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Foto: bandeira nacional e flores - por Daniela Buono (SP). Variantes da mesma foto também foram utilizadas em outras páginas desta edição.

 
 
 
A POSSE DE LULA E DOS GOVERNADORES

O presidente do povo
e os governadores de sempre

Fernando Fernandes

 

O debate sem fim sobre a Lua fora de curso

O conceito de Lua fora de curso, de uso corrente em Astrologia Horária, aplica-se também, se bem que de forma um tanto discutível, à Astrologia pessoal e à análise de eventos coletivos. Diz-se que a Lua está fora de curso (uma expressão não muito precisa, aliás) quando está prestes a sair de um signo sem fazer nenhum aspecto maior com outros planetas. Há divergências quanto aos planetas a considerar: astrólogos de orientação clássica não levam em conta os invisíveis (Urano, Netuno e Plutão). Assim, a Lua da posse de Lula, que antes de deixar Sagitário tem como único aspecto um sextil com Urano em Aquário, seria uma Lua fora de curso. Já astrólogos não tão rigorosamente atrelados à tradição considerariam que a Lua só teria saído de curso após o sextil exato com Urano, às 15h24 HV.

Há ainda outros pontos controversos, como que aspectos considerar (só os ptolomaicos ou também os menores, como o semi-sextil e o quintil). Mas o ponto que realmente nos importa aqui é o que diz respeito à questão da órbita do aspecto: para muitos praticantes de Horária, mesmo que a Lua já tenha ultrapassado seu último aspecto exato, este continua operante desde que ainda esteja numa órbita aceitável. Exemplificando: às 12h10 HV, horas antes da posse de Lula, a Lua fechara uma oposição a Saturno, último aspecto com um planeta visível antes de deixar o signo de Sagitário. Na hora da posse, a Lua se afastara menos de dois graus do aspecto exato. Assim, a posse ainda aconteceu sob a oposição Lua-Saturno, situação que indicaria processos já iniciados mas ainda em curso e que não poderiam mais ser revertidos.

Um significado que podemos atribuir a Saturno em Gêmeos na casa 2, como no mapa da posse, é o de um status quo (Saturno) onde o poder econômico (casa 2) está estribado no papel, no documento, na escritura ou no diploma (Gêmeos). A riqueza no Brasil é, em grande parte, de origem cartorial, ou garantida por privilégios corporativos. Lula parece significar a ruptura com este estado de coisas. Estando a Lua na casa 8 (uma casa de tributos e reciclagens), e em Sagitário (um signo de ética), é bem possível que a posse de Lula apenas seja a continuidade de um movimento irreversível iniciado já com a eleição do novo presidente: o de combater ou extinguir privilégios sempre que funcionem como obstáculo ao projeto da justiça social. Isso não afetaria tanto as lideranças do setor industrial e do agronegócio competitivo, mas sim os setores oligárquicos cuja riqueza está baseada em concessões (caso das redes de TV), cartas-patente (caso dos bancos), hereditariedade (grandes fortunas) ou escrituras (latifúndios improdutivos). Da mesma forma, seriam afetadas as corporações profissionais que monopolizam o exercício de determinadas atividades (advogados, contadores etc.). É apenas uma hipótese de interpretação, mas parece-nos plausível.

Mas voltemos à Lua fora de curso: muitos astrólogos de linha tradicionalista atribuem a este fenômeno um sentido altamente negativo. Resumidamente, a Lua fora de curso poderia significar uma das seguintes possibilidades:

· nada pode ser feito para mudar uma situação;
· o assunto indicado pelo mapa não irá evoluir e nada irá acontecer;
· não há motivo para preocupação, apesar das aparências.

Em outras palavras, associa-se Lua fora de curso à idéia de não-ação (o que concorda com o sentido de paralisia, de travamento, da oposição Lua-Saturno). Assim, a pior possibilidade indicada pelo mapa da posse seria a de um governo que na prática não chega a parte alguma, não realizando as mudanças pretendidas.

Há, porém, outra interpretação possível, caso trabalhemos com uma versão ampliada do conceito: a Lua é um fator de ação em mapas mundanos. É ela que indica movimento, mudança. Cada signo representa um determinado pano-de-fundo para os movimentos simbolizados pela Lua. Assim, Sagitário, signo lunar no mapa da posse, seria o quadro de referências corrente, caracterizado pela prevalência de uma ordem jurídico-institucional pré-existente e de um certo contexto internacional que o novo presidente já encontra definido. A entrada da Lua em Capricórnio simbolizaria um momento relativamente próximo (pode-se pensar em quatro graus = quatro meses) em que o quadro de referências se alteraria bruscamente, criando novas condições e necessidades de caráter mais prático e objetivo. O primeiro aspecto maior a ser formado seria a conjunção Lua-Sol em 12 graus de Capricórnio - a Lua Nova, indicadora de recomeços, de novo ciclo.

É como se Lula tomasse posse num certo mundo e começasse efetivamente a governar em outro. Este "início de governo" não seria agora, nos primeiros meses: teria de aguardar uma virada no quadro internacional e a emergência de uma situação de escassez, provavelmente trazida por uma nova guerra entre Estados Unidos e seus inimigos reais ou imaginários. Este momento de tomar plenamente as rédeas do país aconteceria, mais provavelmente, apenas em 2004. Até lá teríamos uma administração preocupada com ética, tentando implementar algumas mudanças, mas sem chegar às questões efetivamente estruturais. Estas - é nossa opinião - serão tocadas apenas quando um quadro internacional bastante adverso obrigar o país a unir-se em torno do presidente.

O que permite pensar que o contexto internacional terá papel dominante na administração de Lula, mais ainda que no governo de Fernando Henrique? Eis alguns fatores:

- Vênus, regente da carta da posse, está em exílio em Escorpião e em conjunção com Marte, regente deste signo e da casa 7 (situação de dependência em relação ao outro - a potências externas, portanto). Como a conjunção é separativa, trata-se de situação anterior ao governo Lula, constituída, portanto, ainda no governo FHC.

- O próximo aspecto de Vênus é uma quadratura com Urano na casa 10, mostrando que as ações de mudança desejadas pela administração de Lula não ocorrerão com tranqüilidade nem de forma previsível.

- Netuno no Meio do Céu, além de mostrar o viés social do novo presidente, fala também de um certo "clima de nevoeiro" durante o início da administração. A euforia com a ascensão do PT ao poder esconde, no momento, algumas dificuldades que só se revelarão com o tempo.

- A lunação de 2 de janeiro, que, por progressão secundária, corresponde a acontecimentos do segundo ano do governo Lula, ocorre exatamente na casa 9, das relações internacionais, dos vastos horizontes e das notícias vindas do exterior.

Trata-se de observações esparsas, mas que sinalizam um governo que demorará para "engrenar" e que enfrentará grandes mudanças no quadro internacional, apenas a partir das quais terá clareza para estabelecer metas práticas e promover ações estruturais no país. A vocação de Lula para projetar-se além-fronteiras e dar ao Brasil um papel definido no contexto internacional está indicada pela própria presença de Netuno no Meio do Céu da posse, um símbolo de falta de praticidade inicial mas também de abertura universalista. Algo que certamente ocorrerá neste governo, por exemplo, é o aumento da imigração para o país, incluindo perseguidos políticos e refugiados de guerra.

Comparando os mapas do governo Lula com os mapas históricos do Brasil


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