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TÉCNICAS ASTROLÓGICAS INOVADORAS

Trânsitos conversos e o tempo

Maria Helena Lyra

 

Mas isso não faz sentido

E quem disse que Astrologia é pura lógica? Ela é, antes de mais nada, uma linguagem simbólica. Mas...

Imaginemos uma criança de pé, com os braços abertos. Ela alcançará, com a ponta dos dedos da mão direita, uma certa distância à sua direita, a contar de um eixo central, ou de seu coração. Uma distância análoga será alcançada em sentido inverso, isto é, à esquerda, por sua mão esquerda estendida. À medida que esta criança for crescendo, seus braços vão ficando mais longos, a distância alcançada à direita torna-se gradualmente maior - o mesmo ocorrendo, também, inversamente. Se o braço direito cresce um centímetro, o esquerdo também crescerá, e seu alcance de ponta a ponta ganhará dois centímetros, um de cada braço.

Consideremos, então, que o eixo central, ou o coração da criança, seja a data do seu nascimento, o momento em que se inicia sua vida no mundo; que o ponto alcançado pelos dedos de sua mão direita seja o "momento presente". A distância entre um e outro seria, então, o seu tempo de vida já transcorrido. Da mesma forma, o ponto alcançado por sua outra mão seria um "momento no passado" que ficaria, inversamente, à mesma distância de seu nascimento que o "momento presente".

Imaginemos que esta criança, ainda com os braços abertos, toque uma parede com a ponta dos dedos de uma mão, sempre mantendo a outra estendida. Então aproxima-se uma criança maior, também com os braços abertos, e toca a mesma parede. Chega um adulto e faz o mesmo. Ficam os três ali, um atrás do outro, em fila, todos com a ponta dos dedos na parede... que se chama HOJE. O coração de cada um - a data do nascimento - fica a uma distância diferente da parede/HOJE. O da criança pequena é o mais próximo, o da segunda criança um pouco mais afastado, o do adulto já mais longe.

E a ponta da outra mão, o "momento no passado" de cada um, que corresponde, em distância de vida, ao "momento presente"/HOJE? Grande diferença, nos três casos, por ser o dobro do tempo de vida de cada um, em termos de distância do dia de HOJE - braço direito mais braço esquerdo. Na criança pequena, fica, digamos, a 60 cm da parede; para a criança maior, fica a 1 metro e 10; e para o adulto, a 1 metro e 70.

É fácil visualizar o princípio dos trânsitos conversos. Aqui, representam-se três pessoas, nascidas, respectivamente, em 1980 (linha azul), 1991 (linha verde) e 1975 (linha grená). O momento presente para as três é o mesmo - 2004 - mas a projeção deste momento presente para levantamento de trânsitos conversos vai alcançar, respectivamente, 1956, 1978 e 1946.

Temos, daí, o que já sabíamos: o HOJE é o mesmo para todos. Basta olhar o calendário, abrir a página correspondente das Efemérides e considerar os astros no lugar em que estão descritos. O que é realmente pessoal e intransferível é o "espelho" desse HOJE, o correspondente "momento no passado".

Para uma criança de três anos, seus trânsitos conversos são a posição dos planetas em 1997 - seis anos atrás; para uma de dez anos, situam-se em 1983 - há vinte anos; e para um adulto de 40, estão em 1923 - oitenta anos atrás.

* * *

Conversava certa vez com um físico que tinha algum interesse por astrologia, e falávamos da natureza do fenômeno astrológico, se era simbólica ou causal. A páginas tantas, perguntei-lhe: "...ou você acredita que o astro manda raiozinho?" Ele ficou quieto um momento e depois respondeu: "Mas eu penso assim há quatrocentos anos." Está bem, considerando-se os trânsitos diretos, é um ponto de vista respeitável. Agora: introduzam-se os trânsitos conversos e está instalada a confusão - ou não?

Seria o tempo algo corpóreo, denso, como um fluido em movimento? E os seres, nele ingressando, funcionariam como pedrinhas na água, a formar ondas circulares que vão-se alargando...? Só que todos esses círculos teriam pelo menos um ponto em comum, chamado HOJE, que também se moveria por força da conjugação de todos eles. Já o resto de cada ondinha estaria referenciado, centrado, no momento em que a pedrinha tocou o fluido, ou seja, é por conta de cada um.

E já que nos ensina Hesíodo [3] que o início do reinado de Cronos coincide com o aparecimento das criaturas na superfície da terra, será que cada ser também deforma esse fluido/tempo com sua atuação, tal como a pedrinha faz com a água?

[3] Hesíodo. Teogonia - a origem dos deuses. Estudo e tradução Jaa Torrano. 2a ed. Iluminuras, São Paulo, 1992.

Poderíamos, então, visualizar as existências como formando uma grande flor de incontáveis pétalas circulares, sempre a expandirem-se, amarradas por um ponto sempre cambiante, sempre a deslocar-se no fluido do tempo, a que chamamos de "agora"?

Conclusões...?

Imagens e imaginações à parte, formamos, a partir dos trânsitos conversos, duas suposições.

A primeira é que o tempo, para os seres, se comporta de forma circular, considerando-se como centro o momento do nascimento. Assim, sob a referência de cada indivíduo/centro, na mesma medida em que o tempo avança no sentido do que ainda está para ser percebido por todos os indivíduos ("futuro/trânsito direto"), avança também sobre o que, para alguns outros, é o já percebido - o "futuro converso" de alguns é o passado já experimentado de outros. Em 2003, o "futuro converso" da criança de 2 anos é 2000, e depois 1999, 1998, e assim sucessivamente, tempos sinalizados por céus que todos nós já experimentamos, um dia, "em primeira mão", como "futuro". Dito em outras palavras: a partir de um ponto/nascimento, o céu, seja adiante ou para trás, irá sempre, gradualmente, espelhar o futuro desse indivíduo, ainda que os enunciados astrológicos que esta pessoa viverá "de frente para trás" já tenham sido experimentados, no sentido direto, por outros indivíduos.

A segunda suposição é que o presente, embora sinalizado por um céu igual para todos, para onde todos convergem, aparentemente não pára de se mover. Os que ingressam no tempo num determinado "momento presente", perdem logo a condição de "ponto", passando a abranger uma área circular, cujo contorno, sempre a alargar-se, manterá, com todas as áreas de tempo correspondentes aos demais indivíduos, um ponto comum e cambiante reconhecido como "presente".

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