano da cabeça porque “preto não usa isso”.
A obra de Niemeyer é considerada uma das principais referências da Arquitetura Modernista. No início de sua formação, sentia-se insatisfeito com o que via nas ruas, desejoso de uma transformação radical que cambiasse estilo e função.
Niemeyer sempre foi um inconformado. Ele possui o Sol em Sagitário em oposição a Plutão e em quadratura com Saturno, fechando uma Quadratura T angular com órbitas muito estreitas. Esta configuração de aspectos denota uma personalidade extremamente crítica e contra o status quo, seja na Arquitetura ou na Política, por exemplo. Uma pessoa de fibra, obstinada e fazendo valer sua visão de mundo.“Não queria, como a maioria dos meus colegas, me adaptar a essa arquitetura comercial que vemos aí. Na época, todos procuravam as grandes construtoras. E apesar das minhas dificuldades financeiras, preferi trabalhar, gratuitamente, no escritório do Lúcio Costa e Carlos Leão”.
O centenário arquiteto era lutador de Jiu-Jitsu e chegou a criar da fama de brigão, integrando aliás o Clube dos Cafajestes. Em seus escritórios sempre ocorreram festas de caráter mais “animado”. Luiz Carlos Prestes criou um comitê metropolitano do PCB num deles.
“Todos nós temos dentro de nós um ser oculto que nos leva de um lado pro outro. Eu digo sempre que o meu é esse: ele gosta das coisas, gosta de mulher, gosta de se divertir, gosta de chorar, se preocupa com a vida. É um sujeito complicado, não é?”
Um desafeto histórico de Niemeyer foi o paisagista Burle Marx. Durante as obras do complexo da Pampulha, em que trabalharam juntos, Marx reclamou de não ter sido pago pelo jardim projetado para a casa de Juscelino Kubitschek e o arquiteto ficou do lado do então prefeito de Belo Horizonte, acusando ainda o paisagista de ter plantado uma árvore em frente à casa, tapando a visão. Depois disto, as críticas mútuas foram ácidas. Em outra ocasião, ele e amigos fizeram um “cerco” à casa de Burle Marx para agredir um colega que lá se encontrava.
Quando já tinha 80 anos, estava saindo de um restaurante depois de jantar e um sujeito gritava ofensas ao socialismo moreno: “Atravessei o salão e o agredi. Separaram. Levara um soco e o sangue me corria pelo rosto”. O homem era mesmo do barulho.
Ao longo de sua carreira, Niemeyer fez “alguns monumentos públicos, todos de protesto”, como o Memorial da América Latina em São Paulo ou o Memorial 9 de Novembro, em Volta Redonda, numa homenagem a três operários grevistas da CSN mortos durante conflito com tropas do Exército. Este último, aliás, foi parcialmente destruído por um atentado a bomba, no dia seguinte à inauguração. Niemeyer reinaugurou depois o monumento, mas fez questão de que as marcas da brutalidade permanecessem. O arquiteto pediu ainda que se colocasse a seguinte frase em uma placa: “Um monumento àqueles que lutam pela Justiça e pela Igualdade”.
Com Lúcio Costa criou Brasília, depois tomada por militares que, naquela época, sabotaram tanto seu trabalho que o obrigaram a exilar-se por conta própria. Foi comunista convicto até seus últimos dias.
“Mas durante a ditadura, tudo foi diferente. Meu escritório foi saqueado e o da revista Módulo, que dirigia, semidestruído. Meus projetos pouco a pouco começaram a ser recusados. ‘Lugar de arquiteto comunista é em Moscou’, desabafou um dia à imprensa o Ministro da Aeronáutica.”
Em suas entrevistas, palavrões eram disparados a todo instante. Para ele, não havia sentido para a vida: “no fim é tudo assim, nasceu, morreu e fudeu-se. Acho o otimismo uma coisa ridícula, uma coisa que não leva a nada. Nós não queremos o niilismo, mas queremos uma vida dentro do que existe, não é? É duro, mas existe realismo.” Quando perguntado sobre o que lhe dava prazer, disse: “o importante é a mulher, o resto é brincadeira”.
Falando em mulher, temos um bom mote para falar de seu Ascendente e de sua Lua, que se acham em Touro.
Oscar Niemeyer buscou, ao longo de sua carreira, inspiração “nas curvas da mulher brasileira” para dar beleza, sinuosidade e leveza às suas obras. A Lua, exaltada, está na casa XII, uma posição que costuma denotar extrema sensibilidade estética. Vênus [regente do mapa] encontra-se em Capricórnio e na casa VIII, caracterizando um indivíduo interessado em aplicar a inspiração artística no mundo concreto (no caso a Arquitetura, com suas leis e fórmulas estruturais), visando romper definitivamente com conceitos anteriores. Lua e Vênus estão em trígono, criando o canal efetivo para viabilizar a materialização de sua inspiração e sensibilidade.
“Os amigos e o próprio Niemeyer não escondem que a paixão do arquiteto pelas mulheres -‘o complemento físico e espiritual do homem’- o levou a casos extraconjugais. ‘Não era fácil se afastar dessa atração irresistível’. Aventuras ‘pelos caminhos do sexo’ começaram na adolescência, nos cabarés. No escritório, ele e os amigos se divertiam, ‘as mulheres compareciam’. Em uma festa em Paris, um amigo disse: ‘No jardim, ninguém pode ir nu’. ‘Mas foi na sala, nos quartos, no interior da casa, que a festa se realizou. Uma festa humana e cordial que só os surrealistas de Paris poderiam ter concebido'” (O Dia, 10.12.2007).
O fato é que seu primeiro escritório se localizava na rua Conde de Lages, entre os bairros da Glória e da Lapa, justamente onde havia as casas de tolerância onde a família o levou para se iniciar no mundo do sexo. A Fundação Niemeyer, agora em Niterói, ficava lá.
“Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, nas nuvens do céu, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o Universo. O Universo curvo de Einstein”.
“O mais importante, em todos os sentidos, é a liberdade”, era o lema do sagitariano Niemeyer. Para ele, o momento em que nasce a Arquitetura “é a forma nova, diferente, que deve criar surpresa… tem que haver fantasia, uma solução diferente”. Urano tem aqui um papel decisivo. Recebe um trígono da Lua e uma conjunção de Vênus, afinal Niemeyer é, sobretudo, modernista. É espantoso como, aos 100 anos de idade, as obras que continuava a fazer fossem tão atuais e arrojadas. Para muitos a sua grande obra de arte, o MAC de Niterói, foi concebido já no final da vida (outros preferem o Palácio da Alvorada). Sua Lua aplica ainda sextilhas para Netuno [mais um aspecto que ressalta os elementos artísticos], para Marte em Peixes [além de autoconfiança e assertividade, este é outro canal de concretização estética] e para o Meio do Céu [reconhecimento público e, mais uma vez, uma via de realização das inspirações].
“De um traço nasce a Arquitetura. E quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte.”
Uma quadratura entre Lua e Júpiter traduz o boêmio de sempre que, se “entrou na linha” após casar, sempre fez questão de se divertir bastante, com seus escritórios nunca primando pela “ordem” e sempre abertos para reuniões com os amigos.
Vênus em oposição com Netuno não desmente suas decepções com Brasília e a Barra da Tijuca, onde políticos e empreiteiros desvirtuaram os projetos originais em favor da especulação imobiliária. Em sua obra, há uma grande dose de utopia.
Próxima etapa: Niemeyer, o boêmio que virou marido
NIEMEYER, A SÉRIE COMPLETA:
1 – Dos cabarés da Lapa à arquitetura moderna (1907-1927)
2 – Niemeyer, o boêmio que virou marido (1928)
3 – Niemeyer e Lúcio Costa: a descoberta do Modernismo (1934-1939)
4 – Pampulha, a revolução da arquitetura brasileira (1940-1943)
5 – Um comunista na terra do Tio Sam (1945-1947)
6 – Niemeyer e Le corbusier: do Copan ao Ibirapuera (1949-1955)
7 – Brasília, a utopia de Juscelino e Oscar Niemeyer (1956-1960)
8 – O regime militar e o exílio (1964-1976)
9 – Oscar Niemeyer, a vida começa aos setenta (1978-1993)
10 – A paixão aos 99 anos (1997-2007)