Mas isso não faz
sentido
E quem disse que Astrologia é pura lógica?
Ela é, antes de mais nada, uma linguagem simbólica.
Mas...
Imaginemos uma criança de pé, com os
braços abertos. Ela alcançará, com a ponta
dos dedos da mão direita, uma certa distância à
sua direita, a contar de um eixo central, ou de seu coração.
Uma distância análoga será alcançada
em sentido inverso, isto é, à esquerda, por sua mão
esquerda estendida. À medida que esta criança for
crescendo, seus braços vão ficando mais longos, a
distância alcançada à direita torna-se gradualmente
maior - o mesmo ocorrendo, também, inversamente. Se o braço
direito cresce um centímetro, o esquerdo também crescerá,
e seu alcance de ponta a ponta ganhará dois centímetros,
um de cada braço.
Consideremos, então, que o eixo central, ou
o coração da criança, seja a data do seu nascimento,
o momento em que se inicia sua vida no mundo; que o ponto alcançado
pelos dedos de sua mão direita seja o "momento presente".
A distância entre um e outro seria, então, o seu tempo
de vida já transcorrido. Da mesma forma, o ponto alcançado
por sua outra mão seria um "momento no passado"
que ficaria, inversamente, à mesma distância de seu
nascimento que o "momento presente".
Imaginemos que esta criança, ainda com os
braços abertos, toque uma parede com a ponta dos dedos de
uma mão, sempre mantendo a outra estendida. Então
aproxima-se uma criança maior, também com os braços
abertos, e toca a mesma parede. Chega um adulto e faz o mesmo. Ficam
os três ali, um atrás do outro, em fila, todos com
a ponta dos dedos na parede... que se chama HOJE. O coração
de cada um - a data do nascimento - fica a uma distância diferente
da parede/HOJE. O da criança pequena é o mais próximo,
o da segunda criança um pouco mais afastado, o do adulto
já mais longe.
E a ponta da outra mão, o "momento no
passado" de cada um, que corresponde, em distância de
vida, ao "momento presente"/HOJE? Grande diferença,
nos três casos, por ser o dobro do tempo de vida de cada um,
em termos de distância do dia de HOJE - braço direito
mais braço esquerdo. Na criança pequena, fica, digamos,
a 60 cm da parede; para a criança maior, fica a 1 metro e
10; e para o adulto, a 1 metro e 70.
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É fácil visualizar
o princípio dos trânsitos conversos. Aqui, representam-se
três pessoas, nascidas, respectivamente, em 1980 (linha
azul), 1991 (linha verde) e 1975 (linha grená). O momento
presente para as três é o mesmo - 2004 - mas a
projeção deste momento presente para levantamento
de trânsitos conversos vai alcançar, respectivamente,
1956, 1978 e 1946. |
Temos, daí, o que já sabíamos:
o HOJE é o mesmo para todos. Basta olhar o calendário,
abrir a página correspondente das Efemérides e considerar
os astros no lugar em que estão descritos. O que é
realmente pessoal e intransferível é o "espelho"
desse HOJE, o correspondente "momento no passado".
Para uma criança de três anos, seus
trânsitos conversos são a posição dos
planetas em 1997 - seis anos atrás; para uma de dez anos,
situam-se em 1983 - há vinte anos; e para um adulto de 40,
estão em 1923 - oitenta anos atrás.
* * *
Conversava certa vez com um físico que tinha
algum interesse por astrologia, e falávamos da natureza do
fenômeno astrológico, se era simbólica ou causal.
A páginas tantas, perguntei-lhe: "...ou você acredita
que o astro manda raiozinho?" Ele ficou quieto um momento e
depois respondeu: "Mas eu penso assim há quatrocentos
anos." Está bem, considerando-se os trânsitos
diretos, é um ponto de vista respeitável. Agora: introduzam-se
os trânsitos conversos e está instalada a confusão
- ou não?
Seria o tempo algo corpóreo, denso, como um
fluido em movimento? E os seres, nele ingressando, funcionariam
como pedrinhas na água, a formar ondas circulares que vão-se
alargando...? Só que todos esses círculos teriam pelo
menos um ponto em comum, chamado HOJE, que também se moveria
por força da conjugação de todos eles. Já
o resto de cada ondinha estaria referenciado, centrado, no momento
em que a pedrinha tocou o fluido, ou seja, é por conta de
cada um.
E já que nos ensina Hesíodo [3]
que o início do reinado de Cronos coincide com o aparecimento
das criaturas na superfície da terra, será que cada
ser também deforma esse fluido/tempo com sua atuação,
tal como a pedrinha faz com a água?
[3] Hesíodo. Teogonia - a origem dos deuses.
Estudo e tradução Jaa Torrano. 2a ed. Iluminuras,
São Paulo, 1992.
Poderíamos, então, visualizar as existências
como formando uma grande flor de incontáveis pétalas
circulares, sempre a expandirem-se, amarradas por um ponto sempre
cambiante, sempre a deslocar-se no fluido do tempo, a que chamamos
de "agora"?
Conclusões...?
Imagens e imaginações à parte,
formamos, a partir dos trânsitos conversos, duas suposições.
A primeira é que o tempo, para os seres, se
comporta de forma circular, considerando-se como centro o momento
do nascimento. Assim, sob a referência de cada indivíduo/centro,
na mesma medida em que o tempo avança no sentido do que ainda
está para ser percebido por todos os indivíduos ("futuro/trânsito
direto"), avança também sobre o que, para alguns
outros, é o já percebido - o "futuro converso"
de alguns é o passado já experimentado de outros.
Em 2003, o "futuro converso" da criança de 2 anos
é 2000, e depois 1999, 1998, e assim sucessivamente, tempos
sinalizados por céus que todos nós já experimentamos,
um dia, "em primeira mão", como "futuro".
Dito em outras palavras: a partir de um ponto/nascimento, o céu,
seja adiante ou para trás, irá sempre, gradualmente,
espelhar o futuro desse indivíduo, ainda que os enunciados
astrológicos que esta pessoa viverá "de frente
para trás" já tenham sido experimentados, no
sentido direto, por outros indivíduos.
A segunda suposição é
que o presente, embora sinalizado por um céu igual para todos,
para onde todos convergem, aparentemente não pára
de se mover. Os que ingressam no tempo num determinado "momento
presente", perdem logo a condição de "ponto",
passando a abranger uma área circular, cujo contorno, sempre
a alargar-se, manterá, com todas as áreas de tempo
correspondentes aos demais indivíduos, um ponto comum e cambiante
reconhecido como "presente".
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Helena Lyra.
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