"Ê denadô! Tequié? Xenamm".
Não se espante, esse foi o modo mais exoticamente pisciano
que pude encontrar para resumir a impressão deixada pelo
5º Simpósio Nacional do SINARJ. É o início
de uma música indígena que não sei de que tribo
é, nem em que língua está, mas "por milagre"
sei o que significa: "Ei, pescador! Quer peixe? Comece a remar".
Pois foi esse o espírito transmitido aos presentes pelos
mais diferentes palestrantes do Simpósio, sob os mais diversos
enfoques. Foram convites para que colocássemos mãos
à obra, com a Astrologia e pela Astrologia, em nós
e no mundo.
· Edil Carvalho (Em nome de uma
teoria Simbólica) contrapôs o conhecimento refletido
ao conhecimento revelado. Lembrou que a intuição não
"se pergunta", ela "se dá" para o indivíduo,
enquanto o conhecimento racional pode se tornar compartilhável
e modificável coletivamente. Conclamou então os astrólogos
a usarem os métodos da razão para trazer de volta
para a astrologia saberes que tradicionalmente seriam seu objeto
de estudo mas só estão sendo explorados por outras
ciências. Segundo ele, a linguagem metafórica, privilegiada
pelos astrólogos, dificulta o contato com o saber acadêmico
existente e cabe ao astrólogo refazer esse laço.
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· Carlos Fini (foto), privado da parceria
com Ronaldo Rogério Mourão por um impedimento deste,
tirou da manga um "Plano B" muito legal: um simulador
do sistema solar onde pudemos observar - do ponto de vista dos deuses
e contando com um guia inspirado - fatos como os movimentos retrógrados,
as declinações, a razão da diferença
entre as constelações e o zodíaco etc.
· Carlos Hollanda (Da Utopia ao
Super-Homem: Do Super-Homem à Utopia) começou
sua palestra analisando manifestações socioculturais
presentes em trânsitos anteriores de Urano em Peixes e Netuno
em Aquário, destacando o nascimento do Humanismo e a influência
de homens como Copérnico, Thomas Morus e Erasmo de Roterdam,
que trouxeram para o mundo uma inversão de valores e da ordem
estabelecida. Essa inversão se faz presente nos trânsitos
posteriores. Buscando esse espírito, Hollanda apontou o caminho
do crescimento interior como a verdadeira possibilidade de o homem
moderno aproveitar a "impregnação" de Urano
em Peixes e Netuno em Aquário para "colocar-se em estado
de bem-aventurança" e, em contato consigo mesmo, poder
realizar à sua volta um mínimo do "ideal aquariano
de igualdade".
· Eduardo Maia (foto), com Navegar
é Preciso, Viver não é Preciso, lembrou
que Urano, estando em Peixes, recebe as características desse
signo e passa a falar sua lingua: a lingua da "irretocabilidade
da vida" e do laço de amor que liga a unidade à
adversidade. Netuno também não "acalmaria"
Aquário, mas receberia sua linguagem tecnica para "afinar
seu discurso fantasioso". Eduardo arrancou risos platéia
com sua inesperada distinção entre o peixe "certinho"
e o peixe "troncho" unidos pelo laço do amor universal.
O momento ressalta "o que eu acredito" e "o que eu
posso criar", e a Astrologia é o meio. Deixou no ar
a questão: "você está enlaçado a
quê?"
· Substituindo o Prof. Assuramaya, infelizmente
adoentado, Eduardo Maia nos falou também da Cosmogênese.
Partindo do Kaos: o centro, a origem; ao Kosmos: a dualidade, origem
dos deuses. Definiu a Astrologia, que une dados astronômicos
à mitologia, como uma "forma de notação
do silêncio", ferramenta capaz de nos trazer domínio
sobre a dualidade (Kosmos, representado graficamente por um círculo)
para chegarmos ao nosso centro (Kaos, representado graficamente
por um ponto).
· Lydia Vainer homenageou a música
popular brasileira analisando vários mapas de compositores
contemporâneos que, para a nossa sorte, são particularmente
inspirados por Netuno.
· Clóvis Peres (foto), em A
Latitude Eclíptica de Netuno, nos mostra que, quando
não consideramos as declinações, deixamos de
perceber as diferentes intensidades nos trânsitos planetários.
Netuno acaba de transpor a eclíptica (em 11/08/2003) no sentido
Norte-Sul, ficando com sua potência maximizada.
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Essas passagens têm
ocorrido, com mútua recepção de Urano e
Netuno, desde 1674. Clóvis considera que, se Saturno
nos impinge "uma realidade que vem de cima", Urano,
Netuno e Plutão nos oferecem um "mundo a ser inventado",
sendo que Urano nos propõe uma lógica progressista,
mas Netuno quer que as coisas aconteçam agora e dissolve
regras e limites, construindo uma utopia ou um pesadelo. Fica
a questão: "Que sonhos nos norteiam agora?" |
· Seguindo a trilha das revoluções
solares, Paula Salotti amorosamente presenteou o público
com um fio de Ariadne disfarçado em tabela. Extremamente
útil na prática profissional do astrólogo,
o "fio" nos permite também remontar nossa história
e vislumbrar a totalidade que há em nós, dificilmente
percebida nos labirintos do dia-a-dia.
· Em "O Tempo das Águas"
Aline Alvarenga, num contraponto aos últimos tempos
de ênfase na energia masculina (Urano em Aquário, Plutão
em Sagitário e Júpiter em Leão) nos falou da
necessidade de vivermos da melhor maneira o encontro com o feminino
que Urano em Peixes, Saturno em Câncer e Júpiter em
Virgem nos oferecem agora. Usando o que ela chamou de técnica
espiritual desses três signos, nós podemos permitir
que a qualidade pisciana da inclusividade se manifeste em nós.
A tecnologia espiritual de Câncer seria a capacidade de conhecer
seu lugar no mundo e estar bem nele; a tecnologia espiritual do
signo de Virgem seria agir com simplicidade "num eterno hoje";
e a tecnologia espiritual do signo de Peixes seria a capacidade
de aceitar receber a graça.
· Fernando Fernandes (Indiana Jones
pra Lá de Bagdá) analisou o ciclo de Netuno e
Plutão sobre o mapa dos Estados Unidos e seus efeitos a cada
signo. Ressaltou que a posição de Netuno no Meio do
Céu dos Estados Unidos funciona como emissor e receptor do
imaginário coletivo, sempre a serviço do Estado (casa
X). Associou personagens-ícone a cada signo por onde Netuno
passou desde 1899 e a função social desse personagem
na política interna e externa daquele país.
· O título da palestra se deve ao estranho
fato de que o trajeto do herói do filme Indiana Jones,
do início da década de 80, coincidiu com o trajeto
do eclipse de 1999, que por sua vez coincidiu com pontos de tensão
no Oriente Médio e no subcontinente indiano.
· Martha Pires analisou o mapa
natal de Paul Cezanne, nascido com Urano em Peixes e Netuno em Aquário,
e a influência que exerceu nas artes por um longo período.
Por romper com a estética da época, foi considerado
mau desenhista e sua primeira exposição foi um fracasso.
Quis pintar a vida e a morte, a natureza morta, o erotismo. Embora
tenha influenciado grandes nomes e movimentos, o sucesso só
lhe chegou no fim da vida. No fim da palestra, Martha, em velocidade
aquariana, ofereceu à platéia algumas maçãs,
modelos favoritos de Cézanne.
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· Luiz Cláudio Moniz (foto),
com (Trânsitos de Netuno sobre Mercúrio Natal, uma
Autêntica Odisséia, nos trouxe as aventuras de
Ulysses, bisneto de Mercúrio que, por falar o que não
deveria, sofre a vingança de Netuno, perde-se no mar e transforma
a volta à sua terra de origem numa jornada longa e atribulada.
O expositor comparou essas atribulações com trânsitos
de Netuno sobre o Mercúrio natal, ocasiões em que
nossas palavras, nossa curiosidade, nossos contratos e assinaturas
podem se voltar contra nós.
Leia outros textos de Valeria
Bustamante.
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