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Um saci virginiano O Signo de Gêmeos também é regido por Mercúrio. Mas é diferente ser um saci virginiano do que um geminiano. Gêmeos expressa mais veemente a mudança de opinião, ou de faces, sem cultivar necessariamente um áspero aspecto crítico. Virgem já tem a precisão da mão do cirurgião. No caso do Leminski, língua só lâmina de um Mercúrio conjunto a Marte - o Deus da Guerra - em Virgem. Essa configuração faz com que a palavra seja a sua guerrilha. Em resumo, Gêmeos é esparramado, o mágico. Virgem é conciso, o mago. Ou alguém dúvida dessa precisão virginiana? Por exemplo, veja o ronin curitibano ferindo as efemérides:
O Saci da Araucárias continuou aprontando das suas. São tantas travessuras, sal sobre lesmas, que os biógrafos, espero, tragam a luz. Mas uma passagem me chama a atenção. A história, que é quase lenda, é sobre a morte dele. Paulo morreu no dia 7 de junho de 1989, e na ocasião, eu tinha uma amiga, Ana de Tostoi, que trabalhava no Canal 12 . E ela me contou que a TV anunciou a morte do Paulo antes do ocorrido. Tiveram que desmentir. E logo em seguida voltar a confirmar. Será que isso é verdade? O que importa? O Coringa de Curitiba deve ter dado gargalhadas.
Outro fator importante da carta de Paulo é a sua Lua em Escorpião. É a mesma coisa que dizer: Até a morte, tudo é vida (Cervantes). Isso me dá um arrepio. E respeito. Essa posição sugere alguém que é tomado pela paixão, pelo abismo, pela força dos instintos ou do sexo, fazendo com que a morte e o sentimento de destino batendo à porta sejam uma constante. Leminski perdeu o seu primeiro filho, Miguel, quando este tinha 10 anos. Como também o seu irmão, que cometeu suicídio. Mas mudando de assunto, quando se cruza o mapa de Curitiba com o do Leminski, achamos pistas de como foi este caso de amor.
Curitiba tem Lua em Capricórnio. O que quer dizer isso? Lua é o coração emocional, no caso aqui, de uma cidade. São os sentimentos mais íntimos de alguém. Capricórnio é o signo do medo, da solidão, da necessidade de estabelecer distância. Em duras palavras: representa o medo do contato, a fobia, a depressão, a sólida solidão. Como também representa o gosto por desertos ou por tudo que tem estrutura e tradição para aguentar mil invernos. É a mãe madrasta. Essa Lua e mais Plutão - o Deus das Crises - posicionado na casa da comunicação, entre outras coisas, faz com que Curitiba resista a falar e assim evite mudanças. Enfim, sabe Saturno comendo seus próprios filhos por medo da mudança? Saturno - o Senhor do Anel, rege Capricórnio. Então agora imagina essa cidade naturalmente silenciosa como pedra para a alma de um Saci? Vai ser um prato cheio (risos). Você pode achar que eu estou exagerando. Que Curitiba não é tão fria. Que não há na cidade este desejo de morte representada pela boca calada do curitibano etc etc etc. É claro que não é mais tão quieta assim. Mas me diga aí, porque aqui há um monte de artistas suicidas? Como, por exemplo, Raul Cruz, Marcos Prado, o nosso João Baptista de Pilar, e o próprio Leminski? Em Curitiba não há filhos artistas com o sorriso simpático do paulista Paulinho Moska ou o balanço da carioca Fernanda Abreu? Por quê? Alguém pode me dizer? Curitiba sorri, mas não gargalha, meu caro!
Na carta astrológica há um elemento chamado Meio do Céu, que é significador da meta a alcançar de um mapa em questão. No Meio do Céu do mapa de Curitiba há o signo de Peixes, significador da necessidade de diluir limites, de dar um porre na censura, da precisa e preciosa fusão de elementos sem saber onde isso vai dar. Sabe alemã casando com anarquista italiano? Ou cruza de Santa Felicidade com Boqueirão ? Pois é, talvez só fazendo a função de Peixes, que é de se misturar e assim provocar outras sínteses para que possamos não nos sentir sós com a solidão que a Lua em Capricórnio representa. E veja só: Leminski tem Ascendente em Peixes. Portanto, alinhava-se como ninguém ao projeto da cidade e acabou fazendo de uma maneira ou outra essa função. O que estou querendo dizer é que determinadas pessoas em sua comunidade podem representar, sem saber, antes que qualquer um se aperceba, a direção para a qual o coletivo se encaminha a passos lentos. Mas como Leminski fez isso? Primeiro, por recusar o pacto de silêncio que a cidade teima em fazer. Isso a gente vê tanto na sua reflexão sobre a cultura que aqui se produziu quanto o transitar de sua literatura por todas as etnias e tempos. Na sua obra, vemos o Japão, a Polônia, os ingleses, os irlandeses, os gregos, os americanos, os russos, enfim, Curitiba e mais o mundo todo num mesmo e eterno carnaval. Até a sua própria linguagem, que ele bebia de outros códigos para ser uma outra terceira coisa, é um fruto do processo pisciano. Prosa poética. Romance-idéia. Hai-Tropikai. É Júpiter destronando Saturno e dividindo o imaginário entre Netuno - o Deus da Poesia Romântica, Plutão - O Deus Destruidor de Estruturas Falsas, e ele próprio, Júpiter-Zeus - Deus do Olimpo e de Inúmeros Filhos Espalhados Por Todo o Mundo.
Em outras palavras, a meta de Peixes é a metamorfose. Metaformose. Metamoforse. Nada mais justo para quem já veio de uma mistura de raízes portuguesas, polacas e negras. Enfim, coisa de Saci.
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