A ocorrência quase simultânea da
mudança de signo de três planetas lentos permite, por
comparação com eventos de ciclos anteriores, antever
algumas tendências para o segundo semestre de 2003 e o primeiro
de 2004. E tudo isso acontece pontuado por uma inédita aproximação
de Marte, de significado astrológico quase desconhecido.
Em março de 2003 Urano entrou em Peixes, onde
esteve pela última vez na década de 20 e onde permanecerá
durante os próximos sete anos. Júpiter, que passa
aproximadamente um ano em cada signo, entra em Virgem em agosto
de 2003, reproduzindo um posicionamento já verificado em
1944-45, 1956-57, 1968, 1979-80 e 1991-92. Saturno, por sua vez,
está em Câncer desde junho, e aí ficará
durante os próximos dois anos. As passagens anteriores pelo
mesmo signo aconteceram em meados dos anos 40 e 70.
Júpiter
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Sob um trânsito de Júpiter pela
casa 7 do Brasil Collor foi obrigado a deixar o poder. |
Júpiter em Virgem, em 1992, correspondeu ao
movimento dos "cara-pintadas" que contribuíram
para levar Collor à renúncia. Já o trânsito
anterior, de 1980, coincide com as grandes greves no ABC e o surgimento
do PT, ao mesmo tempo em que grupos "linha-dura" ameaçavam
um retorno ao poder em episódios como o do atentado a bomba
na OAB. Se recuarmos um pouco mais, encontramos o trânsito
de 1968, sob o qual ocorrem grandes enfrentamentos entre estudantes
e regime militar, o que levou o governo Costa e Silva ao desgaste
político e à conseqüente edição
do AI-5.
Júpiter em Virgem é, em resumo, um
indicador astrológico de governos fragilizados, impopulares
e sob forte contestação. Cabe lembrar que, ao transitar
por Virgem, Júpiter atravessa a casa 7 do mapa da Independência
do Brasil. Em mapas de países, a casa 7 tem o sentido de
adversários ou inimigos abertos. Sendo Júpiter um
significador de expansão, o sentido é claro: crescimento
das forças que se opõem aos rumos definidos para o
país pelo governo constituído.
Economicamente, Júpiter em Virgem pode valorizar
o preço dos produtos da terra, especialmente grãos.
Commodities como soja ou milho podem ser boas opções
de investimento. Por outro lado, a tônica de "governo
sob ataque" deste trânsito não é de molde
a indicar que sejam obtidas rápida e facilmente as reformas
estruturais de que dependem a queda permanente da taxa de juros
e a redução do deficit da Previdência.
Saturno
Por outro lado, a análise dos trânsitos
passados de Saturno por Câncer agrega uma perspectiva mais
amena. No período 1974-75, após os anos de chumbo
do governo Médici, Geisel inicia sua abertura "lenta,
gradual e segura". É uma das fases de maior independência
da política externa brasileira em relação aos
EUA, com a assinatura do acordo nuclear Brasil-Alemanha e o reconhecimento
da independência de Angola. No período 1945-46, o país
viu o fim da ditadura de Vargas e a redemocratização.
Com a Constituinte, surge a República Nova. Mais recuadamente,
o período 1915-17 corresponde ao início do governo
de Venceslau Brás, quando o país vive a Guerra do
Contestado entre Paraná e Santa Catarina.
Mesmo considerando a ocorrência de golpes de
estado, como o que depôs Getúlio Vargas, e de conflitos
localizados, como a Guerra do Contestado no governo Venceslau Brás
ou a Guerrilha do Caparaó no governo Geisel, o saldo desses
trânsitos costuma ser positivo para o país. O movimento
geral é no sentido da distensão e da solução
de crises no marco da legalidade institucional. Sob Saturno em Câncer,
o Brasil tende a "esfriar" suas relações
com os Estados Unidos (o Sol da carta da independência americana
está neste signo) e a buscar mais auto-suficiência
na produção de insumos básicos. Assim, é
cabível apostar num maior grau de protecionismo econômico
e na reversão da tendência à integração
na economia globalizada. Pelo menos enquanto Saturno estiver em
Câncer estaremos livres da ALCA.
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O mapa da Independência do Brasil sofre
fortes ativações no período agosto-setembro
de 2003, com seis planetas transitando nas casas 1 e 7 (o eixo
da afirmação da identidade e dos inimigos ou adversários
abertos). Saturno, em contrapartida, aplica sextil ao Sol do
Grito do Ipiranga. |
Urano
Finalmente, os trânsitos de Urano em Peixes
são os que delimitam as fases de maior radicalização
de conflitos na história do país, desde o período
colonial. Basta lembrar que as duas últimas passagens de
Urano em Peixes coincidem com a Guerra dos Farrapos e todas as demais
rebeliões da Regência, como a Balaiada e a Sabinada.
Foi o momento de maior risco de fragmentação política
em toda a história do Brasil. O outro trânsito, nos
anos 20, é o cenário para os conturbados governos
de Epitácio Pessoa e Artur Bernardes, este último
mantendo o país num quase permanente estado de sítio.
São os anos da Revolta do Forte de Copacabana, da Coluna
Prestes, de bombardeios a São Paulo, de fundação
do Partido Comunista e de grande agitação cultural
de cunho nacionalista.
O desafio, nesses trânsitos de Urano, é
integrar de alguma forma as necessidades e expectativas de segmentos
social e economicamente excluídos. No passado foram os balaios,
os farrapos, os quilombolas do século XVII, os militares
de classe média dos anos 20. Hoje são os sem-terra,
os grupos que vivem em função do narcotráfico,
as massas de desempregados urbanos.
O "caldeirão social" tende a ocupar
a atenção do governo Lula cada vez com maior intensidade
nos próximos meses. Medidas com vistas à rápida
geração de empregos ou à ampliação
de benefícios sociais podem comprometer em parte o esforço
de redução do deficit público e bloquear ou
anular os efeitos de reformas estruturais - previdenciária,
tributária etc.
Como o mapa da posse de Lula encontra muito mais
ressonância no mapa do Descobrimento do Brasil do que no da
Independência, é natural que Lula enfrente com mais
vigor questões que se arrastam há séculos -
problemas praticamente com a mesma idade do Brasil. O mais grave
de todos é, sem dúvida, a questão fundiária,
que remonta à época da concessão das primeiras
sesmarias.
Sendo 2004 um ano de fortes ativações
bélicas no mapa dos Estados Unidos, é possível
esperar que Bush esteja envolvido em mais uma guerra. O quadro mundial
poderá trazer restrições que, paradoxalmente,
ajudarão o país a gerar empregos e divisas, com vistas
à substituição de importações.
A prioridade não serão os bens de consumo, mas os
investimentos em infra-estrutura: bens de capital, alimentos, energia.
A tendência nacionalista e regionalista permanecerá
em alta nos próximos anos.
Leia também:
Marte cresce, a paz desaparece
- uma análise das raras configurações de agosto
de 2003: a conjunção Sol-Júpiter-Regulus se
opõe a Marte em seu momento de máxima aproximação
com a Terra desde os primórdios da humanidade.
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