O debate sem fim sobre a
Lua fora de curso
O conceito de Lua fora de curso, de uso corrente
em Astrologia Horária, aplica-se também, se bem que
de forma um tanto discutível, à Astrologia pessoal
e à análise de eventos coletivos. Diz-se que a Lua
está fora de curso (uma expressão não
muito precisa, aliás) quando está prestes a sair de
um signo sem fazer nenhum aspecto maior com outros planetas. Há
divergências quanto aos planetas a considerar: astrólogos
de orientação clássica não levam em
conta os invisíveis (Urano, Netuno e Plutão). Assim,
a Lua da posse de Lula, que antes de deixar Sagitário tem
como único aspecto um sextil com Urano em Aquário,
seria uma Lua fora de curso. Já astrólogos não
tão rigorosamente atrelados à tradição
considerariam que a Lua só teria saído de curso após
o sextil exato com Urano, às 15h24 HV.
Há ainda outros pontos controversos, como
que aspectos considerar (só os ptolomaicos ou também
os menores, como o semi-sextil e o quintil). Mas o ponto que realmente
nos importa aqui é o que diz respeito à questão
da órbita do aspecto: para muitos praticantes de Horária,
mesmo que a Lua já tenha ultrapassado seu último aspecto
exato, este continua operante desde que ainda esteja numa órbita
aceitável. Exemplificando: às 12h10 HV, horas antes
da posse de Lula, a Lua fechara uma oposição a Saturno,
último aspecto com um planeta visível antes de deixar
o signo de Sagitário. Na hora da posse, a Lua se afastara
menos de dois graus do aspecto exato. Assim, a posse ainda aconteceu
sob a oposição Lua-Saturno, situação
que indicaria processos já iniciados mas ainda em curso
e que não poderiam mais ser revertidos.
Um significado que podemos atribuir a Saturno em
Gêmeos na casa 2, como no mapa da posse, é o de um
status quo (Saturno) onde o poder econômico
(casa 2) está estribado no papel, no documento,
na escritura ou no diploma (Gêmeos). A riqueza
no Brasil é, em grande parte, de origem cartorial, ou garantida
por privilégios corporativos. Lula parece significar a ruptura
com este estado de coisas. Estando a Lua na casa 8 (uma casa de
tributos e reciclagens), e em Sagitário (um signo de ética),
é bem possível que a posse de Lula apenas seja a continuidade
de um movimento irreversível iniciado já com a eleição
do novo presidente: o de combater ou extinguir privilégios
sempre que funcionem como obstáculo ao projeto da justiça
social. Isso não afetaria tanto as lideranças do setor
industrial e do agronegócio competitivo, mas sim os setores
oligárquicos cuja riqueza está baseada em concessões
(caso das redes de TV), cartas-patente (caso dos bancos),
hereditariedade (grandes fortunas) ou escrituras (latifúndios
improdutivos). Da mesma forma, seriam afetadas as corporações
profissionais que monopolizam o exercício de determinadas
atividades (advogados, contadores etc.). É apenas uma hipótese
de interpretação, mas parece-nos plausível.
Mas voltemos à Lua fora de curso: muitos astrólogos
de linha tradicionalista atribuem a este fenômeno um sentido
altamente negativo. Resumidamente, a Lua fora de curso poderia significar
uma das seguintes possibilidades:
· nada pode ser feito para mudar uma situação;
· o assunto indicado pelo mapa não irá evoluir
e nada irá acontecer;
· não há motivo para preocupação,
apesar das aparências.
Em outras palavras, associa-se Lua fora de curso
à idéia de não-ação (o
que concorda com o sentido de paralisia, de travamento, da oposição
Lua-Saturno). Assim, a pior possibilidade indicada pelo mapa da
posse seria a de um governo que na prática não chega
a parte alguma, não realizando as mudanças pretendidas.
Há, porém, outra interpretação
possível, caso trabalhemos com uma versão ampliada
do conceito: a Lua é um fator de ação em mapas
mundanos. É ela que indica movimento, mudança. Cada
signo representa um determinado pano-de-fundo para os movimentos
simbolizados pela Lua. Assim, Sagitário, signo lunar no mapa
da posse, seria o quadro de referências corrente, caracterizado
pela prevalência de uma ordem jurídico-institucional
pré-existente e de um certo contexto internacional que o
novo presidente já encontra definido. A entrada da Lua em
Capricórnio simbolizaria um momento relativamente próximo
(pode-se pensar em quatro graus = quatro meses) em que o quadro
de referências se alteraria bruscamente, criando novas condições
e necessidades de caráter mais prático e objetivo.
O primeiro aspecto maior a ser formado seria a conjunção
Lua-Sol em 12 graus de Capricórnio - a Lua Nova, indicadora
de recomeços, de novo ciclo.
É como se Lula tomasse posse num certo mundo
e começasse efetivamente a governar em outro. Este "início
de governo" não seria agora, nos primeiros meses: teria
de aguardar uma virada no quadro internacional e a emergência
de uma situação de escassez, provavelmente trazida
por uma nova guerra entre Estados Unidos e seus inimigos reais ou
imaginários. Este momento de tomar plenamente as rédeas
do país aconteceria, mais provavelmente, apenas em 2004.
Até lá teríamos uma administração
preocupada com ética, tentando implementar algumas mudanças,
mas sem chegar às questões efetivamente estruturais.
Estas - é nossa opinião - serão tocadas apenas
quando um quadro internacional bastante adverso obrigar o país
a unir-se em torno do presidente.
O que permite pensar que o contexto internacional
terá papel dominante na administração de Lula,
mais ainda que no governo de Fernando Henrique? Eis alguns fatores:
- Vênus, regente da carta da posse, está
em exílio em Escorpião e em conjunção
com Marte, regente deste signo e da casa 7 (situação
de dependência em relação ao outro - a potências
externas, portanto). Como a conjunção é separativa,
trata-se de situação anterior ao governo Lula, constituída,
portanto, ainda no governo FHC.
- O próximo aspecto de Vênus é
uma quadratura com Urano na casa 10, mostrando que as ações
de mudança desejadas pela administração de
Lula não ocorrerão com tranqüilidade nem de forma
previsível.
- Netuno no Meio do Céu, além de mostrar
o viés social do novo presidente, fala também de um
certo "clima de nevoeiro" durante o início da administração.
A euforia com a ascensão do PT ao poder esconde, no momento,
algumas dificuldades que só se revelarão com o tempo.
- A lunação de 2 de janeiro, que, por
progressão secundária, corresponde a acontecimentos
do segundo ano do governo Lula, ocorre exatamente na casa 9, das
relações internacionais, dos vastos horizontes e das
notícias vindas do exterior.
Trata-se de observações esparsas, mas
que sinalizam um governo que demorará para "engrenar"
e que enfrentará grandes mudanças no quadro internacional,
apenas a partir das quais terá clareza para estabelecer metas
práticas e promover ações estruturais no país.
A vocação de Lula para projetar-se além-fronteiras
e dar ao Brasil um papel definido no contexto internacional está
indicada pela própria presença de Netuno no Meio do
Céu da posse, um símbolo de falta de praticidade inicial
mas também de abertura universalista. Algo que certamente
ocorrerá neste governo, por exemplo, é o aumento da
imigração para o país, incluindo perseguidos
políticos e refugiados de guerra.
Comparando os mapas do governo
Lula com os mapas históricos do Brasil
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