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DEBATE
Astrologia
e Imaginação Tribal
A ciência achava que tudo deveria ser separado e apartado; que o homem deveria dominar a natureza e promover a destruição do mistério. A racionalidade e a linearidade na qual aprendemos a estruturar nossos pensamentos nos roubou a preciosa capacidade de ver o encantamento ao nosso redor. Em compensação, ganhamos a ilusão da realidade "fast food". Toda virada de ano nos convida a observar nossos planos de vida. A passagem do tempo sempre foi e continua sendo algo que nos importa, e muito! Em nossas origens ancestrais, o movimento do mundo era sinalizado pelos marcadores temporais, pela trajetória das estrelas, pela sombra do sol projetada nos relógios de pedra do período neolítico, do qual Stonehenge é o mais conhecido. Dos zigurates babilônicos aos observatórios Maias e às pirâmides egípcias sem falar dos observatórios da Índia, China e Japão. Hoje os astrofísicos já sabem que todos esses instrumentos eram indicadores dos períodos de solstício, de fertilidade da terra para o plantio, de eclipses, das marés favoráveis à pesca, da colheita, etc. Nada mal para povos tão "primitivos". O mundo era encantado e se comunicava! A dimensão do sagrado estava presente no cotidiano. Deuses e mortais tinham um acesso mais facilitado. Hoje contamos a passagem de um tempo que corre nos ponteiros do relógio e nos dias da folhinha. Artifícios que nossos ancestrais de 5 mil anos atrás sequer sonhavam, pois os relógios e os calendários, como conhecemos hoje, são sofisticações culturais que levaram alguns milênios para ser desenvolvidas. Com a decadência do Império Romano e a chegada da Idade Média no Ocidente, a Astrologia também entrou em estado de latência, pois sua prática exigia conhecimentos de cálculos matemáticos, astronomia, geografia, filosofia, e dificilmente havia acesso a esses saberes em um momento de desestruturação da antiga ordem. Os árabes, herdeiros do conhecimento que restou de Alexandria, é que a desenvolveram por mais de 10 séculos no Oriente, até sua volta, por intermédio da ocupação da Península Ibérica por mais de 8 séculos e pelas cruzadas que, a partir do século XI, começam a entrar em contato com a exuberante cultura dos muçulmanos no Oriente.
O mundo antigo se permitia encantar, mas desse tempo só temos pálidas notícias. O ciclo solar, lunar e o dos planetas marcavam o cotidiano e as pessoas costumavam considerar o movimento celeste, antes de tomar uma decisão. Comportamento primitivo? Crença ingênua? Raciocínio pré-lógico? Qualquer que seja o julgamento, é preciso, primeiro, contextualizar nossas idéias críticas. Somos herdeiros do Iluminismo europeu da Idade Moderna. No ocidente alguns pensadores achavam que tudo deveria ser separado e apartado; que o homem deveria dominar a natureza; que o destino da ciência seria, em última instância, a destruição do mistério. Diversos estudos no campo da física, filosofia e antropologia indicam que uma das origens dos problemas que enfrentamos hoje está na prioridade dada à razão, em detrimento dos sentimentos. Como se a mente tivesse sido separada do coração. Perdemos a capacidade de sentir e nos encantarmos com o mundo, pois nos ensinaram que a razão e a lógica deve filtrar nossas percepções. Nos fizeram acreditar que só é real o que é palpável, medido, pesado e analisado (dividido em pedaços). Com isso, perdemos nossa capacidade sensível e transcendente e, principalmente, reduzimos nossa capacidade de síntese. Fragmentamos o mundo exterior e, por consequência, nosso interior. Ficamos limitados, perdidos, partidos e com uma visão de mundo restrita e empobrecida, sem cor, cheiro ou sabor. Acontece que em nosso interior estamos repletos, impregnados, transbordantes de imaginação tribal, mito e emoção. Por mais que tenha tentado, parece que o Iluminismo não conseguiu sucesso em seu projeto totalizante de fé absoluta na razão, na luz e no progresso linear, ascendente e contínuo. O Racionalismo bem que tentou exorcizar a alma e o mistério que a envolve, mas, pelo visto, ao menos em nossas entranhas, o mundo não chegou a ser totalmente desencantado. A razão, em sua "cruzada", procurava jogar luz nas sombras, dissecando, analisando, reduzindo tudo a pedaços objetivos e compreensíveis, para que a natureza pudesse ser separada, desmembrada e, finalmente, dominada. Mas as respostas que nos foram dadas nos últimos 500 anos não satisfazem mais as perguntas do momento atual. Padrões de regularidade: objetivo da Ciência e da Astrologia
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