Defendendo que a casa 8 é a significadora
dos ritos e iniciações, o autor faz um apanhado de
dezenas de situações em que os sentidos de morte e
renascimento, típicos desta casa, estão presentes.
Dentre os significados atribuídos à
Casa 8 exploraremos os ritos e iniciações e suas conotações
com a morte e transformação, enfoques determinantes
desta casa. A Casa 8 é de certa forma uma casa de ligação,
intimidade e principalmente do mais íntimo - o ato sexual.
Veja que o próprio algarismo (8) representa um entrelaçamento,
uma união que denota a vivência íntima dos desejos
e apetites sexuais. Se colocarmos este algarismo na posição
horizontal, teremos o símbolo do infinito, da eternidade.
A Casa 8 aponta para este além, para outra perspectivas e
visões de vida e da própria noção da
existência.
Os ritos de iniciação comportam torturas
físicas e psicológicas; provas de fogo que, em sua
essência, são coroados por um ritual de morte e ressurreição
simbólicas.
Nos povos primitivos a passagem ritualística
era algo terrível, o neófito era suposto ser engolido
por um monstro, enterrado vivo, perdido na floresta noturna que
em essência representava a descida aos Infernos. Essa experiência
aos olhos do neófito era indispensável ao nascimento
de um homem novo, regenerado. Toda iniciação é
uma morte e uma ressurreição ritualística,
um acesso a um novo modo de ser e de ver a própria razão
da existência humana.
As sociedades antigas valorizavam,
e muito, as iniciações, principalmente a passagem
para a idade da adolescência. Algumas tribos indígenas
brasileiras submetem os jovens a rituais de muita coragem, como
colocar o braço em uma formigueiro terrível. O próprio
casamento pode ser considerado um rito de passagem quando os nubentes
deixam seus pais e a vida de solteiro para iniciar a dois uma nova
jornada.
Os rituais de iniciação envolvem mistérios,
como na passagem de graus de certas ordens esotéricas, configurando
atributos inerentes à Casa sobre a qual tecemos considerações.
A colocação dos ritos e rituais, principalmente
de passagem, sob a égide da Casa 8 tem estreita e profunda
ligação com o sentido de morrer e renascer, talvez
purificados, ou para uma nova vida.
Morrer é morrer! Não se tem volta,
assim o neófito, quer queira ou não, morre. Agora,
o que fará com sua nova vida é outra coisa. O sacerdote
investido no seu poder religioso nunca deixa de ser padre - será
padre sempre, porém podendo ser limitado ou impedido de suas
funções normais.
Cristo no seu ritual cosmológico sofre, é
torturado, sob o peso da cruz e ressurreto no terceiro dia. O neófito
torturado, atormentado, sofre as dores dessa morte, mas sabe que
se elevará em nova vida, pronto para deixar o velho estilo
de vida e ingressar noutro mundo, é um verdadeiro nascimento
místico. A várias provas pode ser submetido, como
jejum prolongado, reclusão etc.
Às vezes se atribuem aos neófitos outros
nomes que serão novos nomes, já que é um renascido
e regenerado. A iniciação se reveste de mistérios
tais como a própria morte em si, mas fundamentada no nascimento
espiritual, na regeneração de uma nova forma de vida.
Os sofrimentos, tanto físicos como psicológicos, são
comparados às torturas, que podem ser outro aspecto da própria
iniciação: a doença, como uma grande provação.
A regeneração espiritual, tanto nas
iniciações da puberdade como nas associações
secretas, forma um círculo fechado no interior do clã
ou da associação, como o número 8 representa.
O mistério da regeneração espiritual comporta
um processo arquetípico, que se realiza a níveis diferentes
e em inúmeros contextos. Ocorre sempre que precisamos pôr
de lado um modo de ser para adotar outro, de natureza superior,
ou, em linguagem mais sutil, uma transmutação do espírito.
A morte iniciática vai além da condição
profana e sim rumo aos mistérios, ao místico, à
verdadeira cosmologia universal. Sob o mistério da iniciação
descobrem-se as verdadeiras dimensões da própria existência
física, introduzindo o novo ser a um encontro com o sagrado,
o mistério inefável.
As provas iniciáticas nas sociedades secretas
comportam o mesmo ritual simbólico da morte e renascimento
para uma nova vida em comunhão com os demais irmãos
ou integrantes. Também o cabelo raspado tem referência
com o desprendimento do próprio ser que nao se prende à
vaidade e amor-próprio unicamente.
A tortura, o sofrimento é também uma
expressão da morte iniciática, a tradição
cristã chama às vezes essa tortura de "tentação".
Em vários rituais o aspirante é separado
da familia e colocado em isolamento, na floresta no caso de sociedades
mais primitivas. A floresta é um símbolo de morte,
de trevas. Em certas regiões na selva há uma cabana
iniciática, que representa o ventre materno. A morte iniciática
representa uma regressão ao estado embrionário não
só em termos fisiológicos, mas em termos cosmológicos,
um regresso ao modo virtual, ao passado distante e arquetípico.
Alguns rituais trazem o simbolismo da morte iniciática
- os candidatos, em certos povos, são enterrados ou deitados
em túmulos cavados, ou são cobertos por ramos e ficam
imóveis tal como um verdadeiro morto.
A própria menstruação era considerada
uma iniciação, o início de uma nova vida para
as meninas. Em certa regiões é na iniciação
que se aprende a arte de fiar, as danças, canções
e outras práticas.
Os ritos iniciáticos são uma via para
abolir a duração temporal, a existência histórica
e reintegrar a situaçao primeva que representa uma união
ao estado germinal. Assim, a Casa 8 dos ritos e iniciações
nao corresponde só e unicamente a morte física - e
sim outras dimensões de morrer e renascer redivivo.
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José Paccanaro.
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