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PERFIL ASTROLÓGICO

Anotações sobre o mapa de Julio Cortázar

Edil Carvalho

 

MARTE NA CASA DEZ: instinto hierárquico e social (instinto voltado para a estrutura da pólis).

Nada pedem os estudantes que não seja de alguma maneira uma nova definição do Homem e da Sociedade, do homem na sociedade. E pedem da única forma em que é possível pedir neste momento, sem reivindicações parciais, sem novos esquemas que pretendam substituir os vigentes. Eles pedem com a entrega total de suas almas, com a atitude elementar e incontestável de sair as ruas e protestar contra o mecanismo opressor de uma ordem anacrônica e desvitalizada.

Os estudantes estão fazendo amor com o único mundo que amam e que os ama. Sua rebelião é o abraço primordial, o encontro máximo das pulsões vitais.

Na Casa da Argentina, como não iria se manifestar esse salto para uma realidade autêntica, quando se reiteravam, sob seu teto, a injustiça, a discriminação e a omissão moral, que não eram mais do que um reflexo do que se sucedia lá na Argentina e em tantos países da América Latina? Como não compreender então este sentido mais profundo que a evocação do exemplo vivo de Che Guevara tem agora entre nós? Como não compreender que o sintamos tão próximo dos jovens que lutam nas ruas e discutem nos teatros? Para Che, só podia e só pode haver uma homenagem: revoltar-se, como ele fez, contra a alienação do homem, contra sua colonização física e moral. Todos os estudantes do mundo que lutam neste mesmo momento são, de alguma maneira, o Che.

NOSSOS JOVENS SÃO A ALMA DE CHE, depoimento contido no documentário de Tristan Bauer

Montagem de foto e mapa de Cortázar, pelo artista plástico Miguel Paladino.

VÊNUS NA CASA DEZ: imaginação hierárquica e social (imaginação voltada para a estrutura da pólis).

Sempre que passeio no tempo, em Buenos Aires ou em Paris, sozinho, especialmente à noite, sei que não sou a mesma pessoa que, durante o dia, leva uma vida normal. Não quero fazer romantismo barato, não vou falar de estados alterados, mas é evidente que andar numa cidade como Paris ou Buenos Aires, à noite - esse estado de ambulatório em que, em certo momento, deixamos de pertencer ao mundo comum, me situa em relação à cidade e situa a cidade em relação a mim naquilo que os surrealistas chamaram de "relação privilegiada".

Nesse momento, ocorrem então as passagens, as pontes, as osmoses, os sinais, as descobertas: tudo que gerou grande parte do que escrevi. É por isso que qualifico Paris de cidade mística. Andar por Paris significa andar na minha própria direção. É impossível descrever isso com palavras. Quando ando um pouco perdido nesse estado que me faz observar cartazes, placas de bistrôs, pessoas que passam, estabelecendo o tempo todo relações que formam frases, fragmentos de pensamentos, sentimentos - tudo isso cria um sistema de constelações mentais e, sobretudo, sentimentais que determinam uma linguagem que não posso explicar com palavras.

Nesse momento há em Paris, por exemplo, lugares que sempre foram privilegiados para mim. O primeiro que me vem a memória fica em Pont Neuf. Ao lado da estátua de Henrique IV há um poste onde descemos para pegar o Bateau Mouche. A noite, quando não há ninguém, esse lugar me lembra um quadro de Paul Delvaux. Tem o mistério dos quadros de Delvaux. Essa iminência de uma coisa que pode se manifestar cria uma situação que não tem nada a ver com categorias lógicas ou acontecimentos comuns.

Também poderia falar do metrô de Paris. O metrô sempre foi para mim um lugar de passagem. Assim que desço do metrô, entro numa categoria totalmente diferente na qual a percepção do tempo muda. (...) Há também as galerias cobertas, a Gallerie Vivienne, e aqueles lugares em Paris onde as pessoas procuram lojas e que, no entanto, são os lugares assombrados de Lautréamont, perto da Bolsa. Essas galerias cobertas, que criam uma Paris mágica e misteriosa, que eu chamo de "mítica".

PASSEIO PELA PARÍS MÍSTICA, depoimento contido no documentário de Tristan Bauer.

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