Plutão nos signos
demarcando gerações
Mais alguns conceitos chamam-me a atenção:
a posição de Plutão no mapa de nascimento e
a sua indicação dos potenciais de transformação
de uma pessoa, junto aos da sociedade em que foi gerada.
Este planeta simboliza forças instintivas
inconscientes que estão presentes em toda uma geração
e muitas vezes torna-se "instrumento" (consciente ou não)
de algumas pessoas que podem expressá-lo em conjunto com
suas qualidades pessoais. Entretanto, penso que as posições
de Plutão devem ser vistas como uma trajetória em
que as marcas de uma geração levam ao comportamento
plutoniano da próxima.
A "rebeldia" que é atribuída
às pessoas com um Plutão pregnante no mapa pode ser
inconsciente ou, talvez, uma expressão da tentativa de controlar
os impulsos por ele representados (acho mais adequado ver o mapa
como um todo).
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No caso de Plutão em Câncer,
a relação com a proteção emocional
é, em princípio, uma expressão inconsciente.
Toda esta geração vinculou-se a clãs como
medida de proteção. Foi uma geração
empelicada, protegida como fruto imaturo. No caso dos últimos
anos em que Plutão esteve neste signo, a "ordem
protetora", tanto do ponto de vista pessoal, assim como
em seu comportamento social, era "esconder"
os sentimentos, proteger as fantasias e não deixá-las
vir a público. |
Ainda a variedade
de expressões do nascer do sol - o sol da temida casa
12! |
A família (aí sim,
modelo social vigente) passou a ser a forma de proteção,
as pessoas eram consideradas de acordo com seus clãs
e estirpes assim como seu pertencimento a esta ou aquela raça,
religião etc. |
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Disso resultou, em última instância, por exemplo,
o sacrifício de milhares de judeus, não por
suas qualidades pessoais, mas apenas por pertencerem a um
clã específico.
Daí, ter sido a geração seguinte, com
Plutão em Leão, a da busca pela individualidade,
pelo autocomando, pela sexualidade, pela consciência
individual, por movimentos de busca existencial individual
como, por exemplo, o incremento da psicanálise.
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Mas em paralelo esta transformação
significou para esta geração, no plano inconsciente,
um ego enorme, um autoritarismo imenso, enquanto, em seu comportamento
externo, são muitas as pessoas que encontram fortes dificuldades
conscientes de dizer não e de expor e exercer sua autoridade.
Desta maneira, a geração de Plutão
em Câncer encerra, no plano do inconsciente mais profundo,
toda a emocionalidade escondida que ficou imatura e infantil, assim
como a dependência e o apego aos seus padrões protetores,
mesmo que a aparência seja de rebeldia ou de desagrado com
relação aos padrões familiares geradores desta
idéia de clã (o que ocorre se houver potenciais individuais
para tanto, como, por exemplo, expressões em signos de Fogo).
O indivíduo pode rebelar-se contra a religião do clã
e no fundo ser extremamente cristão, judeu ou protestante...
Urano e o ventre materno
Outra questão bastante arraigada nos conceitos
astrológicos é a interpretação dada
ao significado do Planeta Urano.
O conceito de Urano que aprendi, como inovador, como
aquele que indica mudanças e novidades, inquietação
e excentricidade, se debatia com a realidade que eu encontrava nas
pessoas em que a expressão uraniana era a da permanência
e da inconsciência.
Esta expressão parecia mais enfática
naqueles com Urano em aspecto com a Lua ou com uma posição
marcante deste planeta no mapa de nascimento. Na maioria das vezes,
as pessoas estavam presas a um padrão repetitivo de comportamento,
embora pudessem manifestar uma aparência desleixada e rebelde,
adolescente até.
Um dia, lendo um livro com vários artigos
sobre psicologia analítica, encontro um artigo sobre mitologia
e os padrões de "Pai Devorador" que me fez pensar
sobre o conceito pronto que recebi sobre Urano. [Espelhos
do Self - DOWNING, Christine., org. - ed. Cultrix, SP. 1998,
p. 85-87.] Ao contrário do que costumeiramente se
diz em astrologia, só conseguia perceber Urano como o novo,
o criativo, quando em trânsito. Aí sim, ele traz um
despertar para novas formas de ser e ver as experiências,
pois vem, como no mito, copular com a Terra para criar novas vidas
(é tão fértil e semeador como Júpiter,
embora com modelos diferentes).
Entretanto, no mapa de nascimento (principalmente
quando não tem aspectos com Saturno), age como no mito, não
constrói. Como existe antes do tempo (Saturno), fixa-se à
inconsciência, ao útero materno e, como não
evolui, permanece sempre preso aos padrões repetitivos, como
no mito. Na instância relacionada a Urano, o indivíduo
não constrói, não realiza. Sua criatividade
permanece no mundo das idéias e a forma, em embrião,
jaz no "ventre materno".
Já quando encontra os limites saturninos tem a possibilidade
de desenvolver-se, mas o medo da castração deve ser
vencido para que realize.
Entretanto, é necessário que se faça
presente o equilíbrio venusiano para que não haja
a preponderância de um sobre o outro. No caso, a castração
da criatividade (Saturno castra Urano), ou a não realização
desta, faz o indivíduo permanecer no escapismo das utopias
sem realização (Urano sem Saturno).
Para finalizar quero deixar uma última questão
para reflexão.
Toda interpretação sofre o reflexo
da personalidade de quem cria as definições. Torna-se
bastante difícil o distanciamento crítico que permita
uma pureza de pensamento tal que o significado fique isento das
qualidades próprias do intérprete. Isso é raro
e muito difícil de se conseguir. Mas, penso que é
preciso tentarmos, para que a impregnação de nossas
personalidades não polua os conceitos astrológicos,
já tão sujeitos às críticas e à
má vontade de quem desconhece sua sabedoria. E a melhor forma
de chegarmos próximo a esta pureza é conhecermos nossos
potenciais para que possamos "tirar-nos" do texto. Então
a isenção se tornará uma possibilidade mais
concreta.
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Schnoor.
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