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CONHECIMENTO DA ASTROLOGIA

Restaurando a essência
de alguns conceitos astrológicos

Angela Schnoor

 

Plutão nos signos demarcando gerações

Mais alguns conceitos chamam-me a atenção: a posição de Plutão no mapa de nascimento e a sua indicação dos potenciais de transformação de uma pessoa, junto aos da sociedade em que foi gerada.

Este planeta simboliza forças instintivas inconscientes que estão presentes em toda uma geração e muitas vezes torna-se "instrumento" (consciente ou não) de algumas pessoas que podem expressá-lo em conjunto com suas qualidades pessoais. Entretanto, penso que as posições de Plutão devem ser vistas como uma trajetória em que as marcas de uma geração levam ao comportamento plutoniano da próxima.

A "rebeldia" que é atribuída às pessoas com um Plutão pregnante no mapa pode ser inconsciente ou, talvez, uma expressão da tentativa de controlar os impulsos por ele representados (acho mais adequado ver o mapa como um todo).

No caso de Plutão em Câncer, a relação com a proteção emocional é, em princípio, uma expressão inconsciente. Toda esta geração vinculou-se a clãs como medida de proteção. Foi uma geração empelicada, protegida como fruto imaturo. No caso dos últimos anos em que Plutão esteve neste signo, a "ordem protetora", tanto do ponto de vista pessoal, assim como em seu comportamento social, era "esconder" os sentimentos, proteger as fantasias e não deixá-las vir a público.
Ainda a variedade de expressões do nascer do sol - o sol da temida casa 12! A família (aí sim, modelo social vigente) passou a ser a forma de proteção, as pessoas eram consideradas de acordo com seus clãs e estirpes assim como seu pertencimento a esta ou aquela raça, religião etc.

Disso resultou, em última instância, por exemplo, o sacrifício de milhares de judeus, não por suas qualidades pessoais, mas apenas por pertencerem a um clã específico.

Daí, ter sido a geração seguinte, com Plutão em Leão, a da busca pela individualidade, pelo autocomando, pela sexualidade, pela consciência individual, por movimentos de busca existencial individual como, por exemplo, o incremento da psicanálise.

Mas em paralelo esta transformação significou para esta geração, no plano inconsciente, um ego enorme, um autoritarismo imenso, enquanto, em seu comportamento externo, são muitas as pessoas que encontram fortes dificuldades conscientes de dizer não e de expor e exercer sua autoridade.

Desta maneira, a geração de Plutão em Câncer encerra, no plano do inconsciente mais profundo, toda a emocionalidade escondida que ficou imatura e infantil, assim como a dependência e o apego aos seus padrões protetores, mesmo que a aparência seja de rebeldia ou de desagrado com relação aos padrões familiares geradores desta idéia de clã (o que ocorre se houver potenciais individuais para tanto, como, por exemplo, expressões em signos de Fogo). O indivíduo pode rebelar-se contra a religião do clã e no fundo ser extremamente cristão, judeu ou protestante...

Urano e o ventre materno

Outra questão bastante arraigada nos conceitos astrológicos é a interpretação dada ao significado do Planeta Urano.

O conceito de Urano que aprendi, como inovador, como aquele que indica mudanças e novidades, inquietação e excentricidade, se debatia com a realidade que eu encontrava nas pessoas em que a expressão uraniana era a da permanência e da inconsciência.

Esta expressão parecia mais enfática naqueles com Urano em aspecto com a Lua ou com uma posição marcante deste planeta no mapa de nascimento. Na maioria das vezes, as pessoas estavam presas a um padrão repetitivo de comportamento, embora pudessem manifestar uma aparência desleixada e rebelde, adolescente até.

Um dia, lendo um livro com vários artigos sobre psicologia analítica, encontro um artigo sobre mitologia e os padrões de "Pai Devorador" que me fez pensar sobre o conceito pronto que recebi sobre Urano. [Espelhos do Self - DOWNING, Christine., org. - ed. Cultrix, SP. 1998, p. 85-87.] Ao contrário do que costumeiramente se diz em astrologia, só conseguia perceber Urano como o novo, o criativo, quando em trânsito. Aí sim, ele traz um despertar para novas formas de ser e ver as experiências, pois vem, como no mito, copular com a Terra para criar novas vidas (é tão fértil e semeador como Júpiter, embora com modelos diferentes).

Entretanto, no mapa de nascimento (principalmente quando não tem aspectos com Saturno), age como no mito, não constrói. Como existe antes do tempo (Saturno), fixa-se à inconsciência, ao útero materno e, como não evolui, permanece sempre preso aos padrões repetitivos, como no mito. Na instância relacionada a Urano, o indivíduo não constrói, não realiza. Sua criatividade permanece no mundo das idéias e a forma, em embrião, jaz no "ventre materno".

Já quando encontra os limites saturninos tem a possibilidade de desenvolver-se, mas o medo da castração deve ser vencido para que realize.

Entretanto, é necessário que se faça presente o equilíbrio venusiano para que não haja a preponderância de um sobre o outro. No caso, a castração da criatividade (Saturno castra Urano), ou a não realização desta, faz o indivíduo permanecer no escapismo das utopias sem realização (Urano sem Saturno).

Para finalizar quero deixar uma última questão para reflexão.

Toda interpretação sofre o reflexo da personalidade de quem cria as definições. Torna-se bastante difícil o distanciamento crítico que permita uma pureza de pensamento tal que o significado fique isento das qualidades próprias do intérprete. Isso é raro e muito difícil de se conseguir. Mas, penso que é preciso tentarmos, para que a impregnação de nossas personalidades não polua os conceitos astrológicos, já tão sujeitos às críticas e à má vontade de quem desconhece sua sabedoria. E a melhor forma de chegarmos próximo a esta pureza é conhecermos nossos potenciais para que possamos "tirar-nos" do texto. Então a isenção se tornará uma possibilidade mais concreta.

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