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PRÁTICA PROFISSIONAL
Astrólogo: nem mago, nem pajé

Divani Mogames Terçarolli


Em três artigos curtos, a autora, astróloga em São Paulo, levanta pontos éticos e filosóficos importantes sobre o exercício da Astrologia, como a questão do destino e do livre arbítrio, a responsabilidade profissional do astrólogo e o papel deste como facilitador do processo de aconselhamento.

Liberdade ou Fatalidade?

Durante séculos, a humanidade acreditou que o único jeito de escapar do Destino era deixar de se identificar com a vida material e identificar-se com a vida espiritual. As doutrinas do oriente também preconizavam que essa era a única maneira de se libertar da Roda das Reencarnações e do Karma. Afinal, o Destino estava irremediavelmente atado ao destino do corpo, à hereditariedade e à condição social familiar. Foi apenas a partir da Renascença que isso começou a mudar. Obras da antigüidade clássica foram traduzidas, entre elas textos gnósticos e herméticos que descreviam o homem como um grande milagre, uma criatura digna de adoração e de honra, participante da natureza de Deus. Não um mero joguete da Vontade Divina. Ele também era divino, e, reforçando sua identidade divina, seria possível libertar-se das garras do Destino. Os níveis onde o Destino poderia se manifestar estariam intimamente relacionados à atitude interna da pessoa e ao seu relacionamento, ou não, com o mundo divino: o mundo espiritual, arquetípico, o imaginário. Os planetas no mapa natal, nessa nova ótica, não eram apenas corpos físicos no espaço mas também símbolos, imagens, dentro do mundo psíquico do homem. Essas imagens planetárias seriam a ponte entre os mundos, através da qual seria possível unir o que está embaixo com o que está em cima. A criação de imagens ou símbolos é uma operação humana, e no símbolo, finalmente, estava a liberdade. Trabalhar com esse material, criar novas conexões, construiria o elo de ligação entre Deus e sua criação, entre as idéias, e sua manifestação física, entre liberdade e fatalidade.

Segundo o mestre hindu Yogananda:

Sorte, Karma, Destino, chamem-lhe o que quiserem; existe uma lei de justiça que de algum modo, mas não por acaso, determina a nossa raça, a nossa estrutura física e algumas de nossas características mentais e emocionais. O importante é compreender que, se não podemos fugir ao nosso modelo básico, podemos agir em conformidade com ele - e, assim, sermos livres. Quanto mais profunda for a autocompreensão de um homem, mais ele influenciará todo o Universo e menos será afetado pelo fluxo dos fenômenos (Karma).

O Sol é um símbolo do espírito, da consciência e da vontade, associado ao Ego (personalidade), mas também ao Self (individualidade). Tem a ver com o conceito de livre arbítrio que significa - "eu julgo o que me é conveniente". Carl G. Jung definiu livre arbítrio como "a capacidade de fazer de boa vontade o que se precisa fazer". Isso implica a descoberta de um significado, que faz com que o destino pareça certo, como se a própria pessoa o tivesse escolhido. A consciência é o fiel da balança onde se equilibram fatalidade e liberdade pois, de acordo com ela, podemos entender o significado das experiências e colaborar com elas. Devemos trabalhá-la em conformidade com o nosso Sol natal.

Se as previsões dos astrólogos de antigamente nos parecem mais precisas (e fatalistas) do que hoje em dia é porque, antigamente, as pessoas não tinham muitas opções na vida, estavam atadas às condições herdadas pelo nascimento, presas ao seu destino familiar. Os símbolos astrológicos refletiam essa imobilidade, seu simbolismo era muito mais pobre, portanto a interpretação era simplificada.

A elevação do estado de consciência da humanidade e a complexidade da vida moderna acrescentaram milhares de novos significados aos símbolos astrológicos. Assim, quanto mais o homem buscar o autoconhecimento, quanto mais ele desenvolver seu sentido de Self, mais ele se libertará dos efeitos do Karma, Destino etc. Essa constatação sugere, talvez, que Liberdade ou Fatalidade sejam apenas uma questão de opção.

Dos velhos tempos ao moderno enfoque, uma grande mudança: o astrólogo não se coloca mais como um guru com poderes sobrenaturais, pois a consulta astrológica não é uma exibição de poder.

Astrologia e responsabilidade

Apesar da crescente aceitação da Astrologia, ainda há muito preconceito contra o qual temos que lutar se quisermos trabalhar como astrólogos. Quantos já viram um sorriso irônico no rosto de um parente ou amigo, quando revelaram seu interesse pela Astrologia? Isso se deve à ignorância, pois o contato que a maioria das pessoas tem com a Astrologia é através das colunas de horóscopos dos jornais. É nosso dever, enquanto estudantes ou profissionais, ajudar a combater o preconceito e tentar educar o público para que obtenha uma visão mais realista acerca da Astrologia. Isso não é coisa que se consiga da noite para o dia, mas temos que assumir nossa parcela de responsabilidade nessa luta.

É preciso bom senso e responsabilidade acima da média, para trabalhar como astrólogo. Especialmente quando se sabe que o principal propósito da Astrologia é ajudar as pessoas a realizarem seu potencial de desenvolvimento individual, e a aceitarem a si mesmas e aos outros, melhorando seus relacionamentos pessoais, profissionais e sociais. Para desempenhar essa tarefa, o astrólogo tem de ter responsabilidade moral, muito conhecimento e autoconfiança. Tem que fazer um trabalho de qualidade, sério, prático e honesto. Tem que usar a Astrologia para beneficiar o homem, e não para seu auto-engrandecimento. Infelizmente não é essa a imagem que a maioria dos astrólogos projeta... O arquétipo de mago paira sobre o astrólogo, assim como o arquétipo de pajé paira sobre o médico, e muitos profissionais se deixam fascinar por esse poder, causando danos psicológicos irreparáveis aos seus pobres clientes. Os astrólogos costumam encarnar vários personagens: há os especialistas em interpretações negativas; os que tentam enquadrar todos os clientes em algum tipo de diagnóstico psicológico; os medrosos, que acham que somos meros joguetes das forças cósmicas; os que querem agradar, dizendo só coisas agradáveis; os mal-intencionados, que querem manipular ou programar a vida dos clientes, e os completamente incompetentes, que possuem apenas conhecimentos superficiais de Astrologia (e são os mais destrutivos de todos).

O astrólogo é antes de tudo um ser humano comum, a quem as pessoas procuram em busca de ajuda, orientação e esclarecimento. Ele é um conselheiro ou consultor, e a Astrologia funciona como o instrumento facilitador desse aconselhamento.

Ele não é um guru nem tem poderes sobrenaturais, pois a consulta astrológica não é uma exibição de poder. Quanto mais informações o astrólogo dispuser sobre o cliente, mais eficiente e enriquecedora será a consulta.

O objetivo da consulta astrológica é ajudar a pessoa a reconhecer sua participação nos ciclos e eventos cósmicos e a ter uma perspectiva mais realista acerca de si mesma e das suas relações com o mundo exterior; a identificar um sentido, um significado, e obter uma maior consciência acerca das situações que ela está vivendo.

O astrólogo responsável é humilde, não se envaidece de seus acertos nem dos clientes que atende, mantendo sigilo absoluto sobre sua identidade e o teor da consulta. Ele sabe que todos os méritos pertencem à Astrologia, da qual é apenas um intérprete.

O astrólogo responsável sabe que o contato pessoal com o cliente é imprescindível para saber como ele está vivenciando o potencial mostrado pelo mapa.

O astrólogo responsável crê que os astros inclinam mas não obrigam e que o homem sábio governa suas estrelas, pois Deus dotou o ser humano do livre arbítrio, para dispor de sua vida como bem quiser.

Reflexões sobre destino e livre arbítrio


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