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UM
ASTRÓLOGO NO ROCK IN RIO
Os
Planetas do metal pesado
De 12 de abril de 1954, quando Bill Haley and His Comets lançaram Rock Around the Clock, até 12 de janeiro de 2001, quando a Cidade do Rock abriu os portões para o Rock in Rio 3, muitos trânsitos de Saturno rolaram nos céus. Saturno? Sim, porque o rock é filho de uma reação saturnina contra os excessos da sociedade jupiteriana. Eram 19h (horário de verão) da sexta-feira, 12 de janeiro de 2001, quando o anúncio dos três minutos de silêncio pela paz calou (em parte) a multidão de 60 mil pessoas e marcou a abertura oficial da programação do Rock in Rio 3. O mapa daquele momento apresenta um Ascendente em 12°51' de Câncer, o que faz da Lua o planeta regente do evento. A Lua é uma significadora natural das flutuações da massa, da mutabilidade da opinião pública, da inconstância das emoções coletivas e de acontecimentos que evoluem com ligeireza. Bem de acordo com a natureza dessa megaprodução da indústria cultural, que passou no liquidificador todas as tendências históricas do rock e ofereceu ao público um produto devidamente pasteurizado para consumo.
Todavia, a festa começara bem mais cedo naquele dia: os portões foram abertos exatamente às 13h40 da tarde, já com um atraso de 40 minutos em relação ao horário inicialmente previsto. Enquanto a multidão se comprimia nas roletas, uma solitária banda de rock apresentava-se para quase ninguém na Tenda Brasil, um dos vários palcos secundários em que se desdobrou o Rock in Rio. Às 13h40, o Ascendente estava em 1°02' de Touro, o que tornaria Vênus a verdadeira regente do espetáculo. O conflito entre os mapas das aberturas real e oficial aparece, aliás, tematizado na oposição Lua-Vênus, presente em ambos, sendo a Lua ocupante do crítico e seletivo signo de Virgem, enquanto Vênus apresenta-se no inclusivo e dissolvente Peixes. O sucesso do evento, em termos de afluência de público e da relativa segurança em que transcorreu, é garantido por dois aspectos: o Grande Trígono formado por Vênus exaltada em Peixes, Marte domiciliado em Escorpião e o Nodo Norte em Câncer, no Ascendente da abertura oficial; e o trígono de Júpiter em Gêmeos a seu dispositor, Mercúrio, exaltado em Aquário e em conjunção com Netuno. Mas trígonos não são a essência do rock. Este gênero musical - e o conjunto de atitudes e valores a ele relacionados - tem muito mais a ver com a aspereza de uma quadratura.
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