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GILBERTO GIL

Se eu quiser falar com Deus

Tereza Kawall

 

Configurações envolvendo Júpiter e as casas 9 e 12 contribuem para explicar a atmosfera especial de Se seu quiser falar com Deus, de Gilberto Gil.

Gil em capa de disco de 1971, no final da fase tropicalista.

Se eu quiser falar com Deus, a maravilhosa canção de Gil, foi composta em 1980 e gravada no disco A gente precisa ver o Luar em 1981.

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que ficar a sós
Tenho que apagar a luz
Tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz
Tenho que folgar os nós
dos sapatos, da gravata
dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data
Tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias
Ter a alma e o corpo nus.

Em 1980 Saturno e Júpiter marcam "encontro" em Libra (setembro e outubro respectivamente) na casa doze do mapa de Gil, fazendo quadrado com a conjunção que se encontra em sua casa nove, que é Sol a 4º e Júpiter a 3º de Câncer.

Gilberto Gil - 26.6.1942, 11h50 - Salvador, BA - 12s56, 38w31. Este é um mapa provável, já que a origem dos dados não pôde ser confirmada. (Nota de Constelar)

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão
Que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos
Suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho
Tenho que me achar medonho
E apesar do mal tamanho
alegrar meu coração

É interessante notar que a primeira quadratura se dá em novembro (lançamento do compacto simples) e, quando Saturno e Júpiter ficam retrógrados no grau 7 de Libra, acontece o lançamento do LP. A música e a letra falam por si.

O mapa natal de Gilberto Gil (círculo interno) ativado pelos trânsitos de novembro de 1980 (círculo externo). Foi sob tais trânsitos, envolvendo Júpiter e as casas 9 e 12, que ele compôs Se eu quiser falar com Deus.

Se eu quiser falar com Deus
Tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus
Sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus
Dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada
Que ao findar vai dar em nada
Nada, nada nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada
Do que eu pensava encontrar.

Copio as palavras de Gil no livro Todas as Letras (p. 240) a respeito desta composição:

A criação do efeito veio por impulso, instintivamente: a seqüência de "nadas" (13 no total) insinuando sucessivas camadas de buraco, criando a expectativa de algo e culminando com uma luz no fim (do túnel, da estrada, da vida), quer dizer, deixando entrever, embutida na morte, a possibilidade de realização de uma existência num plano diferente de tudo que se possa imaginar, mas que de qualquer maneira se imagina existir; a possibilidade de transmutação com o desaparecimento do corpo físico, da entidade psíquica, que chamamos de alma, inconsciente, eu - para outra coisa, outra forma de consciência de todo modo imprevisível, se não for mesmo nada.

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