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TEORIA ASTROLÓGICA

Casa 8 - Iniciação e Ritos

Benedito José Paccanaro

 

Defendendo que a casa 8 é a significadora dos ritos e iniciações, o autor faz um apanhado de dezenas de situações em que os sentidos de morte e renascimento, típicos desta casa, estão presentes.

Dentre os significados atribuídos à Casa 8 exploraremos os ritos e iniciações e suas conotações com a morte e transformação, enfoques determinantes desta casa. A Casa 8 é de certa forma uma casa de ligação, intimidade e principalmente do mais íntimo - o ato sexual. Veja que o próprio algarismo (8) representa um entrelaçamento, uma união que denota a vivência íntima dos desejos e apetites sexuais. Se colocarmos este algarismo na posição horizontal, teremos o símbolo do infinito, da eternidade. A Casa 8 aponta para este além, para outra perspectivas e visões de vida e da própria noção da existência.

Os ritos de iniciação comportam torturas físicas e psicológicas; provas de fogo que, em sua essência, são coroados por um ritual de morte e ressurreição simbólicas.

Nos povos primitivos a passagem ritualística era algo terrível, o neófito era suposto ser engolido por um monstro, enterrado vivo, perdido na floresta noturna que em essência representava a descida aos Infernos. Essa experiência aos olhos do neófito era indispensável ao nascimento de um homem novo, regenerado. Toda iniciação é uma morte e uma ressurreição ritualística, um acesso a um novo modo de ser e de ver a própria razão da existência humana.

As sociedades antigas valorizavam, e muito, as iniciações, principalmente a passagem para a idade da adolescência. Algumas tribos indígenas brasileiras submetem os jovens a rituais de muita coragem, como colocar o braço em uma formigueiro terrível. O próprio casamento pode ser considerado um rito de passagem quando os nubentes deixam seus pais e a vida de solteiro para iniciar a dois uma nova jornada.

Os rituais de iniciação envolvem mistérios, como na passagem de graus de certas ordens esotéricas, configurando atributos inerentes à Casa sobre a qual tecemos considerações.

A colocação dos ritos e rituais, principalmente de passagem, sob a égide da Casa 8 tem estreita e profunda ligação com o sentido de morrer e renascer, talvez purificados, ou para uma nova vida.

Morrer é morrer! Não se tem volta, assim o neófito, quer queira ou não, morre. Agora, o que fará com sua nova vida é outra coisa. O sacerdote investido no seu poder religioso nunca deixa de ser padre - será padre sempre, porém podendo ser limitado ou impedido de suas funções normais.

Cristo no seu ritual cosmológico sofre, é torturado, sob o peso da cruz e ressurreto no terceiro dia. O neófito torturado, atormentado, sofre as dores dessa morte, mas sabe que se elevará em nova vida, pronto para deixar o velho estilo de vida e ingressar noutro mundo, é um verdadeiro nascimento místico. A várias provas pode ser submetido, como jejum prolongado, reclusão etc.

Às vezes se atribuem aos neófitos outros nomes que serão novos nomes, já que é um renascido e regenerado. A iniciação se reveste de mistérios tais como a própria morte em si, mas fundamentada no nascimento espiritual, na regeneração de uma nova forma de vida. Os sofrimentos, tanto físicos como psicológicos, são comparados às torturas, que podem ser outro aspecto da própria iniciação: a doença, como uma grande provação.

A regeneração espiritual, tanto nas iniciações da puberdade como nas associações secretas, forma um círculo fechado no interior do clã ou da associação, como o número 8 representa. O mistério da regeneração espiritual comporta um processo arquetípico, que se realiza a níveis diferentes e em inúmeros contextos. Ocorre sempre que precisamos pôr de lado um modo de ser para adotar outro, de natureza superior, ou, em linguagem mais sutil, uma transmutação do espírito.

A morte iniciática vai além da condição profana e sim rumo aos mistérios, ao místico, à verdadeira cosmologia universal. Sob o mistério da iniciação descobrem-se as verdadeiras dimensões da própria existência física, introduzindo o novo ser a um encontro com o sagrado, o mistério inefável.

As provas iniciáticas nas sociedades secretas comportam o mesmo ritual simbólico da morte e renascimento para uma nova vida em comunhão com os demais irmãos ou integrantes. Também o cabelo raspado tem referência com o desprendimento do próprio ser que nao se prende à vaidade e amor-próprio unicamente.

A tortura, o sofrimento é também uma expressão da morte iniciática, a tradição cristã chama às vezes essa tortura de "tentação".

Em vários rituais o aspirante é separado da familia e colocado em isolamento, na floresta no caso de sociedades mais primitivas. A floresta é um símbolo de morte, de trevas. Em certas regiões na selva há uma cabana iniciática, que representa o ventre materno. A morte iniciática representa uma regressão ao estado embrionário não só em termos fisiológicos, mas em termos cosmológicos, um regresso ao modo virtual, ao passado distante e arquetípico.

Alguns rituais trazem o simbolismo da morte iniciática - os candidatos, em certos povos, são enterrados ou deitados em túmulos cavados, ou são cobertos por ramos e ficam imóveis tal como um verdadeiro morto.

A própria menstruação era considerada uma iniciação, o início de uma nova vida para as meninas. Em certa regiões é na iniciação que se aprende a arte de fiar, as danças, canções e outras práticas.

Os ritos iniciáticos são uma via para abolir a duração temporal, a existência histórica e reintegrar a situaçao primeva que representa uma união ao estado germinal. Assim, a Casa 8 dos ritos e iniciações nao corresponde só e unicamente a morte física - e sim outras dimensões de morrer e renascer redivivo.

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